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O que pensa Ricardo Vélez-Rodríguez, futuro ministro da Educação

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Ricardo Vélez-Rodríguez é filósofo, teólogo e tem em seu currículo lattes um pós-doutorado em Ciências Humanas (Foto: Reproduação)

Assim que foi sondado, no início deste mês, para o possivelmente integrar o governo, o futuro ministro da da Educação no governo de Jair Bolsonaro, o filósofo e teólogo Ricardo Vélez-Rodríguez elencou em seu blog uma série de ações que acredita ser essencial para a educação brasileira. Para ele, a vida cidadã está sufocada pelo excesso de leis.

Este modelo, na sua avaliação, tornou “os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana'”.

O discurso afinado contra o “nós contra eles”, que virou marca antipetista, e o selo de qualidade atestado por Olavo de Carvalho, espécie de mentor de Bolsonaro, foram essenciais para que Vélez-Rodríguez fosse anunciado ministro na noite de quinta-feira (22).

Além de filósofo, ele é teólogo e consta em seu currículo lattes um pós-doutorado em Ciências Humanas pelo Centre de Recherches Politiques Raymond Aron, na França.

O filósofo venceu um impasse para conquistar o cargo no governo. A equipe de Bolsonaro também sondou o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Ramos, mas a indicação foi barrada pela bancada evangélica. O argumento foi que o professor não é claramente alinhado com bandeiras do grupo, como a Escola sem Partido e a luta contra a ideologia de gênero.

O professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no entanto, já tem afinidade com as pautas defendidas pelos grupos que apoiam o governo. No mesmo blog, o qual elencou as missões para a educação, ele republicou uma entrevista de 2004. Ele faz críticas ao PT, ao sistema atual de educação e à maneira como os políticos conduzem investimentos no setor.

Aqui 8 das principais ideias defendidas pelo futuro ministro da Educação.

 

1. Missão para o MEC

“Enxergo, para o MEC, uma tarefa essencial: colocar o sistema de ensino básico e fundamental a serviço das pessoas e não como opção burocrática sobranceira aos interesses dos cidadãos, para perpetuar uma casta que se enquistou no poder e que pretendia fazer, das Instituições Republicanas, instrumentos para a sua hegemonia política. (…)

Ora, essa tarefa de refundação passa por um passo muito simples: enquadrar o MEC no contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios, que é onde os cidadãos realmente vivem.”

 

2. Papel do professor

“O professor como mediador é essencial. Só que a forma de se realizar essa mediação [com o aluno] está mudando aceleradamente. Em primeiro lugar, destaquemos que a figura do professor como formador ainda é, ao lado dos pais, algo essencial para a educação da criança no ciclo básico. Hoje, com o desajuste da família, os pais se encostam, de forma comodista, na escola. Isso está errado. A crise da família é um dos nossos grandes problemas. (…) Uma escola que permite a discriminação das crianças por aparência, sexo, cor ou classe social, deseduca em termos éticos.”

“Com o desajuste da família, os pais se encostam, de forma comodista, na escola. Isso está errado”.

 

3. Conselhos éticos nas escolas

“Todas as escolas deveriam ter os Conselhos de Ética, que zelassem pela reta educação moral dos alunos. Não se trata de comitês de moralismo, nem de juntas de censura. Trata-se de institucionalizar a reflexão sobre matérias éticas e acerca da forma em que cada escola está correspondendo a essa exigência.”

 

4. Investimento em educação

“A primeira exigência é que o governo, nas suas várias instâncias (municipal, estadual, federal), passe a valorizar verdadeiramente os investimentos em educação. (…) Educação deveria ser algo sagrado. (…) O que se vê é o menosprezo dos políticos em face dos nossos mestres. (…) Acho que o Brasil, em matéria educacional, não está fazendo o dever de casa.

“Em matéria educacional, não está fazendo o dever de casa”.

 

5. Ensino à distância

“Deveria ser criada já, no nosso país, a Universidade Federal de Ensino à Distância (de forma semelhante a como fizeram os socialistas espanhóis na década de 80), para garantir a cada um dos nossos mestres de ensino primário e secundário a possibilidade real de se formar e aperfeiçoar no domínio das novas tecnologias e nos conteúdos programáticos, passando a ganhar dignamente e sem ter de sair das suas comunidades. (…)

Sinceramente, fiquei decepcionado com o governo do PT quando o ministro que poderia ter levado adiante essa tarefa foi demitido à distância (pelo telefone). Logo o PT que fala tanto em cidadania e em direitos humanos!”

 

6. Arte e valores

“O universo da pessoa é constituído pelos valores. Estes consistem em entidades ideais, de tipo relacional, que se atualizam quando a pessoa valora. O caso típico é o dos valores estéticos: os quadros de Van Gogh, ou de Di Cavalcanti têm valor estético, por exemplo, quando são apreciados.

A Nona Sinfonia de Beethoven existe enquanto obra de arte, quando assistimos à sua execução pela Sinfônica Brasileira no Teatro da cidade. Se jamais for executada, a Nona Sinfonia não realiza o seu valor estético.

Ora, quem confere valor à obra de arte é o expectador. Por isso é estúpida a posição dos que acham que a apreciação artística é coisa de minorias.

Tem muita gente por aí que pensa que arte é privilégio de casa grande, deixando a senzala do lado de fora. Isso é burrice e conspira contra a essência da arte, que consiste em as pessoas apreciarem, cada vez mais, as obras artísticas.”

“É estúpida a posição dos que acham que a apreciação artística é coisa de minorias”.

 

7. Desvalorização da cidadania

“‘O mundo é dos espertos’, estamos cansados de ouvir isso na sala de aula, no guichê da repartição pública, no sindicato, em casa. (…) Essa espertice é a responsável pela desgraça de termos, no Brasil, cidadãos de primeira e de segunda. Se pertencermos ao Partido atualmente no governo, estamos feitos. (…)

A lei tem peso para quem está por fora do privilégio. Essa é a verdadeira causa do nosso atraso. E essa é a causa da desvalorização do conceito de cidadania. O cidadão brasileiro, como afirma Roberto Da Matta, é um pobre João ninguém que tem vergonha de si mesmo.”

“A lei tem peso para quem está por fora do privilégio. Essa é a verdadeira causa do nosso atraso”.

 

8. Estudos humanísticos

“As pessoas querem saber. Mas os administradores do conhecimento ainda pensam com mentalidade profissionalizante ou de casa grande, como se os conhecimentos humanísticos fossem coisa de especialistas ou de minorias. Todo mundo, principalmente o povão, quer conhecer, se ilustrar. Não podemos sonegar essa riqueza aos nossos semelhantes.”

 

Com MSN Notícias

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