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Marechal Rede pública de ensino

Profissionais da Educação de Marechal Rondon e região falam dos desafios para evitar a evasão escolar em tempos de pandemia

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

A desigualdade social no Brasil, acentuada durante a pandemia do coronavírus, acendeu o sinal de alerta entre profissionais da educação a respeito de um dos indicadores do problema: a evasão escolar na rede pública de ensino.

Compreender o que está fazendo os alunos desistirem dos estudos é primordial para decidir estratégias e mitigar a ausência dos jovens nas salas de aula.

Os desafios sempre foram muitos. Desde a dificuldade para conciliar os estudos com a necessidade de trabalhar para ajudar no orçamento doméstico, a precariedade estrutural em muitas das instituições de ensino, até o desinteresse de familiares para incentivar os alunos no processo de aprendizagem.

Além destes aspectos, em tempos de pandemia, as aulas presenciais ficaram comprometidas em virtude da baixa qualidade da internet para a realização das aulas on-line, tanto nos colégios quanto em residências de alunos de menor poder aquisitivo.

Um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha aponta que cerca de quatro milhões de estudantes brasileiros, com idade entre seis e 34 anos, abandonaram os estudos em 2020, o que representa uma taxa de 8,4% de evasão escolar. Ainda de acordo com a pesquisa, os estudantes de classes sociais mais baixas lideraram os índices de abandono. A taxa foi 54% maior entre os alunos das classes D e E.

 

OESTE

Segundo a chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Toledo, Neiva Marques de Andrade Niero, a Secretaria Estadual de Educação acompanha diariamente a frequência dos estudantes em todos os colégios estaduais através do Programa Presente na Escola. “A equipe gestora tem acesso todos os dias a números que mostram qual foi a frequência em cada turma para saber quais são os estudantes mais faltosos e tomar providências rápidas em relação a isso”, expõe.

De acordo com ela, quando casos de evasão são constatados, as informações são encaminhadas através do Sistema Educacional da Rede de Proteção (Serp), que serve para preenchimento e fluxo dos encaminhamentos previstos no Caderno do Programa de Combate ao Abandono Escolar (PCAE).

Ainda segundo Neiva, a retomada das aulas no sistema semipresencial em maio deste ano foi uma necessidade, e mesmo depois do início das aulas on-line no ano passado, não foi constatado aumento na evasão escolar. “Não aumentou de maneira alguma, porque continuamos com as outras formas de ensino. Fica a critério da família se o estudante vem para o sistema presencial ou não”, justifica.

Chefe do Núcleo Regional de Educação de Toledo, Neiva Marques de Andrade Niero: “Os alunos aprendem de forma diferente, têm interesses diferentes e a escola tem procurado trabalhar a valorização daquilo que o aluno conhece melhor, e a partir daí fazer um trabalho para que ele evolua na sua aprendizagem” (Foto: Divulgação)

 

RESPONSABILIDADE

De acordo com a chefe do NRE de Toledo, a evasão escolar é um problema grave e é de responsabilidade de toda a sociedade. Inicia na família, se estende à escola, para toda a rede de proteção da criança e do adolescente e também no atendimento às famílias, pois, segundo ela, as causas podem ir além dos estudantes. “Os educadores não medem esforços para oferecer o melhor possível para motivar os alunos para que eles participem e tenham aulas de qualidade, seja em tempos de pandemia ou não”, comenta.

Neiva salienta a importância da retomada das aulas presenciais e de priorizar a saúde dos alunos e de todos os profissionais que atuam na área da educação. Conforme ela, o protocolo de biossegurança está sendo seguido e quando necessário as suspensões das aulas estão acontecendo. “Temos avaliado cada situação com bastante equilíbrio e responsabilidade. Sabemos da importância do nosso papel como educadores e da educação na vida de todos esses jovens que têm a vida toda pela frente e precisam muito da escola pública”, ressalta.

 

MOTIVOS

Uma série de fatores pode levar à evasão nas escolas públicas. Entre eles destacam-se a ineficiência ou ausência de acompanhamento por parte da família ou responsáveis. Em outro caso o adolescente deixa de frequentar as aulas porque não consegue conciliar o trabalho com os estudos, e existem também os jovens que acabam se envolvendo com drogas, principalmente maconha e álcool.

Segundo uma professora da rede estadual de ensino que preferiu não se identificar, a desestruturação familiar e a falta de comprometimento dos pais ou responsáveis na rotina escolar dos jovens são as principais causas de abandono escolar. “Tenho alunos que mandam na casa. São eles que decidem se vão ou não para a aula. Em outras situações os pais não têm a mínima preocupação em acompanhar o rendimento escolar do filho”, expõe.

O professor Carlos Alberto Seibert, da rede estadual, tem a mesma opinião em relação aos pontos que mais pesam para que os jovens parem de ir para a escola. “A evasão escolar sempre foi um problema grave que nós, educadores, enfrentamos e tentamos compreender e reverter”, destaca.

Para ele, a evasão decorre da falta ou da omissão familiar em relação ao acompanhamento escolar dos filhos. “Percebemos é que evasão escolar é decorrente de séculos de desigualdades sociais e econômicas e que estas desigualdades produzem as desigualdades educacionais e contribuem decisivamente para o aumento”, analisa.

Segundo o professor, a crise econômica e sanitária, ocorrida na pandemia, tem aumentado significativamente a situação na região. “Estão sendo forçados a escolher entre estudar e trabalhar. Isso, para mim, é o principal motivo da evasão escolar”, pontua.

De acordo com Seibert, hoje a realidade evidencia um aumento dos níveis de pobreza e de desigualdade que tenderá a permanecer na sociedade por muito tempo. “São muitos os alunos que deixaram os estudos no Estado e no país, em sua grande parte, negros e pobres”, menciona.

Professor Carlos Alberto Seibert: “Nós, educadores, clamamos por uma educação humanizadora, que respeite a diversidade cultural e social e que produza conhecimento significativo para a vida dos nossos estudantes, pautada em valores universais e democráticos” (Foto: Divulgação)

 

COMBATE À EVASÃO ESCOLAR

O professor acredita que o combate à evasão escolar parte de ações positivas em buscar fazer da escola um ambiente prazeroso para toda a comunidade. “Assim, melhoraríamos o clima escolar e garantiríamos a permanência e a aprendizagem dos estudantes”, opina.

Para Seibert, o modelo educacional atual é baseado na pedagogia empresarial e na obsessão em melhorar os índices educacionais e, segundo ele, não está produzindo resultados positivos. “Por mais esforços que nós, trabalhadores da educação, tenhamos feito para que funcione”, relata.

 

DEVER LEGAL

De acordo com a chefe do NRE, Neiva Niero, é um dever legal da família ou responsável pelo aluno acompanhar e manter o estudante em idade escolar matriculado e efetivamente frequentando as aulas. Em vista disso, ela salienta a importância do sistema de educação para que todos os estudantes estejam na escola e em condição de aprender. “Por isso é fundamental o acompanhamento realizado por nós para identificarmos os casos de evasão, para que o estudante fique o mínimo de tempo afastado, pois quanto mais tempo ele ficar longe da escola, maior será a dificuldade para retomar todo o processo”, conclui.

Caderno de registro de presença em sala de aula mostra a baixa frequência de alguns alunos no ambiente escolar rondonense (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

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