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Dom João Carlos Seneme

O poder e o amor

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Em um sugestivo e dramático contraste, as leituras deste domingo (17) nos apresentam, de um lado, o quarto canto do servo de Javé, que oferece sua vida e sofrimento pelos outros; de outro lado, o pedido dos dois filhos de Zebedeu, que pedem os primeiros lugares no Reino. A vida do servo sofredor tem sentido no dom e no serviço para a libertação da humanidade, enquanto os filhos de Zebedeu pensam somente no poder e no desejo de domínio. Duas maneiras de viver, dois estilos de vida que interrogam os fiéis de todos os tempos: viver para si ou para os outros?

No evangelho, Jesus faz o terceiro anúncio da paixão. A reação dos discípulos impressiona porque revelam a total incompreensão do caminho de Deus, que não é aquele que escraviza, mas que indica que da morte na cruz renasce a vida.

Diante do pedido de Tiago e João, Jesus apresenta o cálice e o batismo. O cálice indica o sofrimento e o batismo (imersão); é símbolo da morte. Deste modo, Jesus, através destas parábolas, coloca os dois irmãos diante da autêntica compreensão do Reino e indica como participar dele: seguir Jesus significa seguir um caminho que passa por sofrimento e morte.

Os outros discípulos manifestam a sua indignação e Jesus aproveita a situação para catequizá-los e aprofundar a reflexão. Jesus sublinha a diferença entre os potentes do mundo e a Igreja de Cristo. A expressão “entre vós” chama a atenção dos leitores do evangelho e oferece uma regra comunitária que indica um novo modo de pensar e agir: na Igreja de Deus os relacionamentos se baseiam na oblação (dom de si) e não no poder. A cruz de Jesus se torna modelo do caminho do seguimento.

Na sociedade civil as coisas funcionam desta maneira: há aqueles que são considerados chefes, que dominam e exercem o seu poder. Na nova comunidade de Jesus outros sinais deverão dar identidade a esta comunidade: “quem quiser ser grande, que se faça vosso servidor, e quem quiser ser o primeiro, que se faça vosso escravo. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgaste por muitos”. O resgate é o preço dado para libertar um prisioneiro de guerra ou um escravo. Jesus utiliza este exemplo para anunciar que ele salvará a humanidade que se encontra submetida à escravidão e à opressão por aqueles que exercem um poder abusivo. Por isso Jesus subverte este modelo; ele não quer ser um rei que escraviza e oprime, mas se coloca como um escravo que morre para salvar e pede que sua Igreja faça o mesmo.

Neste domingo acontece a abertura do Sínodo dos Bispos em todas as dioceses do mundo. O sínodo “é um corpo que caminha junto”. O tema do Sínodo é Uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão. Iniciou no último dia 10 com a celebração do papa na Basílica São Pedro e será encerrado em outubro de 2023. O desejo do papa Francisco é que Igreja seja toda sinodal: é aquela que “caminha junto”, aproximando cristãos leigos e leigas, religiosos, religiosa, padres e bispos em uma missão contínua para difundir o Evangelho.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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