Agronegócio Perdas irreparáveis
Excesso de chuva causa prejuízos em lavouras de soja de Marechal Rondon e região
Além de efeitos físicos e químicos prejudiciais ao solo, dias nublados prejudicam desenvolvimento vegetativo das plantas. Em caso de lavouras recém-plantadas, há risco de “cascão”
A chuva em abundância esteve em evidência neste mês no Paraná, deixando cidades devastadas e enormes prejuízos em todo o Estado.
Mesmo onde não houve muita destruição, os impactos da água em excesso também são perceptíveis, como é o caso de Marechal Cândido Rondon, que registrou o acumulado de 374 milímetros de chuva em 20 dias (clique aqui e confira uma análise das chuvas de outubro).
Com lavouras recém-plantadas e áreas ainda a serem semeadas, a agricultura é uma das afetadas pelo excesso de chuva. Por um lado, alguns produtores veem plantas jovens lidarem com a chuvarada e, de outro lado, agricultores esperam o tempo firmar e o solo ter condições adequadas para implantação da cultura.
A reportagem do O Presente conversou com o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha para entender os impactos que a chuva dos últimos dias causou nas lavouras da região.
Perda de nutrientes no solo
Conforme o profissional, muita chuva acumulada em um curto intervalo de tempo gera prejuízos diretos na agricultura. O primeiro efeito é a aceleração da solubilização dos fertilizantes no solo, um prejuízo de ordem química.
“Há perda de fertilizantes por lixiviação no solo, o que afeta diretamente a disponibilidade de nutrientes que essas plantas teriam”, pontua.
Também há efeitos de ordem física, que são os problemas de erosão. “O escorrimento de água pode formar valetas e sulcos nas lavouras, levando pequenas plantas embora. Além disso, a parte fértil do solo que está na superfície é levada para áreas de baixada e até para dentro dos rios quando o volume de chuva é muito grande”, salienta Cunha.
Falta de luminosidade
Em Marechal Cândido Rondon e região, as primeiras lavouras de soja têm plantas com 40 a 50 dias e, consequentemente, foram afetadas pela falta de luminosidade nos dias de tempo fechado.
“A planta acumula energia através da fotossíntese no desenvolvimento vegetativo, o que depende da luz solar para acontecer. Nos últimos 30 dias, que correspondem a 25% do ciclo da soja, tivemos aproximadamente 15 dias com ausência do sol. Metade deste período não teve a luminosidade necessária, então já tivemos perda”, explica o engenheiro agrônomo.
Segundo ele, os prejuízos da falta de luminosidade nesse período são irreparáveis. “Com o tempo abrindo, a planta retoma esse processo de fotossíntese de uma maneira mais acelerada, porém parte do prejuízo que já aconteceu não tem como ser reposto, porque a soja tem seu ciclo mais ou menos determinado pelo número de dias”, pontua.
“Cascão” no solo
Em caso de lavouras plantadas pouco tempo antes das chuvas abundantes, o agrônomo indica a possibilidade do selamento do solo, popularmente conhecido como “cascão”.
“O solo encharcado da chuva seca e forma algo como um cascão sobre a linha de semeadura, fazendo com que a soja ali plantada tenha dificuldades para emergir”, expõe.
Cunha diz que algumas pequenas áreas ainda devem ser plantadas na região de Marechal Rondon e dá algumas orientações aos agricultores. “O cuidado que o produtor precisa ter é não plantar com o solo muito molhado, porque não dá condições para uma boa cobertura e um bom contato solo/semente, não removendo os bolsões de ar em função do excesso de umidade”, menciona.
Apesar da chuva
Apesar das chuvas, a maioria das áreas encontra-se em uma situação confortável, considera o profissional. “O número de plantas por metro está melhor do que nos anos anteriores, assim como a qualidade das sementes, fazendo com que as lavouras também estejam em boas condições”, avalia.
O Presente