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Marechal Antes e depois da pandemia

Cadastros de imigrantes cresce 39% em Marechal Rondon

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Secretária de Assistência Social, Josiane Rauber: “Grande parte dos estrangeiros busca apenas orientações de como ter sua documentação regular. Quando há a procura por qualquer serviço da assistência social, faz-se o atendimento necessário para a família” (Foto: Divulgação)

Marechal Cândido Rondon tem se tornado, ano a ano, lar para muitos estrangeiros atraídos pelas oportunidades de trabalho em busca de melhores condições de vida. Segundo dados do sistema IPM Social cedidos pela Secretaria de Assistência Social, o número de imigrantes cadastrados aumentou 39% nos últimos três anos, isto é, antes e depois da pandemia. Em março de 2019, 1.505 imigrantes estavam cadastrados na plataforma e, em março de 2022, o número passou para 2.094.

Conforme a secretária da pasta, Josiane Laborde Rauber, os atendimentos do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), órgão que auxilia no encaminhamento da documentação, a esse público tem aumentado expressivamente. “Grande parte dos estrangeiros busca apenas orientações de como ter sua documentação regular. Quando há a procura por qualquer serviço da assistência social, faz-se o atendimento necessário para a família. No início a comunicação é umas das grandes dificuldades, mas são utilizados aplicativos para tradução e, além disso, os imigrantes se auxiliam entre si”, conta.

 

Em busca de emprego

Na maioria dos casos, os estrangeiros chegam ao município sem emprego ou moradia, sendo que, conforme a secretária, a vinda é motivada pelas oportunidades de trabalho aqui disponíveis. “É comum o apoio entre os amigos que cedem temporariamente auxílio aos mesmos”, pontua.

Em decorrência do desenvolvimento econômico da cidade, a secretária menciona que a tendência é que haja cada vez mais empregos e, consequentemente, a imigração aumente no município.

 

Perfil dos estrangeiros

Paraguai, Gana, Serra Leoa, Haiti, Senegal, Bangladesh, Guiné-Bissau e Mauritânia lideram os locais de saída do imigrante que chega a Marechal Rondon, de acordo com a Secretaria de Assistência Social. Há também estrangeiros vindos da Argentina, Venezuela, Nigéria, Mali, Marrocos, Gambia e Cuba, porém em menor grau. “A maioria dos imigrantes são homens entre 20 e 50 anos, com Ensino Médio completo. Muitos vêm sozinhos e posteriormente buscam suas famílias no país de origem”, expõe Josiane.

 

Refugiados da Ucrânia

O Paraná é o Estado que mais recebeu imigrantes da Ucrânia no país. No entanto, Marechal Rondon ainda não recebeu refugiados ucranianos. “No momento não temos conhecimento de ucranianos no município”, informa.

 

Migrações também estão em alta

O município também tem sido um chamariz no que diz respeito às migrações. Isto é, quando pessoas se deslocam dentro do próprio país. Raimundo Filho, Nilton Cesar, José Carlos, José Carvalho, Geovani Gomes de Araújo e outros 12 homens vieram do Piauí e do Maranhão com emprego garantido em Marechal Rondon.

À reportagem de O Presente, eles contam que estão no município há seis meses e que o deslocamento aconteceu devido às melhores oportunidades de trabalho que têm por aqui. “Trabalhamos com linhas de transmissão e até tem emprego por lá, mas não tanto quanto aqui. Lá as empresas são ‘mais fracas’ e a gente ganha mais trabalhando fora do nosso Estado. Como viemos com a empreita pronta, assim que concluir nós vamos voltar”, disse um deles.

Apesar da rápida passagem, os migrantes conseguiram conhecer Marechal Rondon e gostaram do que viram. “O calor judia um pouco, porque lá a temperatura é mais constante. Agora que está bom, com esse friozinho”, pontuam. “O meu coração gostou daqui, mas a minha esposa não, então preciso voltar”, brincou um deles.

A vinda foi a trabalho, mas os migrantes levarão boas lembranças de Marechal Rondon (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

 

 

Família ganesa veio em busca de atendimento de saúde

Há cinco anos, Hawa Raway veio de Gana, na África, para Marechal Rondon, acompanhar o marido. Na época, ela tinha 24 anos e havia recém se formado no outro continente, na área da Educação, enquanto seu esposo estava desde 2014 em solo brasileiro.

Diferente de outros casos, a motivação que fez o casal ficar no Brasil não foi especificamente a oferta de trabalho, mas, sim, a assistência de saúde. “Meu marido, Ahmed Tijani, veio para o Brasil assistir à Copa do Mundo em 2014. Primeiro ele ficou em Natal (Rio Grande do Norte) e depois foi para São Paulo, onde encontrou um amigo brasileiro. Meu marido tem problema no pé e esse homem disse que tem médico bom por aqui. Aí pensamos, se ele ficasse talvez os médicos daqui conseguiriam deixar o pé dele melhor”, conta ela ao O Presente.

Diante da “descoberta”, o marido conversou com Hawa e a família decidiram fixar residência por aqui. “‘Veio’ uma oportunidade de trabalho em Marechal Rondon, na Copagril, e ele veio para trabalhar aqui. Já no município ele fez o cadastro para conseguir a cirurgia”, relata, emendando que também tem plano de saúde para tentar “agilizar” o atendimento.

 

Tempo de espera

Hawa diz que, até então, ainda estava em Gana, trabalhando na sua área de formação, mas como a cirurgia do marido é complicada ela decidiu vir para cá. “Ele precisa colocar uma prótese, é um pouco complicado. Na África as coisas de saúde demoram muito. Aqui também demora um pouco, mas estamos esperando”, relata.

No segundo mês por aqui, Hawa engravidou e a filha do casal, Hassana, nasceu em Marechal Rondon; hoje ela tem cinco anos. Nos primeiros anos de vida da filha, a ganesa ficou em casa cuidando dela, mas começou a trabalhar recentemente.

 

Do real para o dólar

Ela conta que nos primeiros anos morando em Marechal Rondon havia mais estrangeiros no município e, segundo ela, muitos foram para os Estados Unidos. “Dizem que o salário do trabalho aqui é pouco e precisam mandar para a família. Para mim o valor é bom, até porque tem (vale) alimentação junto. Quando a gente manda dinheiro para a família na África precisa mudar do real para o dólar e como a variação está grande acaba não compensando. Por isso estão saindo do Brasil”, pontua.

 

Percepções

Outro ponto que chamou atenção da ganesa por aqui é a educação. “Minha filha começou na creche e cuidaram bem dela. Agora, na escola, vejo que não tem muitas professoras para o tanto de alunos”, observa, acrescentando, contudo, que a filha tem se adaptado ao ambiente escolar.

Marechal Rondon tem pessoas boas, mas, como em todo lugar, há pessoas ruins também, avalia a imigrante. “É uma cidade bem calma e a gente fica tranquilo. Não é que nem cidade grande que tem muito crime e roubo. Por outro lado, tem muita discriminação e racismo aqui. Nem todo mundo precisa gostar de todo mundo, isso é normal, mas é preciso ter respeito. Acho que quando a gente não gosta de alguém precisa deixar no coração, mas aqui ‘eles’ falam para você saber. Para Deus a gente é tudo igual”, afirma.

No final das contas, a família pretende voltar para Gana depois que conseguir o atendimento de saúde. “Eu estudei e tenho certificado para trabalhar lá. Estaria ganhando bem, mas vim aqui cuidar do meu marido. Quando a gente resolver esse problema vamos voltar para nosso país, mas não vou esquecer daqui, porque é a cidade da minha filha”, destaca.

 

O Presente

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