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“O agronegócio segue firme, forte e a todo vapor”, diz técnico do Deral

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Técnico agrícola do Deral de Toledo e especialista em agronegócio, João Luiz Raimundo Nogueira: “Neste contexto, o Brasil, maior fornecedor de alimentos, juntamente dos Estados Unidos, é o país que todo mundo continua de olho. Mas a preocupação estratégica do Brasil é assegurar o nosso próprio alimento” (Foto: Divulgação)

Apesar dos impactos no setor econômico em virtude das medidas restritivas de enfrentamento ao novo coronavírus, o setor do agronegócio segue firme e forte, conforme afirma o especialista em agronegócio e técnico agrícola do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à regional de Toledo da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), João Luiz Raimundo Nogueira.

“Se for analisar a fundo a economia brasileira, o agronegócio vem dado suporte há um bom tempo, especialmente nos momentos mais difíceis. Mesmo diante da situação atual, as exportações continuam em um bom ritmo, inesperado até e muito acima das minhas expectativas sobre exportação e demanda. O produtor está vendendo a preço recorde a safra que ainda nem foi plantada. No último dia 06 a saca da soja estava acima de R$ 100 no Porto de Paranaguá e a R$ 85 no balcão. O dólar influencia, mas as compras persistem”, enaltece.

De acordo com Nogueira, não existe nada mais estratégico do que a alimentação. “Em um momento de caos, a única coisa que não pode faltar é o alimento. Os países que precisam comprar, se abastecer e fazer estoque regulador estão ávidos para que isso aconteça. A meu ver, já existia um cenário favorável ao exportador brasileiro de grãos, de carne, mas em um momento de crise, quando se desenha uma recessão em todo o mundo, isso fica mais evidente”, frisa, acrescentando: “Institutos falam que o Brasil terá queda de 5% na atividade econômica e o mundo todo atravessará uma crise a partir do novo coronavírus”.

O técnico do Deral diz que muitos países como a China, com população numerosa, se preocupam em formar reserva de alimentos. “Se faltar comida a situação fica caótica. Então, o alimento é a última coisa a ser cortada. Este é o momento de se precaver para não faltar alimento e produção. Neste contexto, o Brasil, maior fornecedor de alimentos, juntamente dos Estados Unidos, é o país que todo mundo continua de olho. Mas a preocupação estratégica do Brasil é assegurar o nosso próprio alimento”, evidencia.

 

TRABALHO NORMAL

Ele salienta que, indiferente dos cenários provocados com as medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19, o agronegócio segue a todo vapor. “O produtor rural tem a característica de nunca parar de trabalhar. Se avaliar historicamente, sempre foi assim em várias crises. Exemplo é o Plano de Estabilização da Economia em 1994 e 1995, quando foi ‘debelada’ a inflação. Aquele plano tinha três ancoras: a cambial, a monetária e a verde. A monetária era para represar recursos porque não se sabia quanto dinheiro havia no mercado e isso gerava inflação. Cambial porque não tinha recurso para investir através dela, então se valorizou a própria moeda a tal ponto de favorecer as importações. E a verde de não parar de produzir alimentos, que permanece até hoje”, relembra.

Na opinião do especialista, o agricultor não vai parar de produzir mesmo num momento de crise aguda como a vivida atualmente. “Até porque, do ponto de vista da valorização das commodities, milho, soja, suíno e frango, esses produtos estão extremamente valorizados, uma vez que as exportações continuam em um bom ritmo e acredito que isso se deve em função de que países compradores estão preocupados com a falta de alimentos que pode ocorrer devido a esta crise. Os países estão comprando pensando justamente no pior. Nós deveríamos nos preocupar com isso também”, pontua Nogueira.

 

TRANSPORTE

De acordo com ele, um dos problemas do Brasil é que o transporte de alimento é feito através de rodovias, pois não há ferrovias e nem rios navegáveis. “Precisamos transportar tudo via rodoviária e você acompanha a dificuldade que os caminhoneiros enfrentam por falta de infraestrutura. Este custo aumenta neste período, mas até o momento não tem sido um problema sério”, destaca.

 

SAFRA EM RISCO

Por outro lado, menciona Nogueira, existe preocupação em relação à safra de inverno. “Ela foi semeada tarde devido ao atraso na colheita da cultura da soja, ou seja, entramos com expectativa de menor produtividade devido ao atraso pela época inadequada. O que foi semeado mais tarde corre risco de muito frio e ainda enfrenta estiagem, e tudo isso tem causado muita apreensão”, salienta.

Em vista disso, ele comenta que a safra de milho tem projeção menor do que a do ano passado, que foi considerada ótima em toda a região Oeste. “Hoje a estimativa é colher 2,4 milhões de toneladas na região, sendo que no ano passado foram 3,1 milhões de toneladas, o que representa uma diminuição de 23% na produtividade. Para completar, 20% da safra de milho se encontra em um período crítico, na fase de floração, ou seja, não pode faltar umidade de jeito nenhum. A safra pode ser menor do que se imagina”, frisa.

 

MERCADO

Safra menor, lembra o técnico do Deral, é sinônimo de menos milho, principal insumo para frangos e suínos. “O milho é importantíssimo. Atrai divisas ao Estado e aos municípios, pois se tornou um produto de exportação. O Brasil bateu todos os recordes com mais de 40 milhões de toneladas de milho exportadas, apesar de o produto dar suporte maior ao mercado interno do que ao externo. Hoje é mais interessante vender no país devido, principalmente, às plantas industriais existentes”, expõe, acrescentando: “O produtor de milho passou por momentos difíceis com preço baixo, porém no momento em que o mercado é favorável entendo que devemos deixar as coisas fluírem de acordo com ele (mercado)”.

Segundo o especialista, as demandas internas têm dado respaldo ao milho, que se mostra mais sustentável ao país. “Já a soja é muito dependente do mercado externo, mesmo com a média recorde de colheita de 150 sacas por alqueire na região. O milho é mais estratégico e imprescindível ao Brasil”, avalia Nogueira.

 

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