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Marechal Covid-19

Médicos rondonenses opinam sobre a telemedicina; confira

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(Foto: Montagem/OP)

Mesmo sendo um dos capítulos mais recentes da história da Medicina, a telemedicina está em franca expansão no mundo. No Brasil, ainda é revestida de polêmica.

De um lado, profissionais afirmam que a telemedicina aceleraria o atendimento e permitiria que um médico consultasse os colegas para pedir uma segunda opinião ou para fechar o diagnóstico de um caso mais complexo, possibilitando a aproximação do médico com o paciente, especialmente daqueles que não vivem nos grandes centros. De outro, os que reclamam da insegurança quanto aos dados e da pouca qualidade que uma teleconsulta teria, a distância, sem o contato físico.

Após o Conselho Federal de Medicina (CFM) lançar, em 2019, uma resolução para disciplinar as diversas práticas, pediu um tempo para reestudar o assunto. Todavia, a crise no setor de saúde motivada pelo novo coronavírus fez, meses depois, a telemedicina voltar à cena.

Diante da pandemia, o CFM reconheceu o uso dos telesserviços de forma excepcional no momento e o Ministério da Saúde regulamentou o atendimento médico via internet.

A prática é vista nesse momento de crise como uma forma de evitar que as pessoas saiam de casa e lotem pronto socorros, emergências e hospitais atrás de respostas que podem ser dadas de forma simples pelo celular.

No Paraná, o Telemedicina Paraná completou na semana passada 2.395 atendimentos, auxiliando nas medidas de enfrentamento e prevenção à Covid-19 adotadas pelo Governo do Estado. O serviço de atendimento de saúde on-line pode ser acessado de qualquer localidade paranaense pelo site ou pelo aplicativo Telemedicina Paraná, disponível para os sistemas Android e IOS.

Assim como tudo o que é novo, a prática ainda causa estranhamento em algumas pessoas, tendo suas vantagens e desvantagens apontadas por muitos profissionais. A reportagem de O Presente ouviu a opinião de médicos de Marechal Cândido Rondon a respeito do assunto. Confira.

 

José Lademir Friedrich, pediatra

(Foto: O Presente)

“A telemedicina, para mim, é um caminho sem volta. Fará parte do dia a dia da Medicina, e espero que seja algo para agregar na nossa profissão. Na prática a telemedicina já existe na pediatria, principalmente pelos atendimentos via WhatsApp. O que a prática precisa é uma regulamentação muito séria. Ela tem que envolver a classe médica, os planos de saúde, os aspectos jurídicos e legais. Também acho que a telemedicina deve ser uma exceção nos atendimentos, como ela está sendo muito usada agora durante a pandemia de Covid-19. A telemedicina não pode substituir a consulta presencial. Na pediatria ela já é muito útil no dia a dia, na orientação sobre a introdução de alimentos, sobre a vacinação, o aleitamento materno. Não só agora, mas como no dia a dia ela serve muito como triagem para que a mãe saiba como proceder em caso de a criança estar com alguma doença, se ela vai ter que levar seu filho no hospital, em uma urgência, ou qual a medicação que ela pode utilizar para que ela possa esperar para ser atendida em um ambulatório no dia seguinte”.

 

Thiago Lemos Ribeiro da Silva, psiquiatra

(Foto: O Presente)

“A consulta presencial é indispensável em grande parte dos casos de sofrimento mental. Quando avaliamos um paciente utilizamos de uma série de observações na fala, apresentação, movimentação e reação da pessoa. No consultório temos o controle do ambiente. Cada detalhe conta. Através de uma videochamada também fazemos isso, mas de forma muito limitada. O ‘timing’ das reações emocionais também é importante e, por melhor que seja a qualidade da internet usada, há um sempre ‘delay’ na conversa, que torna a avaliação difícil, quando não impossível. A conexão humana, fundamental em uma consulta psiquiátrica, também fica muito aquém do que se consegue pessoalmente. Entretanto, excepcionalmente, a teleconsulta é um ‘remendo’ que por vezes pode ser necessário. É preciso avaliar caso a caso. E, apesar do consentimento temporário pelas entidades regulatórias, ainda há muito para ser normatizado e estruturado”.

 

Toshio Yoshioka, pediatra

(Foto: O Presente)

“O uso da telemedicina foi iniciado de uma forma importante, para fazer uma triagem e facilitar plantões, consultórios, algumas urgências fora de hora que podem ser resolvidas, algumas dúvidas. Na pediatria tem seus prós e contras. Em relação à pandemia, facilitou para os pacientes, porque muitos deles não querem ir no consultório, por terem medo devido ao isolamento. Então, nesses tempos de coronavírus, ajudou muito, tanto que em Marechal Cândido Rondon os planos de saúde também têm a telemedicina. Isso facilita para os pacientes porque alguns questionamentos são coisas mais simples, podem ser resolvidos pela telemedicina. Para a pediatria, nessa época, foi uma solução muito boa. Porém, em cidades muito grandes, pela telemedicina os médicos conversam com pessoas que as vezes não conhecem, então em relação a esse aspecto eu não sei se realmente funciona, porque o médico geralmente tem que ver para crer. Se você não está vendo o paciente nem sempre está fazendo uma boa triagem. Para nós, na pediatria, na nossa cidade, geralmente já conhecemos o paciente, e isso ajuda muito, porque o médico pode orientar, pode tirar a ansiedade dos pais. Eu vejo a telemedicina como uma grande evolução, porque em tudo hoje a internet é fundamental. Vai muito do bom senso do paciente que ligar, saber explicar o que está sentindo para o médico. Vai do bom senso do médico em fazer uma boa triagem, saber se realmente dá para orientar pelo telefone ou se é necessário ir para o hospital. Na pediatria, sem dúvida, eu acho que a telemedicina funciona. Com certeza é uma coisa que veio para ficar”.

 

Bruno Rigon, neurologista

(Foto: O Presente)

“Diante do momento que estamos vivendo, que é um momento de crise, que temos a questão do coronavírus, de restrição de circulação e falta de acesso, a telemedicina é importante. Eu não vejo ela como uma possibilidade de substituir a consulta presencial. Dentro da minha especialidade, dependemos muito do contato com o paciente. Eu preciso sentar e fazer o exame físico. Até a Sociedade Brasileira de Neurologia emitiu um parecer dizendo o que é possível e o que não é possível fazer no exame físico por telemedicina, sem tocar o paciente, pedindo que ele sozinho faça algumas manobras em casa. Eles classificaram como possível, difícil e improvável de se fazer. Tem várias manobras e testes que são improváveis de se fazer. Como uma triagem, como uma avaliação inicial, eu acho que nesse momento de crise é bastante importante, porque nós tiramos os pacientes do pronto socorro, local onde ele tem um risco maior de se contaminar. Todavia, acho que não resolve o problema; posterga a necessidade de uma consulta, equilibrando as coisas. De momento serve, mas não trata e não resolve para o paciente. Há também a questão da normativa que saiu, que nós podemos prescrever a distância. O site do Conselho Regional de Medicina disponibilizou uma plataforma para fazermos prescrição, mas eu acho que nós não estamos nesse ponto de evolução. No momento que vivemos ainda não conseguimos fazer a substituição da consulta física. Talvez em um futuro, não sabemos, mas no momento eu acho que precisamos do exame físico. Se não fizermos o exame físico, iremos migrar para o exame complementar. Olhando principalmente para a questão do exame físico eu acho que a telemedicina tem algumas limitações e essa é a grande dificuldade dela hoje, apesar de nesse momento de crise ela ser extremamente importante”.

 

Adriano Tagarra, cirurgião do aparelho digestivo

(Foto: Divulgação)

“Toda a parte de tecnologia e a internet vieram para ficar e são ferramentas de muita utilidade nos dias de hoje, e eu acho que temos que valorizar essa evolução que está acontecendo. Na verdade o coronavírus vem para revolucionar esse atendimento, tanto da parte médica quanto de todas as áreas, e a telemedicina é mais uma ferramenta para isso. Em contrapartida, eu, como médico e plantonista em hospital, acho que a parte da anamnese e o exame físico são de fundamental importância para descartar e caracterizar diversas patologias. Na minha área eu necessito da palpação do abdome do paciente e do exame físico bem feito, bem como ausculta pulmonar e cardíaca, além do toque que você tem que ter no paciente, para identificar alguma alteração nele. A telemedicina não permite que você faça um exame físico detalhado no paciente, e muitas vezes esse exame físico é que vai definir um procedimento ou que tipo de avaliação você ainda irá necessitar. Na minha área, então, a telemedicina serve mais como orientação para realizar um encaminhamento ou algo nesse sentido, mas a parte de doenças mais graves ou situações em que precisam de uma avaliação para indicar um procedimento cirúrgico acredito que há a necessidade dessa parte hospitalar, e consultas e exames ainda são de fundamental importância”.

 

Cristina Costa Parreira, pneumopediatra

(Foto: João Livi/OP)

“A telemedicina é um meio que atualmente visa diminuir a situação crítica que estamos percorrendo perante a pandemia de Covid-19 que assola o mundo. O Ministério da Saúde, juntamente com o Conselho Federal de Medicina, reconheceram a possibilidade e a eticidade da utilização do teleatendimento para execução do acompanhamento dos pacientes em regime de atenção domiciliar temporariamente. O método foi necessário e preciso nesse momento. Na minha área, como pediatra e pneumopediatra, conseguimos fazer algumas orientações de puericultura e pacientes crônicos, como receitas, atestados, pedidos de exames por teleconferência, sem que o paciente abandone o isolamento social, com um respaldo legal. E nesse mesmo contexto, fazemos uma triagem do que é preciso ser examinado, sendo necessário uma consulta presencial. Ainda estamos fazendo um trabalho muito superficial, pois o processo regulatório técnico/jurídico ainda precisa evoluir junto. Mas, na minha formação, a relação médico-paciente presencial é insubstituível para um diagnóstico mais preciso. Portanto, a telemedicina é um meio emergencial, mas não substitui a consulta presencial para a prática de uma medicina exemplar”.

 

Malka Sokol, ginecologista

(Foto: Divulgação)

“A telemedicina se apresenta como uma grande aliada para auxiliar no atendimento, sem expor as pacientes a um risco desnecessário, auxiliando através da consulta on-line a repassar orientações, prescrições e encaminhando para consulta presencial sempre que for necessário. Neste momento de distanciamento social, gestantes e puérperas são consideradas de grupo de risco. As pacientes se sentem seguras quando há agilidade no atendimento, e a telemedicina ajuda a preservar a saúde, justamente daqueles do grupo de risco. Contudo, a prática é somente um meio auxiliar, em nenhum momento vai substituir a consulta presencial”.

 

Darlan Parreira, cirurgião do aparelho digestivo

(Foto: João Livi/OP)

“A pandemia de Covid-19 vem desafiando a comunidade médica em várias frentes. Uma delas foi a implantação da telemedicina, de forma absolutamente provisória e abrupta, regulamentada pela portaria 467/2020 do Ministério da Saúde. Não restam dúvidas que qualquer tecnologia que minimize ou evite o contato social, no momento oportuno, é bem-vinda e devemos nos adaptar com celeridade. Não esqueçamos dos limites e finalidades desse tipo de atendimento, e que a autonomia do médico deve ser sempre respeitada. Uma das diretrizes da World Medical Association (WMA) sobre telemedicina expressa sua total discordância a respeito de quaisquer mecanismos que, a pretexto da tecnologia existente, objetivam meramente substituir a relação médico-paciente, principalmente nas fases iniciais de diagnóstico. Afirma: isso não é telemedicina. Isso não representa melhorias reais na qualidade da medicina. E, pior, coloca os pacientes em situação de vulnerabilidade, pois sacrifica o exame clínico presencial. Na atual conjuntura, temos que ser cautelosos no manejo desses pacientes, uma vez que a relação médico-paciente e exame clínico não podem ser preteridos. Na minha especialidade de cirurgia é imprescindível o atendimento completo e exame físico, haja vista que decisões terapêuticas frequentemente dependem de uma simples palpação abdominal”.

 

O Presente

 

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