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Marechal Sobrecarga

Profissional da UPA de Marechal Rondon desabafa: “Estamos no limite. O ambiente é caótico e o trabalho se tornou insuportável”

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Um ano e dois meses após o início da pandemia do coronavírus, as longas e desgastantes jornadas de trabalho dos profissionais da saúde, que “vestiram a camisa”, ou melhor, o jaleco, e foram para linha de frente para atender pacientes com Covid-19, continuam e, ao que parece, esta intensa maratona para salvar vidas está longe do fim.

O Jornal O Presente recebeu nesta semana um desabafo de um destes profissionais que representa a classe mundo afora no combate ao coronavírus.

Segundo o relato do profissional que atua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Edgar Netzel de Marechal Cândido Rondon, a situação se tornou insustentável, diante de condições de trabalho insalubres e do elevadíssimo número de pessoas internadas na unidade com a doença. “Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, pessoal do serviços gerais, ninguém está dando conta”, expõe.

O profissional de saúde, que está tendo a identidade preservada, relatou que os profissionais que trabalham na UPA estão cansados devido à sobrecarga de trabalho, uma vez que, a unidade, segundo ele, está funcionando como UPA e, ao mesmo tempo, como um hospital, porque todos os leitos de Covid-19 ficam por conta dos plantonistas. “Chegamos a ter 20 pacientes internados aqui, e ainda que um médico fique para dar conta desses pacientes, é muita coisa só para ele. E é um médico a menos para ajudar na alta demanda de pacientes que chegam na porta com síndrome gripal”, afirma.

 

Pacientes intubados

De acordo com o profissional, nos últimos dias, seis pacientes foram intubados e na quarta-feira (02) cinco pessoas com Covid-19 estavam nesta situação na UPA. “Estamos funcionando como uma unidade de terapia intensiva (UTI). Pacientes desse tipo demandam atenção exclusiva e não temos condições de oferecer isso”, destaca.

O profissional reconhece a falta de disponibilidade de leitos de UTI na 20ª Regional de Saúde, que na terça-feira (1º) tinha 222 pacientes aguardando na fila por uma vaga e na quarta (02), 39. “Sabemos disso, mas ter que lidar com todos os pacientes clínicos internados e com esses de UTI faz todo o trabalho ficar mais pesado ainda”, ressalta.

 

Hospital de Campanha

Ele lamenta que o Hospital de Campanha, instalado junto ao Centro de Eventos de Marechal Rondon, ainda não foi colocado em funcionamento. A Secretaria de Saúde por várias vezes divulgou que abriria as portas, caso a UPA não conseguisse mais atender a demanda de pacientes com Covid-19. A unidade tem 20 leitos na ala Covid-19. Já o Hospital de Campanha dispõe de 76 leitos para atender pacientes de baixa complexidade.

“A ideia de abrir o Hospital de Campanha já foi cogitada várias vezes, em momentos que a lotação da UPA quase atingiu seu limite, mas isso nunca se concretizou. Contudo, mesmo sem atingir o limite de pacientes que a unidade comporta, a demanda de trabalho decorrente dos pacientes internados (clínicos e de cuidados intensivos), aliada à alta procura de pacientes com sintomas de gripe, tornou-se tamanha que as condições de trabalho ficaram insuportáveis. Além disso, estamos tendo que manejar pacientes com Covid-19 e pacientes com outras enfermidades nesse ambiente caótico. O risco de infecção cruzada aumenta substancialmente”, evidencia.

 

“Ninguém aqui tem preguiça de trabalhar. Estamos nos doando de todas as formas desde que começou a pandemia, mas estamos no nosso limite”

 

Soluções

O profissional faz um apelo à Secretaria Municipal de Saúde para que algo seja feito para melhorar as condições de trabalho e diminuir a demanda na UPA.

“Precisamos que abram o Hospital de Campanha para direcionar os pacientes clínicos para lá ou abrir uma unidade para atendimento das síndromes gripais e diminuir a demanda da porta da UPA”, sugere.

De acordo com ele, a elevada demanda de pessoas com sintomas de Covid-19 na UPA está prejudicando o atendimento a pacientes com outras doenças ou traumas devido a acidentes de trânsito, por exemplo. “Precisamos de um ambiente de trabalho que possamos oferecer o melhor atendimento, como sempre fizemos, a todos os pacientes, e não apenas aos pacientes com suspeita de Covid-19”.

Em seu relato, o profissional pede desculpa pelo desabafo e diz se sentir esgotado. “Choro todos os dias, vejo meus colegas na mesma situação que eu, esperando que um milagre aconteça”.

 

Apelo à população

Segundo ele, a situação é ainda mais grave por parte da população não respeitar as medidas de prevenção à doença, como o uso de máscara e o distanciamento social, o que agrava dia a dia a situação no município. “Vemos que parte da população pouco colabora com tudo o que está acontecendo. Não respeita o distanciamento, se aglomera, faz festa e não segue as recomendações do pessoal da saúde. Vivemos uma sensação eterna de que estamos aqui todos os dias nos doando para pessoas irresponsáveis”, desabafa.

O profissional apela para que a população cumpra à risca as medidas sanitárias de prevenção à doença. “O comércio parece que trava uma luta eterna conosco, como se estivéssemos lutando contra ele, como se quiséssemos que tudo permanecesse fechado, quando na verdade queremos é que tudo se normalize. Mas, para isso, precisamos que todos tenham o bom senso de cumprir o que se pede para que os números não continuem aumentando”.

 

“Choro todos os dias, vejo meus colegas na mesma situação que eu, esperando que um milagre aconteça”

 

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