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Abrindo a garrafa

Vinho antigo é melhor?

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O envelhecimento do vinho é um tema que gera bastante dúvidas. É muito comum escutar que vinho bom é vinho antigo, mas não é uma verdade absoluta

Esses tempos estava visitando minha tia, que acabava de se mudar, e na estante constava uma garrafa de vinho bem antiga. Lembro que era um Cabernet Sauvignon 2006 da Almadén, vinícola conhecida por fazer vinhos simples, jovens e de consumo rápido. Lembro ainda que brinquei e perguntei se havia esquecido de tomar o vinho, ou se havia o encontrado no meio da bagunça das caixas de mudança.

Para minha surpresa, ela me contou que não fazia nem uma semana que tinha ganhado aquela garrafa! Pensei pra mim… caramba!

Ela me questionou qual era a graça e expliquei que o líquido daquela garrafa provavelmente já não prestava há um bom tempo. Então, me perguntou: “ué, vinho velho não é melhor?”.

É verdade, sim, que o envelhecimento pode ser muito benéfico para o vinho. Os grandes vinhos, aqueles mais prestigiados, são envelhecidos por muitos anos com resultados geralmente surpreendentes, mas nem todos aguentam esse tempo, a grande maioria não aguenta.

Pense no vinho como uma bebida viva, que está em constante evolução com o tempo. Alguns já estão prontos e declinarão com o passar dos anos; outros são mais estruturados e precisam de tempo para equilibrar.

Quando me refiro à estrutura, falo da parte química. O vinho, para envelhecer, precisa ter uma boa quantidade de taninos, álcool e acidez quando jovens e, em alguns casos, açúcar, e com o tempo sofrerão reações químicas que os deixarão mais complexos. Mas essas condições não ocorrem em qualquer vinho.

Outro fato importante sobre vinhos com potencial de guarda é que eles são planejados para este fim começando no vinhedo. Não é com qualquer uva que se faz vinhos de guarda.

Para que envelhecer um vinho?

A ideia de que o vinho precisa envelhecer vem de muitos anos atrás, quando os vinhos jovens eram muito agressivos para serem consumidos tão cedo. Então, eram guardados para envelhecer até que ficassem mais agradáveis.

Hoje em dia, quando decidimos envelhecer um vinho, a ideia é que o tempo torna ele mais prazeroso, então teremos aromas e sabores mais ricos que somente se formarão com o envelhecimento (como notas de frutas secas, tabaco, café, couro, madeira,mel, tostados, etc).

Por outro lado, os vinhos com potencial de guarda correspondem a uma parcela muito, mas muito, pequena da produção mundial, pois cerca de 90% dos vinhos são feitos para serem bebidos jovens, entre dois e cinco anos (menos para brancos, mais para tintos). Isso não quer dizer que eles não aguentem mais tempo que isso, mas irão perder suas características originais e podem ficar desagradáveis.

A vinícola define quando um vinho estará pronto e, como dito acima, a grande maioria já sai pronta para o consumo. Se antigamente era necessário esperar um vinho maturar, hoje, com a tecnologia, podemos deixar um vinho pronto em pouquíssimos meses.

Quando for comprar um vinho, busque sempre por safras mais novas, especialmente se a compra for em supermercados. Se estiver em um local especializado em vendas de vinhos, aí você pode se arriscar e comprar safras mais antigas.

Vinhos jovens costumam vir com aquelas redação de rosca (screw cap), ou rolha sintética, e isso não quer dizer qualidade inferior. A rolha de cortiça (natural) é mais cara, por esse motivo é mais comum esse tipo de vedação em vinhos mais especiais e que aguentam um envelhecimento.

Por fim, não guarde vinhos por tanto tempo, não vale a pena, salvo exceções. Aproveite suas garrafas no presente. 

O envelhecimento do vinho é uma arte, e vai de gosto pessoal, mas são poucos os vinhos que merecem ser envelhecidos.

Se você é curioso igual eu, pode, inclusive, fazer um teste para sentir os efeitos do tempo no vinho: compre duas garrafas de determinado vinho (com potencial para guarda), beba o primeiro e anote todas as características que sentir (quais são os aromas? são nítidos? e em boca? o que você sente?), e a outra garrafa deixe guardada por pelo menos um ano e depois anote novamente o que sente e compare os resultados.

Leticia Zigiotto

Nasci e cresci em Marechal Cândido Rondon. Sou apaixonada pelo universo dos vinhos e me formei em Enologia pela Universidade Federal do Pampa.

*O enólogo é o profissional que estuda o vinho desde a preparação do solo para o cultivo da videira até a comercialização do vinho pronto. Em geral, conhecemos ele como o encarregado por tomar todas as decisões em relação aos vinhos dentro de uma vinícola.

(Foto: Divulgação)

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