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Dom João Carlos Seneme

Encontramos o Senhor enquanto Ele caminhava conosco

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Neste domingo (23), através dos discípulos de Emaús, vamos descobrir que o Ressuscitado está perto da humanidade. O Evangelho, ambientado no Dia de Páscoa, narra o episódio dos dois discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). O Ressuscitado, com sua Palavra e presença, quer animar os corações magoados e desolados. Ele se revela sempre na comunidade dos discípulos reunida para ouvir a Palavra e partir o pão (Eucaristia) e envia os discípulos como testemunhas da ressurreição.

A cena de Emaús é uma obra-prima de catequese litúrgica e missionária. Ela contém o itinerário de dois discípulos que deixam Jerusalém e retornam a Emaús desiludidos e tristes, percorrendo cerca de 11 quilômetros. Normalmente a viagem é feita de dia, a maior parte do tempo em subida. O retorno costumava ser feito ao cair da tarde. Duas viagens, durante o dia mais tranquila, e a outra parte, de noite mais cansativa. Na primeira, há o Senhor que caminha ao lado deles, mas não conseguem reconhecê-lo; na viagem de volta, mais difícil, o sentem mais próximo, mas não o reconhecem ainda. O caminho real de Jerusalém a Emaús simboliza o caminho através das Escrituras que possibilita o reconhecimento do Senhor no partir do pão.

No início eles querem “fugir” para Emaús porque a sombra do Crucificado ainda os assusta. É difícil lidar com a frustração, por isso a necessidade de se fechar, “lamber” as feridas. A crise da cruz parece ter sepultado toda esperança. Aquele Mestre que acendeu o sonho de um mundo melhor, levou consigo a esperança e deixou o vazio. Na comunidade ouviram algumas mulheres contanto que o Mestre ressuscitou, mas isto não é suficiente para trazer de volta o sonho. Neste momento um desconhecido os alcança e começam a conversar sobre tudo o que aconteceu: “Jesus se pôs a caminhar com eles. Mas seus olhos não eram capazes de reconhecê-lo”.

O primeiro passo é reavivar a memória: falar de Jesus, como Ele era, relembrar suas atitudes e suas ações. Os olhos não se abrem imediatamente, mas o coração começa a arder. Quem sabe não podemos também utilizar este método em nossas comunidades: falar mais de Jesus, retomar os evangelhos que narram suas ações, inclusive reviver sua morte como extremo ato de amor. Este é um sinal importante: se conseguimos nos comover com Jesus, se suas palavras atingem o nosso coração, é sinal de que nossa fé está despertando.

Isto é só o começo, precisamos ir além. Os discípulos começam a ficar contentes e convidam o desconhecido a entrar em sua casa, convidam para o jantar e, neste momento, os olhos se abrem e eles reconhecem o Senhor. É o que acontece conosco na ceia eucarística: precisamos deste alimento para reavivar nossa fé, animar nossa esperança e retomar a missão com mais ardor. Não podemos experimentar tudo isto fechados na segurança de nossas casas, precisamos da comunidade como mediadora. “E levantando-se no mesmo instante, voltaram a Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e contaram o que lhes havia acontecido pelo caminho”.

A lição que nos fica é a perseverança. Precisamos insistir. Muitas vezes a minha comunidade não é aquela que sonhei, mas é nela que habita o Ressuscitado. “Onde um ou dois estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”.

A celebração da eucaristia é um momento abençoado e privilegiado de encontro com o Senhor. É ali que muitos corações começam a arder e recuperam o verdadeiro sentido de discípulo missionário do Senhor.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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