Fale com a gente

Marechal Soja

Vislumbrada antes das chuvas de janeiro, supersafra não deve se consolidar

Publicado

em

(Foto: Divulgação)

Após dias seguidos de chuva, sem trégua, o sol voltou a aparecer no Oeste do Paraná – e deve permanecer nos próximos dias, segundo apontam as previsões meteorológicas, trazendo ânimo aos produtores que, depois de pedirem “água do céu”, rezaram para que ela parasse de cair.

A região viveu dois extremos nesta safra de verão: primeiro, enfrentou uma estiagem prolongada, que atrasou o início do plantio; agora, está tendo que lidar com o excesso de chuva, que caiu praticamente durante todo o mês de janeiro, dificultando o trato cultural das lavouras de soja.

 

OBSTÁCULOS

Para o produtor Luiz Carlos Hollmann, que tem áreas de soja cultivadas na Linha Guavirá, interior de Marechal Cândido Rondon, a safra 2020/2021 está sendo repleta de obstáculos. “Inicialmente, tivemos um atraso de cerca de 30 dias no plantio por causa da falta de chuvas. Os transtornos começaram aí, porque esses dias a mais mudam toda a programação”, declarou ao O Presente.

Hollmann diz que a escolha dos cultivares é prejudicada quando os atrasos acontecem. “A cultivar que é para plantio cedo não é tão boa para plantio tardio e vice-versa. Então, os problemas começaram aí, visto que a cultivar não foi a mais adequada.”, menciona, emendando: “Onde eu planto, compramos cultivares de ciclo curto, mais precoces, então o plantio tardio não nos prejudicou tanto”.

De acordo com o produtor, o desenvolvimento da planta aconteceu aquém do que ele esperava. “As chuvas foram fracas até meados de dezembro, então as plantas não cresceram da melhor maneira. Não tínhamos boas expectativas de produtividade”, expõe.

Contudo, as condições climáticas começaram a mudar e o agricultor se viu mais uma vez acreditando no potencial produtivo da sua lavoura. “A chuva veio e a soja conseguiu se recuperar. Com isso, nossas expectativas também aumentaram bastante. A soja estava muito bem carregada, vagens e grãos saudáveis, conseguiu alcançar um porte elevado”, relata, pontuando que, com a “empolgação” da chuva, essa beleza virou incógnita. “Não parava de chover e a gente não conseguia entrar na lavoura para realizar os tratos culturais. Tivemos alguns problemas com perdas em função de pragas e atraso na aplicação de fungicidas”, lamenta.

Produtor rondonense Luiz Carlos Hollmann aproveita os dias de sol para realizar os tratos culturais em sua lavoura, localizada na Linha Guavirá (Foto: O Presente)

 

APLICAÇÃO DE INSETICIDA

Passada a chuva sem-fim, nesta semana Hollmann conseguiu adentrar às áreas verdejantes de soja e aplicar inseticida para conter as doenças momentâneas. “Com o sol presente, a planta deve terminar de encher o grão. É preciso que o tempo se firme para que não aconteça o que aconteceu em algumas propriedades. Tive notícias de abortamento de vagens, um problema sério que pode acabar com 100% da produção, visto que uma vagem abortada não produz mais nada”, ressalta.

 

ESPERA POR RESULTADOS

O rondonense tem previsão de iniciar a colheita em sua propriedade no final do mês. “Até pode chover, mas nada como tivemos em janeiro. Precisamos de uma diminuição para que a safra aconteça com um chão mais seco, para evitar compactação do solo e problemas futuros em outras safras”, aponta.

Apesar dos altos e baixos desta safra, Hollmann se vê esperançoso mais uma vez. “Estamos com uma boa expectativa de produção. A safra promete ser boa, mesmo com os percalços no caminho. Espero cerca de 150 sacas por alqueire”, projeta. “A agricultura é assim, funciona segundo fatores que não controlamos e nós apenas conduzimos da melhor maneira possível”, enaltece.

 

FOTOSSÍNTESE

Conforme dados da Agrícola Horizonte, janeiro foi responsável por 339 milímetros de chuva em Marechal Rondon. Ao Paraná, o primeiro mês do ano trouxe chuvas que ultrapassaram a média histórica e superaram o mesmo período de 2020 em 151%.

Segundo o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, precipitações contínuas, por muitos dias e em excesso, têm um impacto bastante grande na agricultura. “O que prejudica é a falta de sol, tendo em vista que a lavoura de soja é totalmente dependente da luminosidade para realizar o processo de fotossíntese e transformar luz em energia”, explica.

Contudo, o profissional comenta que a seca, quando é contínua, pode trazer mais prejuízos do que o excesso de chuvas. “Três safras atrás tivemos uma seca bastante severa em dezembro e janeiro, o que ocasionou uma quebra de safra de mais da metade naquele ano. Os extremos sempre trazem algum prejuízo”, analisa.

Engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha: “Acredito que não teremos mais uma safra recorde como a do ano passado, mas ainda assim teremos uma boa safra. E os preços atrativos das commodities compensam uma eventual queda de produtividade” (Foto: Arquivo/OP)

 

ABORTAMENTO DE VAGENS

Cunha diz que o excesso de umidade cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos. “Esses fungos atacam as folhas da soja e causam uma desfolha precoce, além de atacar as vagens, podendo causar abortamento. Essa é a pior coisa que pode acontecer quando há muita chuva”, relata.

 

EMPRESA A CÉU ABERTO

O engenheiro agrônomo menciona que depois de um mês de chuva, vê o produtor da região apreensivo. “A agricultura é uma empresa a céu aberto. Então, o produtor faz um investimento e está sujeito a intempéries climáticas que podem afetar a cultura. Por outro lado, o agricultor é extremamente esperançoso e sempre espera, após um longo período de chuva, o tempo limpar. Com o sol, ele pode cumprir com os tratos culturais e, futuramente, realizar a colheita”, pontua.

Para o profissional, cabe ao agricultor não sofrer por aquilo que não se pode controlar. “Meu conselho é que ele siga cuidando da lavoura, porque essa é a hora de controlar pragas e doenças. A pressão de doenças está grande nesse período em função do janeiro chuvoso”, destaca, exemplificando: “O percevejo está em alta pressão nas áreas em função dos muitos dias em que o agricultor não conseguiu fazer aplicação de inseticidas”.

Durante visita da reportagem de O Presente à propriedade de Hollmann, percevejo deu as caras: praga está em alta pressão nas lavouras (Fotos: O Presente)

 

COLHEITA

De acordo com Cunha, as primeiras áreas de soja em Marechal Rondon devem ser colhidas de 20 a 25 de fevereiro, daqui a 12 dias. “Depende de como serão as chuvas daqui para frente. São necessários alguns dias de sol para que a colheita seja realizada. Os grãos têm necessidade de manter alguma umidade, mas o solo precisa estar com baixo teor de umidade para permitir que as máquinas realizem o processo de colheita”, menciona. “Além da soja precisar estar madura, logicamente, há necessidade de pelo menos quatro ou cinco dias sem chuvas para a colheita caminhar de maneira satisfatória e o agricultor colher um produto com qualidade. Deve-se pensar em manter o solo livre de compactação em função do tráfego de máquinas em chão com excesso de umidade”, reforça.

 

BOA SAFRA

Na opinião do engenheiro agrônomo, Marechal Rondon não deve ter um recorde de safra, mas, sim, uma boa safra. “Para ajudar, os preços das commodities estão atrativos e compensam uma eventual queda de produtividade. Acredito agora que a safra 2020/2021 deve estar de igual para um pouco menor que a do ano passado, algo em torno de 10% abaixo daquilo que nós tivemos de resultado no último ano. Isso corresponde a cerca de 15 sacas a menos por alqueire”, avalia.

 

APESAR DA CHUVARADA, DERAL MANTÉM ESTIMATIVAS DE PRODUTIVIDADE

“Os indícios apontam para uma safra normal. O que pode ocorrer é uma redução da produção como uma resposta ao clima. Até então, não reduzimos as estimativas de produtividade, visto que não temos ainda uma noção real do campo”. A declaração é do técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), regional de Toledo, Paulo Oliva. Segundo ele, a supersafra vislumbrada antes das chuvas de janeiro não deve se consolidar.

Conforme o Deral, órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) do Estado, a safra 2020/2021 deve ter produtividade 0,33% menor que a do ano passado, com a expectativa de 1.852.196 toneladas.

 

PARTICULARIDADES DA SAFRA

Oliva também destaca os altos e baixos desta safra de verão. “Tivemos logo no início uma dificuldade na implantação em função da estiagem. Depois, tivemos chuvas em novembro e dezembro, que melhoraram as condições da soja, carro-chefe da nossa região. Recentemente, fomos assolados pela expressividade das chuvas em janeiro, contínuas e quase sem intervalos, que dificultaram os trabalhos em relação aos tratos culturais e sanitários”, expõe.

Ao analisar as safras anteriores, o técnico diz não ter havido safra como essa. “Em comparação, tivemos outras safras com vastos períodos de chuva, mas não em janeiro como nesta safra de verão; geralmente as chuvas aconteciam em outubro ou dezembro. É assim, cada safra tem alguma particularidade”, considera.

 

PERDAS

As chuvas, segundo ele, ocasionaram perdas na lavoura, contudo, afirma que é muito cedo para mensurar o prejuízo. “Isso só poderá ser diagnosticado com eficácia na medida em que as áreas forem colhidas”, comenta.

Conforme o técnico do Deral, as lavouras dos municípios englobados pela Regional da Seab estão nas seguintes fases: 5% floração, 85% frutificação e 10% maturação. “Provavelmente, tivemos perdas em áreas pontuais que estavam em condições de colheita e tiveram problemas de germinação, qualidade e produtividade. São áreas mínimas, vale salientar, e não chegam a percentuar. De modo geral, 70% da soja da região está em condição boa”, informa, pontuando que 20% está em condição média e, por outro lado, 10% em condição ruim.

De acordo com o profissional, algumas áreas pontuais apresentam abortamento de vagens. “Mesmo sendo áreas pequenas, aconteceu em função do saturamento da água no solo e na planta. Agora o tempo tem firmado e esse problema deve cessar”, menciona.

 

PROPÍCIO A DOENÇAS

Oliva afirma que o clima observado nos últimos dias, chuvoso e sem sol, é propício à proliferação de doenças na planta. “O agricultor não pode entrar na lavoura tanto via terrestre como aérea. Não foi possível aplicar inseticidas e fungicidas”, lamenta.

 

DAQUI PARA FRENTE

Conforme o técnico, mesmo sem previsão de colheita recorde a safra de verão deve ter boa produtividade. “Precisamos que o tempo firme daqui para frente para que o produtor possa trabalhar com os tratos culturais, para que possa entrar nas áreas que começam a maturação para fazer a antecipação”, declara, acrescentando: “A chuva atrapalha na colheita, isso é sabido. Todavia, não há como dizer que precisa de x dias sem chover para que seja possível colher, é preciso analisar o dia, se tem ou sol ou está nublado, a umidade relativa e vários outros fatores”, afirma.

 

O Presente

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente