Fale com a gente

Municípios Sonho realizado

Quatro-pontense conta experiência de ter filha gerada em barriga de aluguel na Ucrânia

Publicado

em

Casal Deise Leobet e Vinicius Pinheiro com a pequena Lua durante seu batizado em Brasília (Foto: Divulgação)

Para Deise Klein Leobet, a maternidade sempre foi um sonho. A quatro-pontense tinha instintos maternais aguçados desde jovem, quando cuidava de crianças na escolinha e tinha uma afinidade especial com os pequenos, sendo quase como a “Xuxa” para os baixinhos de Quatro Pontes na época.

Aos 20 anos, toda aquela expectativa pela maternidade foi substituída por um sentimento de impotência. Deise descobriu que não poderia ser mãe e o diagnóstico do médico soou como uma sentença de morte. “Eu entrei numa depressão profunda por muitos anos. Toda história de infertilidade é uma história de dor. Foi muito complicado. Eu me afastei de relacionamentos amorosos, porque eu não queria que essa tristeza fosse dividida com alguém”, relembra.

Aquela “condenação”, no entanto, não impediu que Deise perseverasse. Em união estável desde 2005, após oficializar o casamento, em 2012, ela e o marido começaram a pensar nos métodos para terem filhos. Tentaram a adoção em diversos países por onde passaram, mas não conseguiram. Ficaram na fila de espera por anos. Tiveram muitos “quases” e momentos de expectativa e de frustração.

A opção de barriga de aluguel não era uma alternativa para o casal até conhecerem amigos que fizeram o ventre de substituição. E depois de muita espera, a quatro-pontense teve seu desejo mais íntimo realizado aos 49 anos, quando sua filha foi gerada no ventre de uma ucraniana: um anjo que ajudou a luz entrar na vida da família. Ao O Presente, Deise compartilhou sua história desde o diagnóstico da infertilidade até a realização do seu sonho de ser mãe, materializado em toda a sua graça na pequena Lua.

 

Infertilidade

Além da reprodução assistida, a adoção foi uma alternativa para concretizar o sonho de Deise em ser mãe. Na fila há mais de nove anos, ela enfrentou dificuldades no seu cadastro devido às muitas mudanças que teve de fazer por conta do trabalho. Especialista em negócios internacionais, Deise morou em mais de cinco países e cada mudança a lançava para o final da fila. “Quando a gente reside no exterior e tem residência fiscal lá, a lei nos entende como um casal de estrangeiros. Então, os processos eram muito frustrantes. Quando finalmente encontrava o ‘caminho das pedras’, eu precisava mudar de país e perdia o direito de continuar o processo de adoção”, expõe ela, que chegou a se desligar do trabalho para fazer o curso de adoção no Brasil.

Com o processo em curso, Deise lembra que teve a oportunidade de adotar um casal de crianças. Ela residia em Nova Iorque quando foi acionada e largou tudo para vir ao encontro das crianças. “O juiz me deu 48 horas para estar no Brasil. Eu avisei no trabalho que não estaria lá por tempo indefinido, comprei as passagens e eu e meu marido voltamos para cá. Viemos com o enxoval pronto, mas no final não ficamos com as crianças. Apesar disso, continuamos na fila tentando”, diz.

 

Desmistificar o processo

Quando morava na Espanha, um país que se destaca em processos de ventre de substituição, Deise conviveu com muitas famílias que tinham gerado filhos por esse método. A gestação por substituição, popularmente chamada de barriga de aluguel, se dá quando uma mulher gesta um filho para uma terceira que não consegue engravidar. No Brasil, a gestação de substituição só é permitida quando não tem fins lucrativos, enquanto em outros países é possível contratar clínicas que auxiliam no processo.

Assim como a maioria das pessoas guiadas pelo senso comum, a quatro-pontense tinha ideias preconcebidas sobre “barriga de aluguel”, termo não utilizado devido ao seu teor pejorativo. Foi apenas conhecendo a prática que as dúvidas se dissiparam. “O processo de ventre de substituição levanta vários questionamentos éticos, morais e naturais, porque é a ciência fazendo algo que alguém não pode fazer naturalmente. Então, eu visitei várias clínicas e conheci o processo. Depois de ver como funcionava e as fragilidades da prática, precisei convencer meu marido, que é uma pessoa fértil. Um dos melhores amigos dele fez o processo nos Estados Unidos e tinha tido três crianças por ventre de substituição. O casal morava próximo e a gente convivia bastante. Víamos aquela história linda e uma família superfeliz. Aquilo nos tocou muito, porque desmistificou o processo e decidimos tentar”, relembra.

 

Escolhas

Quando o casal decidiu tentar a gestação por substituição, queria guiar-se por um processo legal, com regras claras e que poderia ser pago, uma vez que não tinham tido sucesso com amigos que se disponibilizaram a emprestar o útero. “Algumas mulheres da família chegaram a ventilar a possibilidade, mas não deu certo. Eu entendo e não julgo, porque é uma decisão que envolve muita coisa. Depois duas amigas minhas tomara a iniciativa e marcaram consultas para me ajudar. Com uma não deu certo por questão de idade, enquanto a outra foi ‘descartada’ pela agência. Elas foram muito importantes, porque me deram mais uma possibilidade. Já que não deu certo com amigos, a gente tentaria com candidatas das clínicas”, explica.

A especialista em negócios internacionais tentou realizar o processo nos Estados Unidos, mas não conseguiu efetivar a gestação por substituição. Como Deise trabalhou no Leste europeu e teve oportunidade de conhecer clínicas na Ucrânia, ela optou por aquele país. “Eles têm uma legislação clara, transparente e antiga quanto aos processos de ventre de substituição. Também há clínicas de saúde excelentes e com processos muito avançados em técnicas reprodutivas”, destaca, acrescentando que o contato com o país a fez gostar de lá: “Me sentia cômoda. Tenho um pouco de origem eslava, então foi como uma volta às minhas ancestralidades”.

 

“Nossa rainha”

A clínica escolhida pela quatro-pontense fica em Kharkiv – a cerca de 480 quilômetros da Capital ucraniana, Kiev – e já tinha sido escolhida por amigos dela para o processo. De acordo com Deise, o lugar ofertava o que ela esperava da gestação de substituição. “Tinham boas referências e transparência e controle do processo. Eu queria que fosse humanizado, conhecer a pessoa que emprestaria o ventre e ter contato com ela”, menciona.

Deise, que já foi jornalista e trabalhou com recrutamento de pessoas, participou das entrevistas para selecionar a mulher que geraria a sua filha. “Encontramos alguém com quem nos conectamos emocionalmente. Não falo o nome, porque ela quer ser preservada, mas vou chamá-la de rainha. Ela é nossa rainha, porque possibilitou a chegada da Lua”, enaltece.

 

Duas mães

“A natureza me disse não, a ciência disse talvez e o amor disse sim”, resume Deise, que acompanhou a ucraniana em todos os exames durante toda a gestação. As duas se tornaram muito próximas, numa relação muito maior do que amizade. “Erámos duas mães que choravam toda vez que se encontravam”, conta.

Entre encontros via FaceTime, mensagens e ligações, chegou o momento da pequena Lua vir ao mundo. Deise e o marido, Vinicius Carvalho Pinheiro, foram até a Ucrânia, mas não presenciaram a cesariana. “Perguntei o que nossa rainha queria e ela optou por estar só com o marido. Eu não tinha nenhuma necessidade de estar na sala do parto e o mais importante era que ela nascesse bem”, ressalta.

 

Luz em meio à escuridão

Pela manhã do dia 12 de dezembro de 2019, três dias antes de Deise completar 49 anos, a quatro-pontense viu sua espera de mais de 25 anos terminar quando pegou sua filha nos braços. “A Lua nasceu e abriu os olhos, nos encarando profundamente. Aquele foi o momento mais mágico da minha vida inteira. Naquele momento, saiu um peso dos meus ombros, porque eu carregava muita tristeza desde o momento em que ouvi que eu não poderia ser mãe. Era como se eu estivesse na sombra e a Lua tivesse me trazido a luz”, enaltece, comentando que o nome da pequena veio justamente daí: “Ela foi luz em meio à escuridão, iluminou e trouxe esperança para o caminho”.

Primeiros momentos do casal com a pequena Lua: “Ela foi luz em meio à escuridão, iluminou e trouxe esperança para o caminho” (Foto: Divulgação)

 

Uma história a ser contada

A pequena Lua ouve sua história desde que estava na barriga da rainha e hoje, com dois anos e três meses, já conta como veio ao mundo. “Na história que minha filha conta, a Lua estava lá no céu e tinha uma mamãe que tinha ela no coração, mas não podia a colocar na barriga. Então, essa mamãe encontrou uma anjinha para trazer a Lua para a Terra, onde todos se encontraram”, detalha Deise, emocionada.

Em todo mesversário da pequena ucraniana, a primeira mensagem vem diretamente da Europa. “Embora não tenha nenhuma relação genética com a minha filha, nossa rainha disse que gostaria de manter contato. Ela também pediu se contaríamos para a Lua sobre como tudo aconteceu e falei que sim, porque é uma história maravilhosa. Parece piegas, mas nos esquecemos da força do amor. Eu coloquei muito amor em todo esse processo e tenho uma dívida de gratidão com a nossa rainha, um elo eterno”, frisa.

Deise Leobet Pinheiro: “A Lua nasceu e abriu os olhos, nos encarando profundamente. Aquele foi o momento mais mágico da minha vida inteira” (Foto: Divulgação)

 

Laços com a Ucrânia

Ver a mulher que gestou sua pequena Lua passando por dificuldades entremeio à guerra na Ucrânia é um tormento à quatro-pontense. “Eu a vejo como um anjo que me ajudou a resolver todas as dores. Ela me ajudou a trazer a coisa mais importante da minha vida, a minha maior alegria. Agora vejo ela, o marido e os filhos em perigo devido aos conflitos armados. Ela precisou abandonar a casa por causa das bombas e a tenho ajudado financeiramente, porque está muito difícil. Nossa rainha nunca pediu nada, mas ofereci porque ela trouxe minha filha para esse mundo. É um compromisso moral. A guerra, antes de ser um conflito territorial, econômico ou político, é um conflito humano, porque atinge diretamente as pessoas. Sinto muito por essa guerra que é tão injusta com o povo ucraniano”, lamenta.

Morando atualmente no Distrito Federal, a quatro-pontense organizou um ato pela paz na Ucrânia e tem ajudado as famílias de lá a encontrarem lares para refúgio. “Temos um braço da nossa família na Ucrânia e não vejo a hora da guerra acabar pra gente se encontrar. Tínhamos planos de uma vez por ano ir para lá, porque a Lua é ucraniana, embora tenha nacionalidade brasileira e espanhola também”, expõe.

Com dois anos, a pequena Lua Victoria Leobet Pinheiro já conta sua emocionante história: “A Lua estava lá no céu e tinha uma mamãe que tinha ela no coração, mas não podia a colocar na barriga. Então, essa mamãe encontrou uma anjinha para trazer a Lua para a Terra, onde todos se encontraram” (Foto: Divulgação)

 

De Quatro Pontes para o mundo

Filha do ex-prefeito quatro-pontense Antônio Rudi (Rudinho), Deise saiu de Quatro Pontes com 16 anos para encarar o mundo. “Estive alguns dias em Quatro Pontes recentemente e foi maravilhoso. O xodó do meu pai é a Lua e ela tem uma predileção por ele que é uma coisa impressionante. É muito lindo ver ele, com 84 anos, convivendo com uma netinha de dois. Eles têm uma relação tão linda. Minha mãe também é apaixonada nela. Quando fui embora foi aquela choradeira, mas é sempre lindo estar em família”, enaltece.

Lua com os avós, Antônio Rudi (Rudinho) e Emília Leobet, em seu aniversário de dois anos em Quatro Pontes (Foto: Divulgação)

 

O Presente

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente