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Silvana Nardello Nasihgil

A vida é feita de escolhas e a gente colhe o que planta

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Vivemos uma época em que se tornou muito comum ouvirmos queixas relacionadas ao comportamento das pessoas, do tipo: não acredito que fulano fez isso; fulano perdeu o bom senso; traições, brigas, confusões, desrespeito e inúmeras atitudes que de tanto se repetirem já começamos até a normalizar.

Está tudo muito confuso. Está difícil falar, opinar, ser sincero(a), verdadeiro(a), mesmo que educadamente, está difícil e dá medo até de pensar.

É certo que o mundo mudou, os valores mudaram, as pessoas mudaram e tudo hoje está ligado à satisfação pessoal que precisa acontecer em tempo recorde, e as respostas absurdas: eu sou assim, eu quero assim, eu penso assim, eu não vou mudar, tem que ser do meu jeito…

O mundo vem se transformando e as pessoas vêm atropelando tudo para acompanhar.

Estamos perdendo os sentimentos mais valorosos que nos tornam humanos: gratidão, empatia, amorosidade, respeito, comprometimento, responsabilidade emocional, piedade… Estamos perdendo a capacidade de amar e isso está deixando as pessoas vazias, sem propósito, sem rumo e doentes.

Um dia somos o amor da vida de alguém, no dia seguinte esse sentimento já deixou de existir e é substituído com a mesma facilidade de uma troca de roupas.

A resposta dessas mudanças certamente não é um mundo melhor para se viver.

Por mais que a tecnologia esteja nos surpreendendo todos os dias com coisas incríveis que facilitam muito as nossas vidas, em contrapartida, estamos emburrecendo emocionalmente, estamos perdendo a nossa humanidade, a sensibilidade e tudo o que nos diferencia dos animais.

Não estamos mais sabendo lidar com as relações afetivas e com as emoções, com isso não estamos mais sabemos administrar os nossos sentimentos e muito menos nos relacionar saudavelmente com os outros. Tudo o que é dos outros parece bobagem, certo mesmo somos nós. Nos tornamos um tereno muito fértil para a criação de “mimimis”, criando teorias pessoais, mesmo sem lógica, perdendo muito, brigamos pelo direito de termos razão.

Vai chegar uma hora que a conta vai chegar, porque a vida não espera que cada um resolva as suas bagunças internas para continuar. A vida vai acontecendo e, ao invés de agregarmos positividade e construirmos um futuro consistente emocionalmente, estamos destruindo o melhor de nós, estamos nos perdendo e perdendo quem amamos. Estamos nos tornando coisas, engolidos pela urgência de responder nossas emergências desconstruídas, vamos atropelando tudo.

Se não pararmos para nos autoavaliarmos, chegará o dia que iremos olhar em torno e descobriremos que os que realmente importavam se foram. Se foram porque cansaram de esperar por aquilo que sentiram não acontecer, lhes foram tiradas as possibilidades de sonhar, de construir e não foi mais possível se preencherem com o vazio.

E aí??? Acordaremos e ao olhar para o lado quem ainda vai estar???

Talvez ninguém, e esse terreno frio e infrutífero que o futuro reserva pode não ter nada a ver com os outros, pode ser uma construção que estamos fazendo pelo tanto faz, pela falta de capacidade que estamos desenvolvendo de valorizar o que e quem realmente importa.

A vida precisa ser revista e avaliada todos os dias, as relações humanas são exigentes, precisam ser alimentadas, nutridas diuturnamente buscando fazer o que for necessário para que se construam relações saudáveis e duradouras.

Precisamos acordar, tomar para nós a responsabilidade nas relações que construímos, pois relações não são unilaterais. Não temos o direito de conquistar pessoas, torná-las importantes e especiais, e por achar que podemos fazer o que quisermos, simplesmente dizer: deu pra mim, vou ali e não volto mais.

Quem acredita não conseguir ser leal, sincero(a), respeitoso(a), honesto(a), quem não sabe se comprometer, conversar, buscar soluções conjuntas, não deveria jamais oferecer um espaço na sua vida a ninguém. Deveria viver sozinho(a), partilhar a vida com o celular, Netflix, jogos no computador, livros, cozinhar, pintar, correr… tudo o que possa fazer só, não envolvendo ninguém, evitando arrastar os de boa-fé para a sua confusão interior.

Só para lembrar: a vida é feita de escolhas e a gente colhe o que planta. Bem clichê isso, mas é a maior verdade que deveria nos fazer refletir o futuro.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

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