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Marechal

Um ano, três safras!

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Giuliano De Luca/OP Rural

Aproveitar ao máximo o que a terra pode oferecer. É isso que faz o agricultor Marcio José Rempel, de Marechal Cândido Rondon. Desde 2003, o produtor colhe três safras ao ano, de soja, milho e trigo. A evolução genética das sementes, aliada ao clima e relevo do Oeste paranaense, possibilita que Rempel tenha três rendas e uma rotação de culturas que turbina o solo de nutrientes e palhada, fazendo uma safra render mais que a outra. O resultado da última colheita fala por si só: média de 179,8 sacas de soja por alqueire.

Os 79 alqueires a cerca de 420 metros de altitude no calor escaldante e frio moderado da região são divididos em duas partes. Em uma delas, Rempel planta soja no verão e milho no inverno. Na outra, semeava duas safras seguidas de soja e uma de trigo. No ano seguinte, ele inverte as áreas para fazer a rotação. Com a lei que entrou em vigor neste ano no Paraná, que cria o vazio sanitário para a oleaginosa entre junho e setembro, o produtor vai apostar em soja, milho na segunda safra e trigo na terceira. Faz 14 anos que faço três safras por ano. Sempre fiz duas safras de soja e uma de trigo em uma parte da propriedade e uma safra de soja e uma de milho na outra parte. No ano seguinte, invertia as áreas. Agora que não pode mais plantar soja na segunda safra, vou apostar em soja, milho e trigo, revela o produtor.

Neste ano, porém, explica o agricultor, o tempo não colaborou e a terceira safra ficou comprometida. Mas em 2018 ele garante que vai voltar a semear três vezes. Esse ano fez frio, os ciclos da soja e do milho atrasaram em 20 dias e isso inviabilizou a terceira safra. O tempo precisa colaborar para que a gente consiga plantar o trigo antes da safra de verão. Mas ano que vem vamos voltar com soja, milho e trigo, comenta.

Rempel acredita em uma boa produtividade nas três safras. De um alqueire de terra, ele espera tirar pelo menos 31,8 mil quilos de alimentos – 530 sacas. A gente depende do tempo, mas, se tudo der certo, pretendo colher pra cima de 150 sacas de soja, 250 de milho e 130 de trigo, diz. Além de fazer três safras, a soja do verão, plantada em cima da palha do trigo, rende 50 sacas a mais, emenda. A palhada do trigo, segundo o agricultor, melhora as condições do solo, gerando mais produtividade na safra seguinte.

O segredo do sucesso, garante Rempel, está na escolha de sementes adequadas e no manejo da plantação. Nunca planto a mesma variedade duas vezes no mesmo lugar porque assim a lavoura rende mais. Além disso, para conseguir três safras no ano existem alguns tratos culturais diferentes. O segredo é estar em cima, acompanhando o desenvolvimento da planta o tempo todo, revela.

 

A semente

O engenheiro agrônomo Fabio Dias explica que a genética possibilitou a antecipação do plantio e a redução do ciclo da planta, ofertando a possibilidade da terceira safra para algumas regiões do Brasil. Na região Oeste do Paraná é possível fazer três safras em um ano, ou cinco em dois anos. Isso é possível em função do clima e da altitude, especialmente na região beira lago (reservatório da Itaipu), que proporcionam que cultivares de soja de ciclo mais curto sejam plantadas. As cinco safras em dois anos começam a virar realidade, comenta. Em setembro o produtor planta soja, que vai ser colhida no fim de janeiro. Em seguida planta o milho, que vai ser colhido em junho. Na sequência, planta o trigo ou até mesmo feijão, que vai ser colhido em outubro. Tudo é possível em função da genética, revela.

O também engenheiro agrônomo Paulo Heber Carneiro diz que o avanço reduziu a permanência da planta no solo em quase um mês. A gente tem sojas colhidas com 125 dias, mas temos outras variedades que fecham o ciclo em 98 dias. Há 35 anos a cultura da soja sofreu uma modificação drástica no que diz respeito ao melhoramento genético. Antes, só se trabalhava cultivares de ciclo determinadas – uma floração única. Depois, passou-se a trabalhar com sojas indeterminadas – florescimento do 27º ao 60º dia -, o que permitiu essa antecipação de plantio e encurtamento de ciclo. Trouxemos a soja de 20 de outubro para 20 de setembro (plantio) e quem permitiu isso foram as cultivares indeterminadas, enaltece.

O pesquisador de Transferência de Tecnologia da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Osmar Conte, menciona que as cultivares são desenvolvidas com a adaptabilidade exigida para cada região. Existem cultivares de uma adaptação mais ampla, que conseguem ter uma recomendação multiregional, mas é difícil conseguir um material de ampla adaptação. Hoje o mercado de cultivares está indo muito mais de encontro à regionalização da recomendação, que é direcionar uma cultivar para o local onde ela melhor se adapte. Em regiões mais baixas, como o Oeste do Paraná, os produtores querem, por uma necessidade de sistema de produção, plantar o quanto mais cedo possível, respeitando o vazio sanitário, mas em setembro. Nesse caso, tem que usar uma cultivar que tolera esse plantio antecipado e que tenha bom potencial, pontua.

Para encontrar a semente ideal, segundo o pesquisador, é preciso levar em consideração uma série de fatores. Primeiro é conhecer a região e suas ofertas climáticas. Deve-se levar em conta a altitude, a temperatura, o histórico de chuvas e o risco de geadas, que são fatores fixos, que o próprio ambiente oferece, expõe.

 

Boa adaptação

A gente chama de foco regional essa recomendação de cultivares mais adaptadas para cada região. A semente tem que ter boa adaptação, potencial produtivo e que possibilite a antecipação de plantio, ressalta Sérgio Luiz Marchi, de uma empresa de melhoramento genético de sementes. Ele comenta que a região Oeste paranaense possibilita um plantio mais cedo da safra de verão, abrindo espaço para outras duas safras. Existem épocas de plantio diferentes dependendo da região. Em regiões mais frias, como os Campos Gerais (PR), o produtor planta mais tarde, por volta de 15 de outubro. Já em regiões mais quentes, como São Paulo, Oeste e Norte do Paraná, o produtor planta mais cedo, ainda em setembro, explica.

Apesar de tentadoras, as variedades superprecoces não podem ser usadas em qualquer região, afirma Gino Di Raimo Júnior, de outra empresa sementeira. Os produtores preferem sempre as cultivares superprecoces, mas as vezes eles podem não ter um bom resultado. Não é em toda região que elas vão se dar bem. Com o híbrido de milho não é diferente, enfatiza.

Para o produtor rondonense, o homem do campo precisa ser inquieto, buscar alternativas para ampliar a produtividade das fazendas. O objetivo é melhorar sempre, colher mais na mesma área, define.

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