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Municípios Perdas expressivas

Baixa produtividade da soja não cobre custos da colheita em Marechal Rondon

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(Foto: Bruno de Souza/OP)

As primeiras áreas de soja começaram a ser colhidas em Marechal Cândido Rondon na semana passada. A produtividade alcançada, que variou de oito a 30 sacas por hectare (ha), dá ideia do tamanho dos prejuízos das demais lavouras na microrregião, que devem ser colhidas nos próximos dias.

“O índice de perda consolidada está entre 65% e 70%, mas isso vai se intensificar quando a colheita se concretizar”, comenta o presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Edio Chapla. A cultura do milho, aponta ele, está com comprometimento na casa de 75% a 80%.

Presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Edio Chapla: “Na próxima semana as coisas serão decisivas quanto à declaração ou não da situação de emergência” (Foto: Divulgação)

 

 

Prejuízo de R$ 93 mil

Na Linha Sanga das Antas, no interior de Nova Santa Rosa, parte dos 20 alqueires de soja cultivados por Valdir Eisen foram colhidos nesta semana e o resultado é desolador. “Estou colhendo uma área de oito alqueires. O restante não tem ProAgro e vai dar R$ 93 mil de prejuízo. Não vou colher tudo, porque não vai dar nada e não ‘tá’ sequer pagando o diesel”, declarou ao O Presente.

A expectativa do nova-santa-rosense no início da safra era obter 150 sacas por alqueire, o que o produtor está longe de alcançar. “Nessa parte colhi dez sacas ‘no bruto’. Se entregasse na firma, com todos os descontos, sobraria três”, lamenta ele, que pretende vender os grãos que está recolhendo para alimentação do gado.

O agricultor lembra que as últimas safras também não foram das melhores, mas pelo menos cobriram os gastos. “Essa é a 31ª vez que plantei soja e nunca perdi 100% como nesse ano. Se eu tivesse deixado sem plantar tinha R$ 93 mil no bolso, contudo, agora preciso bancar o prejuízo. Não podemos desanimar, mas dói”, ressalta.

Produtor Valdir Eisen, da Linha Sanga das Antas, Nova Santa Rosa: “Essa é a 31ª vez que plantei soja e nunca perdi 100% como neste ano” (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

Colher ou não colher?

Os resultados alcançados até agora por vezes não cobrem os custos dos produtores, menciona o vice-presidente do Sindicato Rural, engenheiro agrônomo Cévio Mengarda. “Cada produtor precisa pensar na sua situação, porque precisa dessecar a área e pagar a colheita. Se não tiver seguro, precisa avaliar muito bem se vale a pena colocar a máquina ou se é melhor simplesmente aguardar novas precipitações para plantar o milho sem colher a soja. O resultado pode não cobrir os custos da própria colheita”, expõe.

Ele orienta também que os produtores acionem o ProAgro ou o seguro agrícola o quanto antes. “O trabalho das seguradoras será muito grande, o que pode atrasar as análises e agravar ainda mais as perdas”, salienta.

Vice-presidente do Sindicato Rural, engenheiro agrônomo Cévio Mengarda: “Se não tiver seguro, é preciso avaliar muito bem se vale a pena colocar a máquina ou se é melhor simplesmente aguardar novas precipitações para plantar o milho sem fazer a colheita da soja. O resultado pode não cobrir os custos da própria colheita” (Foto: Divulgação)

 

Poucas vendas antecipadas

Chapla diz que não foram efetivados muitos contratos de vendas antecipadas. “Há poucos contratos até devido ao ano passado, quando tivemos uma inversão de valores no preço da soja, com contratos no valor de R$ 80 a R$ 85 e preço mais alto durante a safra. O pessoal ficou receoso e acabou não fazendo”, relata.

A recomendação por parte do Sindicato Rural era que fossem feitos contratos para, no máximo, 20% a 30% da produção prevista. “Neste ano quem fez contrato também vai ter problemas, porque a produtividade praticamente não cobre os contratos. Além disso, temos muita soja sem qualidade”, pontua, emendando que os produtores precisam negociar os contratos individualmente com cooperativas e cerealistas.

 

Sem salvação

Segundo dados da Agrícola Horizonte, Marechal Rondon registrou cinco milímetros de chuva na quarta-feira (29) e alguns milímetros no entardecer de ontem (30). De modo geral, a precipitação acumulada em dezembro não ultrapassa dez milímetros na região. Segundo Mengarda, as chuvas têm sido localizadas e em baixos índices, o que não agrega à safra atual. “Para a safra que está implantada pouco resolve. Alguma área esporádica que teve o plantio mais tarde ainda pode ter uma produção razoável e cobrir os custos, mas a grande maioria não tem salvação”, indica, acrescentando que cerca de 90% das áreas devem registrar perdas que variam de 70% a 100%.

Chapla, por sua vez, menciona que a falta de chuva é acompanhada por altas temperaturas. “Registramos temperaturas de 43°C e 44ºC na lavoura. Tanto na cultura da soja quanto na de milho as folhas das plantas estão escaldando. A cada dia que passa a gente percebe a soja se queimando cada vez mais. Com essas temperaturas altas mantidas por cinco ou seis dias praticamente todas as lavouras de soja da região estão perdidas”, prevê.

Nas lavouras de Eisen, os termômetros registraram 53ºC às 17 horas de quarta-feira. Com as precipitações dos últimos dias, é possível que as temperaturas não se elevem tanto.

 

Milho safrinha

A situação atual da soja não impede que se pense na safrinha de milho em 2022, cujas preocupações já aparecem. De acordo com Chapla, a janela ideal para o plantio está garantida, porém a planta deve sofrer com a falta de chuva em seu desenvolvimento.

“Mesmo que não ajude mais a safra de soja, qualquer chuva que vier agora traz esperanças para o plantio do milho”, diz Mengarda.

Primeiras áreas de soja colhidas em Marechal Rondon e região atingiram produtividade de oito a 30 sacas/ha: em algumas lavouras, na quarta-feira (29), os termômetros registraram 53ºC (Foto: Bruno de Souza/OP)

 

“Não é simples”, diz prefeito rondonense sobre estado de emergência

O Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon encaminhou, na semana passada, um ofício ao prefeito Marcio Rauber pedindo que o município declare estado de emergência devido à crise hídrica – clique aqui e confira a matéria. Documento com teor semelhante também foi protocolado por alguns vereadores – veja a matéria.

Rauber diz que entrou em contato com o presidente do conselho, secretário de Agricultura Adriano Backes, e o presidente do Sindicato Rural. “Declarar situação de emergência não é simplesmente o prefeito colocar umas palavras em um decreto. Isso gera inúmeras consequências, inclusive para os produtores. Então, vou chamar o presidente do Sindicato na primeira semana de janeiro para expor toda a situação”, antecipa.

 

Laudos de comprovação

O prefeito ressalta ainda que para que Estado e Defesa Civil reconheçam a situação de emergência é preciso apresentar dados e laudos comprovatórios. “Precisamos municiar o governo municipal com todos esses documentos para apresentar à Defesa Civil e encaminhar para o Governo de Estado. Não é algo simples”, considera.

O presidente do Sindicato Rural afirma que os laudos já estão sendo elaborados para serem apresentados na reunião. “Na próxima semana as coisas serão decisivas quanto a declaração ou não da situação de emergência”, declarou ao O Presente.

Prefeito de Marechal Rondon, Marcio Rauber: “Precisamos municiar o governo municipal de todos esses documentos para apresentar à Defesa Civil e encaminhar para o Governo de Estado” (Foto: Arquivo/OP)

 

Problema regional

O Sindicato Rural de Marechal Rondon também encaminhou ofícios para os municípios de sua extensão: Mercedes, Pato Bragado, Quatro Pontes e Entre Rios do Oeste. “Municípios da nossa região, Palotina, Maripá, Nova Santa Rosa, Toledo, Cascavel e Guaíra, estão se mobilizando. O município de Eldorado (MS) já decretou estado de emergência”, expõe.

Mengarda reforça as palavras do presidente e acrescenta: “a deficiência hídrica é grande e bastante significativa, se estende desde a Argentina, envolvendo Paraguai e os Estados brasileiros do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, parte do Mato Grosso do Sul e parte de São Paulo”.

 

Histórico de prejuízos

Os agricultores não vêm de um bom cenário, lamenta o vice-presidente do Sindicato. “Esse não é um cenário só deste ano. Na safrinha passada tivemos um período longo de seca e depois geada. Na safra anterior, tivemos muitas áreas que se perderam, porque janeiro foi muito chuvoso e não foi possível fazer a colheita. A safrinha do ano anterior também não foi boa, com 60 dias de seca na implantação do milho. Então, o produtor vem de vários anos dificultosos”, recorda.

Conforme Mengarda, muitos dizem que não são as commodities que alimentam a população, mas esquecem que elas são matéria-prima essencial para a produção de ração animal. “A carne é a principal proteína da alimentação do ser humano e, infelizmente, isso vai refletir no supermercado e na mesa do consumidor”, conclui.

 

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