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Municípios Reflexo nas exportações

“Região Oeste é impactada principalmente no setor de commodities”, frisa economista

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Economista Jandir Ferrera de Lima: “Os países atingidos pelo coronavírus tendem a diminuir o ritmo de crescimento, isso significa menor demanda de exportações de produtos do Brasil. A parada em alguns setores do transporte vai gerar custos à estrutura produtiva do Oeste do Paraná, especialmente a exportadora” (Foto: Arquivo pessoal)

“A pandemia do coronavírus terá impacto significativo no país porque o Brasil é um grande exportador de commodities e o principal destino é o continente asiático, onde ocorreu uma boa parte do surto, e agora o epicentro está na Europa, continente com o qual o Brasil negocia um tratado de livre comércio”. A declaração é do economista Jandir Ferrera de Lima, doutor em Economia e professor do curso no campus de Toledo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

Segundo Lima, boa parte da produção exportada está parada nos portos de destino por conta da dificuldade em descarregar os navios para evitar contágio e transmissão do vírus. “Isso tem gerado custo bastante grande sobre o transporte aos exportadores, sem contar que inúmeras atividades estão paradas em alguns países, que por enquanto não estão nem recebendo cargas. Para os exportadores a ‘parada portuária’ tem gerado custo significativo em termos de frete. Isso sem contar que o contágio do vírus é considerável quando há aglomerações, então muitas empresas que têm estrutura produtiva de grande número de funcionários, como frigoríficos, tomam cuidado redobrado”, frisa.

Ele diz que o fechamento temporário da fronteira pela Argentina e pelo Paraguai, onde há tráfego intenso de pessoas, afeta o comércio com os países vizinhos. “No fluxo turístico muitas empresas aéreas cancelaram voos ao Brasil e empresas brasileiras cancelaram ao exterior, o que fez com que o fluxo em áreas turísticas tradicionais como Foz do Iguaçu e o litoral brasileiro fique bem abaixo da expectativa de procura em termos de serviços turísticos. Muitas reservas foram canceladas, gerando ônus também para a rede hoteleira. O impacto será grande para restaurantes, à rede hoteleira e no fluxo de comércio em áreas de fronteira”, pontua.

 

SEGMENTOS

Conforme o economista, o primeiro impacto econômico no município de Marechal Cândido Rondon será sentido no setor exportador. “Isso porque há pequena diminuição do fluxo de comércio. Os países atingidos pelo coronavírus tendem a diminuir o ritmo de crescimento, e isso significa menor demanda de exportações de produtos da América Latina, incluindo o Brasil, sem contar que a parada em alguns setores do transporte vai gerar custos à estrutura produtiva do Oeste do Paraná, especialmente a exportadora”, observa.

Além do setor industrial, o segmento de serviços também será prejudicado, aponta Lima. “Hoje (segunda-feira, dia 16) a Unioeste parou suas atividades, a Universidade Federal (UFPR) e os institutos federais pararam, o que representa fluxo menor de alunos nas cidades, impactando o comércio em geral, ou seja, a economia de todas as regiões brasileiras vai sentir o impacto do coronavírus, seja na estrutura produtiva, na estrutura de serviços e aquelas regiões exportadoras de commodities vão sentir impacto na diminuição do ritmo de crescimento de suas economias”, ressalta.

O transporte, salienta o economista, se onerou por conta da parada de alguns serviços portuários e também de outros modais. Apesar disso, ele diz haver muita incerteza sobre o valor dos custos do impacto do coronavírus. “Apesar do ministro da Economia, Paulo Guedes, estar muito otimista dizendo que o Brasil vai se recuperar e crescer 2%, provavelmente a economia não aumente este índice neste ano. O impacto foi grande na economia brasileira dois anos atrás, quando o país parou por 30 dias por conta da greve dos caminhoneiros. O mesmo deve acontecer agora. Essa parada que todo mundo espera que seja de 15 dias, e não se prolongue mais do que isso, vai ter impacto no nosso crescimento. A recuperação da economia brasileira vai depender da recuperação da economia mundial, haja vista que boa parte do nosso comércio hoje se destina a países que foram duramente atingidos pelo vírus e alguns inclusive impuseram quarentena nacional”, frisa.

 

BOLSAS DE VALORES

Por volta das 11h30 de ontem a Bolsa de Valores de São Paulo parou ao atingir queda máxima e o dólar bateu em R$ 4,95. Foi mais um dia de pânico no mercado financeiro. “Isso se deve à incerteza mundial. Com isso, muitos investidores e especuladores procuram ativos mais sólidos, tais como comprar dólar, que é uma moeda forte, e ouro, mas alguns também procuram deixar o dinheiro de forma ‘líquida’ para que possam usar rapidamente caso necessário. Isso faz com que os investimentos migrem de uma aplicação para outra, o que afeta a Bolsa de Valores”, expõe.

“Muitos investidores estão vendendo ações de empresas brasileiras com medo do impacto disso, sem contar que houve queda significativa no (preço do) barril do petróleo não só por conta da disputa de produção de alguns países, porém a expectativa de arrefecimento do crescimento mundial faz com que se demande menos petróleo. Consequentemente, quem tinha ações na área de petroleiras registrou queda bem acentuada. As bolsas estão refletindo essa insegurança na economia mundial e isso também afeta o Brasil. Vamos esperar para ver o que vai acontecer depois de 30, 40 dias para ter um cenário mais seguro do que vai acontecer na economia mundial, inclusive na brasileira”, menciona.

 

GRAVIDADE

O economista acrescenta que o fato de escolas e universidades brasileiras estarem fechando temporariamente para evitar aglomerações impacta a economia chamada de subterrânea, formada por pessoas que por conta do desemprego exercem atividades informais como venda de produtos alimentícios, venda de porta em porta, de lembranças e brindes nas ruas. “Esse tipo de comércio ambulante sofre significativamente, haja vista que muitas festas e atividades culturais e muitos locais de aglomeração fecharam ou não terão atividades. Isso afeta o comércio de ambulantes, hoje atendido por pessoas em uma situação de desemprego ou de baixa renda”, reforça.

Lima comenta que hospitais e postos de saúde estão com a sua capacidade plena. “Um surto pode agravar essa situação, por isso é ideal evitar aglomeração, sendo melhor as pessoas ficarem em casa e só procurarem um médico quando sentirem realmente os sintomas do coronavírus. Ou seja, isso vai gerar custo bem elevado ao Poder Público municipal, que tem atendido bastante a saúde. Espera-se que o governo federal venha e socorra com algum tipo de recurso, mas como sabemos que as finanças públicas não andam muito bem, cabe saber qual atitude o governo vai tomar e que tipo de contingenciamento vai adotar para fazer frente a essa crise do coronavírus”, finaliza o economista.

 

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