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Marechal Recicláveis

Coleta do “lixo bom” continua gerando reclamações em Rondon; conheça o novo cronograma de recolhimento

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Fotos: Leme Comunicação

A cada dia que passa, o número de sacolas que condicionam os resíduos recicláveis em frente à casa de uma moradora* do Loteamento Port III, em Marechal Cândido Rondon, aumenta. Não apenas na residência dela, mas de outros vizinhos que moram na mesma região.

Segundo ela, ontem (24) a coleta voltou a ocorrer após cerca de duas semanas sem caminhões ou catadores passarem no bairro, porém, a situação não ocorre apenas no Port III e nem é a primeira vez que o problema desagrada os cidadãos rondonenses.

No município, os resíduos recicláveis – o lixo bom – são coletados pela Cooperativa de Agentes Ambientais de Marechal Cândido Rondon (Cooperagir), que conta com 45 pessoas que tiram da venda dos materiais recicláveis recolhidos o sustento de suas famílias.

Conforme a coordenadora da entidade, Caroline Bunzen, os problemas no recolhimento do lixo em alguns bairros do município têm ocorrido pelo processo de ajuste entre a Cooperagir e a Associação de Catadores Amigos da Natureza (Acan), fundada em Marechal Rondon em maio deste ano. “No dia 02 de agosto um novo cronograma de recolhimento passou a entrar em vigor no município e a população ainda não está adaptada a esse novo calendário”, ressalta. “Apesar de alguns trajetos ainda estarem sendo reavaliados, o roteiro definitivo será o que divide a cidade em quadrantes e separa uma região para a Cooperagir e outra para a Acan”, enfatiza Caroline.

Além disso, desde o último dia 17, a Cooperagir atua sem um dos caminhões, que apresentou defeitos e foi substituído por outro menor no período de manutenção. “Foi um dos caminhões grandes, um truck, que volta às ruas hoje (25). Neste período, utilizamos um outro veículo, que é cerca de quatro vezes menor que este caminhão, para a coleta, o que prejudicou o recolhimento em determinados bairros”, esclarece a coordenadora, informando que hoje a cooperativa atua com três veículos na recolha do lixo reciclável, além de possuir um quarto, significativamente menor, para situações de emergência.

Caroline pontua que outra mudança que pode ter implicado no acúmulo do lixo reciclável em alguns bairros é que hoje a Cooperagir não entra em trajetos atrasados. Na prática, isso quer dizer que se por algum motivo, como chuvas intensas ou quebra de caminhões, determinado bairro não teve a coleta na data programada, no dia seguinte a coleta não será retomada de forma “atrasada”. “Fazemos isso como forma de a população não confundir o cronograma e lembrar do dia exato que a coleta será feita em sua casa, tendo em vista que hoje os munícipes não estão adaptados ao novo calendário”, salienta.

 

Formalização

Ao avaliar que uma das principais dificuldades para a logística de recolha de resíduos recicláveis ainda é a falta de conscientização da população tanto sobre a separação dos materiais orgânicos e recicláveis, quanto a colocação do lixo para a recolha na data correta em cada bairro, o engenheiro ambiental da Secretaria de Agricultura e Política Ambiental, Marcos Chaves, avalia que o processo de adaptação e definição da divisão do município entre a Acan e a Cooperagir possa ter interferido nas coletas regulares.

Ele explica que a Acan foi fundada por um grupo de catadores que buscou a legalização de seu trabalho de acordo com a Política de Resíduos, que, conforme Chaves, diz aos municípios para incentivarem tais práticas e não a coleta realizada por catadores autônomos. “Além de normatizar este trabalho para os profissionais, o município tem a possibilidade de contratar essas organizações para a coleta dos materiais recicláveis, todavia, mais do que a questão ambiental para o município, também observa-se a questão social para quem tem da coleta a renda de suas famílias”, diz.

O principal motivo que levou à organização da Acan foram os conflitos que passaram a existir entre a entidade e a Cooperagir, que acabavam fazendo a coleta nos mesmos locais e aumentando o custo de trabalho de ambas. “Partindo disso, as duas entidades se reuniram junto ao Poder Público e foi definida uma divisão da cidade, de maneira justa para ambos, permitindo que tanto a Cooperagir quanto a Acan tenham material para recolher e também que a coleta ocorra em todos os bairros da cidade”, detalha.

O ajuste, segundo Chaves, levou algum tempo para ser definido, entretanto, os trabalhos já estão sendo desenvolvidos pelos dois órgãos em trajetos e calendários definitivos. “A Acan ainda está passando por trâmites burocráticos, de licenças ambientais, alvarás, entre outros documentos, contudo o município trabalha para que quando todo esse processo estiver concreto possamos auxiliá-los ainda mais, colocando a associação em um local mais adequado, um barracão maior, que não esteja em uma região de residências como está hoje”, menciona.

A Acan conta com cerca de 15 pessoas que trabalham com a coleta dos materiais recicláveis, as quais, da mesma forma que a Cooperagir, tiram da venda dos resíduos sua renda mensal. Como a entidade está iniciando, Chaves comenta que ainda há algumas dificuldades, como a impossibilidade de o município contratar a associação para realizar a prestação do serviço para a municipalidade. “Mas estamos caminhando para isso. Demos o apoio e a assessoria necessária para a abertura da Acan, mas o custo do aluguel do barracão, manutenção do caminhão, combustível, entre outros, ainda são de total responsabilidade da associação, o que acaba onerando-os, pois o valor é retirado do total das vendas”, expõe.

 

Mudanças

Apesar de considerar cedo para avaliar as mudanças com a abertura da associação, devido ao processo de adequação das duas entidades e da própria população entender os novos calendários e de que dois órgãos atuam agora na coleta do lixo reciclável, o engenheiro ambiental da prefeitura afirma que a abertura da Acan foi benéfica para o município. “Porém, ter duas entidades prestando este serviço, ambas querem a melhoria contínua de seus serviços para que coletem mais material e tenham maior renda para o rateio entre cooperados e associados, o que consequentemente também é bom para os munícipes”, declara.

Nos setores em que a Cooperagir atua, Chaves considera que a frequência da coleta melhorou, entretanto, ainda está sendo traçado um caminho para que a recolha do lixo reciclável aconteça de forma plena em Marechal Rondon. “Há perspectivas de investimentos da prefeitura para esse setor, especialmente por um convênio com a Itaipu Binacional, que permite nos próximos três anos investirmos na organização dos catadores”, detalha.

Entre os projetos para a aplicação do recurso está a melhora na usina de triagem, que historicamente possui um problema significativo do passivo de rejeitos. “São materiais que não são vendidos pela falta de mercado ou porque o lixo não foi separado de forma correta pela população”, enfatiza.

Na visão de Caroline, a qualidade da usina de triagem melhorou significativamente com o início da retirada dos rejeitos, tanto do ponto de vista ambiental, quanto para quem trabalha no local. “Há cerca de quatro semanas um trabalho de limpeza para retirada dos rejeitos iniciou”, informa. “O rejeito acumulado gera um passivo grande para o município e a consequente dificuldade de destinar, porque isso tudo é levado para o aterro sanitário que segue as normas vigentes na célula instalada. A princípio teremos caminhões que retirarão esses rejeitos diariamente, porém, nos investimentos previstos, há a intenção de colocar na usina de triagem um caminhão roll on roll off, onde uma caçamba metálica receberá os rejeitos diariamente e, ao fim do dia, serão levados ao aterro sanitário, voltando no dia seguinte”, complementa Chaves.

Ele diz que há um esforço também para padronizar o acondicionamento do lixo reciclável. “Fizemos um projeto-piloto no bairro Boa Vista com sacolas de ráfia para a destinação dos materiais recicláveis e temos a intenção de ampliar para outros bairros”, informa.

A expectativa é de que a partir deste projeto o morador tenha duas sacolas e quando é retirada a sacola com o lixo reciclável pela Acan ou Cooperagir, uma nova é entregue na residência. “Mas ainda notamos que a consciência de separação e correto condicionamento é pouca no município. Mesmo neste projeto-piloto, as sacolas específicas para os materiais recicláveis vinham com roupas, calçados, grama, folhas, entre outros materiais não recicláveis, então há necessidade de uma consciência coletiva dos rondonenses para funcionar o todo”, ressalta.

 

Conscientização

Para a melhora do processo dos resíduos recicláveis em Marechal Rondon, aliado aos projetos e investimentos pretendidos pelo município, o engenheiro ambiental destaca ser fundamental a conscientização dos rondonenses sobre a separação do lixo. “Quando a pessoa mistura alimentos aos materiais recicláveis ou não faz a limpeza das embalagens ele acaba se tornando rejeito ou o valor da venda deste material é diminuído”, explica.

O material reciclável, pontua Chaves, é materiais limpo e seco. “Se por algum motivo a coleta não aconteça, por conta de um feriado ou chuva contínua, se o material estiver condicionado de forma correta, ele continuará sendo reciclável. Contudo, se ele estiver misturado ao lixo orgânico, não lavado e seco, com mau cheiro e insetos, ele deixa de ser reciclável e vira rejeito, indo para o aterro sanitário”, alerta. “É da consciência de cada um fazer a separação. Entendo que o material reciclável é aquele que é condicionado corretamente, protegido de insetos e não gerando mau cheiro, de forma pronta para ir para a indústria e ser transformado”, salienta.

Alguns materiais, como papelão e papel, por exemplo, perdem a qualidade e deixam de ser recicláveis quando expostos à chuva e à umidade, entretanto, o engenheiro ambiental destaca que quando as sacolas estão bem fechadas e o material bem separado, não haverá contato com a água e perda de qualidade para reciclagem. “Mais do que a correta limpeza e separação do lixo para destinação correta, a consciência ambiental da população com os materiais é necessária para a questão da salubridade de quem trabalha com o material. Temos uma lei clara que diz que a separação do lixo para a coleta seletiva é obrigatória a todos os cidadãos. Os munícipes pagam uma taxa de lixo então a recolha é direito e deve acontecer, mas também é dever do cidadão a correta separação e condicionamento para que a reciclagem e esse processo de logística aconteça de forma completa. A população rondonense não está completamente consciente disso e apesar de haver aqueles que separam e condicionam muito bem o lixo, a maior parte da população não faz corretamente esse processo”, lamenta Chaves.

 

Avançar mais

Ele considera que o município possui bons resultados na destinação dos materiais recicláveis, especialmente pelo Poder Público ter a possibilidade de manter um contrato com uma cooperativa para a prestação do serviço. “Em nível nacional é bastante raro isso acontecer, tanto que fomos indicados ao Prêmio Pró-Catador, iniciativa do Ministério Público do Trabalho para municípios que contratam cooperativas de catadores”, enaltece.

Por outro lado, ele diz que ainda há muito a avançar, tanto na conscientização quanto na profissionalização de catadores. Hoje não há um número exato de catadores independentes, também chamados de “garimpeiros”, que buscam nos materiais recicláveis aqueles de maior valor, como papelão, latinhas e garrafas pet. “Essas pessoas normalmente têm esse trabalho como forma de agregar uma renda a mais, mas não têm na coleta do material reciclável sua profissão e, enquanto município, buscamos incentivar a organização dessas pessoas em cooperativa ou associação para que a coleta do material seja total e não parcial”, considera.

Caroline aponta que um dos principais agravantes do trabalho da Cooperagir está justamente no trabalho dos catadores autônomos, que fazem a coleta parcial e principalmente dos materiais de maior valor, reduzindo a renda dos cooperados. “Outro grande problema é a correta separação do lixo pelas pessoas, que acontece de forma falha”, acrescenta.

Chaves cita que é importante que os munícipes observem se o recolhimento em suas casas é feito pela associação ou cooperativa, ou se é por um terceiro, que normalmente tem o interesse apenas em alguns materiais, deixando os que têm menor valor de mercado nas residências. “Se a pessoa souber o calendário de quando a coleta ocorrerá em seu bairro, deixando o lixo no dia correto ou no dia anterior, a chance de um catador independente fazer a coleta parcial é menor”, frisa.

A programação do Poder Público é realizar a divulgação dos novos calendários e trajetos por meio de folders e imãs de geladeira, que serão entregues nas residências com o dia da coleta no bairro para aprimorar o serviço. “Essas ações e investimentos estão programadas para os próximos meses e para 2019”, indica.

 

*A identidade não foi revelada a pedido da fonte

 

 

Mapas

Com abertura da Associação de Catadores Amigos da Natureza (Acan), o município foi dividido em setores, onde é feita a recolha pela associação em um setor e, no outro, pela Cooperagir. Confira os mapas.

 

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