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Marechal Mudanças na educação

O que esperar do Novo Ensino Médio? Professores e diretores rondonenses opinam; confira

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Implantação do NEM é gradativa e em 2022 abrange apenas o 1º ano do Ensino Médio (Foto: Bruno de Souza/OP)

A rede estadual de educação iniciou há 11 dias o ano letivo de 2022 e para parte da comunidade escolar as aulas começaram de um jeito diferente.

A incorporação do Novo Ensino Médio (NEM) nas redes de ensino trouxe mudanças na educação paranaense, dentre as quais se destacam são a nova carga horária, o currículo e a prática docente. “O Novo Ensino Médio foi instituído por uma lei federal que os Estados tiveram que se adequar. A expectativa para seu andamento é muito boa. Acreditamos que, podendo escolher a área de conhecimento conforme sua aptidão, o estudante estará mais preparado para enfrentar os desafios pós-escola”, avalia o chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Toledo, José Carlos Guimarães.

Segundo ele, a implantação do NEM é gradativa e em 2022 abrange apenas o 1º ano do Ensino Médio. “Atende 4.330 alunos, 135 turmas e 53 colégios. Nas demais séries será implantado em 2023 e 2024”, menciona.

 

Adequação

Para possibilitar o novo modelo, os colégios precisaram se adequar de acordo com suas estruturas físicas, sendo que instituições que tinham salas ociosas estão promovendo aulas no contraturno e outras estão fazendo o sexto horário. “É uma situação nova para os gestores de escolas e para nós, enquanto NRE. Toda situação nova exige ajuste e demanda por aprendizagem. Muitas vezes, o novo causa desconforto, não porque é ruim, mas porque exige mudanças. Em nível de corpo docente e funcionários o ajuste é automático”, pontua.

Tido como um instrumento para impedir a evasão escolar, ainda não se sabe se o NEM de fato terá êxito neste sentido. “Há inovações, mas é preciso mais tempo de funcionamento para avaliar. Mas a expectativa, sim, é positiva”, expõe.

Guimarães diz que o modelo tradicional já não é tão atrativo para o aluno e que inovações são necessárias. “Se a escola for atrativa o aluno permanecerá mais tempo estudando”, considera.

A reportagem de O Presente conversou com diretores e professores que fizeram curso junto à Secretaria de Estado de Educação (Seed) sobre o novo modelo de ensino para que expusessem suas opiniões sobre o NEM, avaliassem as mudanças e abordassem a relação entre professor e aluno. Confira os depoimentos.

Chefe do Núcleo Regional de Educação, José Carlos Guimarães: “É uma situação nova para os gestores de escolas e para nós, enquanto NRE. Toda situação nova exige ajuste e demanda por aprendizagem. Muitas vezes o novo causa desconforto, não porque é ruim, mas porque exige mudanças” (Foto: Divulgação)

 

Professora do Colégio Cívico-Militar Marechal Rondon, Scheila Specht

“O currículo que era ofertado por disciplinas com conteúdos específicos passará a ser por componentes curriculares organizados por áreas do conhecimento. Assim, o trabalho do professor, que era distribuído por disciplinas, será por componentes curriculares, de acordo com a sua formação. Conforme a Formação Geral Básica (FGB), alunos do 1º ano serão contemplados os componentes curriculares das áreas do conhecimento, sendo que a partir do 2º ano os estudantes paranaenses escolherão entre dois itinerários formativos(IFs), conforme sua área de interesse: IF de Linguagens e Ciências Humanas, IF de Ciências da Natureza e Matemática ou IF de Educação Profissional, que poderão ser ofertados conforme solicitação perante aos NRE’s, por escolas com pelo menos três turmas de 1ª série do Ensino Médio. Para a implementação do Novo Ensino Médio paranaense, a Seed vem disponibilizando vídeos informativos para os alunos desde 2021, detalhando sobre as mudanças e proporcionando diferentes formações aos docentes de toda a rede. No decorrer de 2021 nos reunimos nas instituições de ensino para analisar os materiais e participar de oficinas de escuta referente aos componentes curriculares, tendo em vista a necessidade de construção de um novo currículo para o Ensino Médio. Recebemos formações presenciais para pelo menos um professor de cada colégio estadual e pela web, disponibilizadas no Canal do Professor no YouTube. Neste ano recebemos materiais para serem abordados nos dias de estudo e planejamento, e a Seed pretende ampliar a formação presencial para professores. Docentes dos novos componentes curriculares, como Projeto de Vida, que, dentre outras coisas, auxiliará os estudantes na escolha do IF, receberão formação pela Secretaria, e empresas parceiras, como a Alura, capacitarão os docentes do componente Pensamento Computacional”, detalhou.

Professora do Colégio Cívico-Militar Marechal Rondon, Scheila Specht: “O currículo que era ofertado por disciplinas com conteúdos específicos passará a ser por componentes curriculares organizados por áreas do conhecimento. Assim, o trabalho do professor, que era distribuído por disciplinas, será por componentes curriculares, de acordo com a sua formação” (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

Professora do Colégio Monteiro Lobato, Daniele Andrade

“Para o estudante, acredito que a principal vantagem está no fato dele poder escolher um itinerário formativo que mais dialogue com seu projeto de vida. No entanto, a possibilidade de escolha fica comprometida nos municípios que contam com um colégio apenas. O modelo conta com o componente obrigatório de Projeto de Vida, que visa o desenvolvimento das competências socioemocionais. Com o apoio do professor, o estudante será instigado a refletir sobre a necessidade de construir um projeto futuro que considere suas ações e relações interpessoais e anseios profissionais. Dessa forma, a aposta para que haja uma redução da evasão escolar é grande, à medida que o estudante consiga alinhar seu projeto de vida com aquilo que ele está aprendendo no dia a dia da escola. No entanto, em relação à evasão escolar, é importante apontar para outros fatores que independem do modelo de ensino adotado. Fatores econômicos, como a diminuição do poder aquisitivo do trabalhador, pesam muito para o aumento dos índices de evasão escolar, pois impõem a muitos jovens a necessidade de trabalhar para ajudar na renda familiar. Muitos desistem por não conseguirem conciliar educação e trabalho. Enquanto profissional da educação, percebo que a evasão escolar também está associada às desigualdades sociais e econômicas e que estas desigualdades produzem e contribuem para as desigualdades educacionais e consequentemente para o aumento da evasão escolar. Sendo assim, acredito que resolver os problemas educacionais implica também repensar questões sociais e, até mesmo, culturais. Devido à ampliação da carga horária, a implantação prevê uma série de mudanças e desafios, como a organização do espaço físico nas escolas, a logística dos estudantes e a organização das horas-atividades dos professores, cujos componentes integram uma mesma área do conhecimento. As mudanças no currículo demandam, principalmente, uma nova dinâmica de trabalho. O planejamento deverá focar prioritariamente em dois princípios pedagógicos: a interdisciplinaridade e a contextualização. É um grande desafio para nós, professores, pois viabilizar tais princípios requer tempo de estudo, planejamento e diálogo constante entre o corpo docente, principalmente entre aqueles que compõem uma mesma área do conhecimento. Além disso, caberá ao professor adotar estratégias e metodologias que estimulem o protagonismo do estudante, uma vez que ele deverá estar no centro do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, outro grande desafio será o de incutir no estudante a necessidade dele exercer um papel ainda mais ativo a fim de que possa se apropriar das competências e habilidades previstas”, enfatiza.

Professora do Colégio Monteiro Lobato, Daniele Andrade: As mudanças no currículo demandam, principalmente, uma nova dinâmica de trabalho. O planejamento deverá focar prioritariamente em dois princípios pedagógicos: a interdisciplinaridade e a contextualização. É um grande desafio para nós, professores, pois viabilizar tais princípios requer tempo de estudo, planejamento e diálogo constante entre o corpo docente, principalmente entre aqueles que compõem uma mesma área do conhecimento (Foto: Divulgação)

 

Diretora do Colégio Estadual Paulo Freire, Ana Regina Schueigerti

“As mudanças vêm para transformar. E a expectativa é de que este ano essa mudança traga mais conhecimento, tanto para os alunos quanto para toda a equipe pedagógica, que envolve professores e equipe de direção. As vantagens do NEM são o crescimento pessoal e o avanço da educação no rumo da transformação do mundo. As desvantagens são estarmos em um momento único, uma pandemia que dificulta tudo, e outro, também ligado a esse primeiro, a urgência de transformação tecnológica dentro das escolas, que estão muito atrasadas no quesito instrumentalização. O novo Ensino Médio é uma tentativa que deveria estar em ajuste há muitos anos para ser implantado, porém, muitas coisas só funcionam na força da lei. Portanto, para iniciar foi necessário colocar uma data improrrogável: 2022. É uma tentativa de mudança, mas num cenário onde o valor de complementação de renda e a falta de perspectiva de futuro é muito presente. É desafiador fazer os adolescentes pensarem em um futuro não imediato. Nesse novo modelo, as relações entre aluno e professor precisam mudar. O que muda na prática é a prática. Se não houver mudança da prática docente, da forma de ensinar e do envolvimento dos alunos, não acontece a transformação. Os professores vêm buscando muito aprendizado nesses dois anos e já vejo um início de mudança, mas ainda temos muito caminho a percorrer”, considera.

Diretora do Colégio Estadual Paulo Freire, Ana Regina Schueigerti: “Se não houver mudança da prática docente, da forma de ensinar e do envolvimento dos alunos, não acontece a transformação. Os professores vêm buscando muito aprendizado nesses dois anos e já vejo um início de mudança, mas ainda temos muito caminho a percorrer” (Foto: Divulgação)

 

Diretora do Colégio Cívico-Militar Marechal Rondon, Daniele Eckert

“O Novo Ensino Médio está mais conectado com os interesses dos estudantes, evidenciando-os como protagonistas da aprendizagem. As mudanças são estabelecidas pela lei federal nº 13.415/2017 e são obrigatórias para todas as redes de ensino. Na nova proposta, o currículo passa a ser composto por duas etapas de formação: a Formação Geral Básica e os itinerários formativos, que serão de livre escolha do estudante. O itinerário será ofertado em toda a rede de ensino e os cursos técnicos em algumas instituições. Ambos, o FGB e os IFs, buscam desenvolver as dimensões física, intelectual, cultural, social e emocional, estimulando a autonomia e o protagonismo do estudante, para a construção de um projeto de vida e a realização de escolhas pessoais e profissionais. No Colégio Estadual Cívico-Militar Marechal Rondon entendemos como uma grande vantagem a autonomia do estudante, o poder de escolha do que irá estudar conforme sua área de interesse, o aumento da carga horária e os novos componentes curriculares. São diariamente seis aulas e para a nossa instituição já era algo ofertado, por isso não houve tanto impacto em relação à carga horária. A proposta visa a superação dos resultados e a presença constante do estudante na escola, com o enfoque da aprendizagem mais significativa à preparação para o mercado de trabalho e para a vida”, ressalta.

Diretora do Colégio Cívico-Militar Marechal Rondon, Daniele Eckert: “No Colégio Estadual Cívico-Militar Marechal Rondon entendemos como uma grande vantagem a autonomia do estudante, o poder de escolha do que irá estudar conforme sua área de interesse, o aumento da carga horária e os novos componentes curriculares” (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

O que mudou?

O novo sistema aumenta a carga horária mínima do estudante, que passa de 800 para mil horas anuais, chegando a três mil horas na conclusão do Ensino Médio. Dessa maneira, os turnos passam de quatro para cinco horas diárias.

 

Formação Geral Básica

Sessenta por cento da carga horária total do NEM (1,8 mil horas) diz respeito à Formação Geral Básica (FGB), isto é, disciplinas comuns e obrigatórias a todos conforme estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A FGB será dividida em áreas de conhecimentos nas quais os componentes curriculares são aglutinados, sendo elas: Matemática e suas Tecnologias (Matemática), Linguagens e suas Tecnologias (Arte, Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Educação Física), Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Química, Física e Biologia).

 

Itinerários Formativos

A novidade do modelo são os itinerários formativos (IFs), que contemplam 40% da carga horária total (1,2 mil horas). Os IFs podem ser organizados a partir dos áreas de conhecimentos da FGB ou, ainda, há possibilidade de ofertar formação técnica e profissionalizante. Além dos itinerários formativos, as escolas devem disponibilizar Educação Financeira, Pensamento Computacional e Projeto de Vida.

Nesse momento, o estudante precisa escolher os temas que tem mais familiaridade, considerando as opções que a instituição que frequenta tem a oferecer. A escolha dos itinerários, no entanto, acontece apenas no 2º ano do Ensino Médio.

 

O Presente

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