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Dom João Carlos Seneme

Quantas vezes devo perdoar o meu irmão? Sempre

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No domingo passado (10), Jesus falou aos seus discípulos sobre como corrigir uns aos outros fraternalmente. Neste domingo (17) aborda o tema do perdão em nível individual e pessoal, o que afeta a grande maioria das pessoas. A pergunta central está na boca de São Pedro: “Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Sete vezes”?

A lei judaica indicava que se poderia perdoar até quatro vezes. Jesus, porém, afirma não há limites para o perdão. “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Em seguida Jesus conta a história de um empregado que foi perdoado de uma “fortuna inimaginável”. Vale a pena ressaltar que o texto salienta a grandeza de coração do senhor que perdoa a dívida: ele manifesta a compaixão em relação ao servo devedor.

Em seguida, somos apresentados a uma outra situação. Este mesmo servo tem um amigo que lhe deve uma quantia pequena. Ele não foi capaz de manifestar a mesma misericórdia e compaixão. Mandou colocar o amigo na prisão. Chama a atenção a atitude contrastante dos personagens: o senhor é bom e misericordioso enquanto o outro é mau e impiedoso.

A frase-chave é: “Não devias tu também ter misericórdia do teu companheiro como eu fui misericordioso para contigo”?

Com isso, Jesus não oferece apenas uma justificativa teológica para o perdão, mas também o caminho que o facilita. Se considerarmos a ofensa alheia como algo que ocorre exclusivamente entre mim e o outro, sempre encontrarei motivos para não perdoar. Mas se insiro essa ofensa no contexto mais amplo das minhas relações com Deus, de tudo o que lhe devemos e que Ele nos perdoou, o perdão ao próximo surge como algo natural e espontâneo. Se o perdão não ocorrer nem assim, teremos que recordar as severas palavras finais da parábola, muito interessantes porque indicam também o que significa perdoar setenta e sete vezes: perdoar de coração.

Todos somos devedores diante de Deus; nunca poderemos pagar nossas dívidas. Por isso constantemente pedimos perdão pelos nossos pecados. Deus perdoa e nos pede que perdoemos nossos irmãos: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim que nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Jesus deu o exemplo através de gestos concretos: Ele manifestou o amor do Pai até as últimas consequências. Na cruz, Ele morreu pedindo perdão para os seus assassinos. O cristão é seguidor de Jesus. Como se manifesta o perdão em nossas vidas, principalmente em relação a quem nos magoa?

Quem faz a experiência do perdão de Deus se envolve em uma dinâmica de misericórdia que determinará a forma de tratar os irmãos que erraram. Experimentar o amor de Deus e se deixar transformar por Ele significa assumir uma outra atitude para com os irmãos, uma atitude marcada pela bondade, pela compreensão, pela misericórdia, pelo acolhimento, pelo amor.

Se queremos uma comunidade realmente seguidora de Jesus, devemos praticar o perdão e a reconciliação. A comunidade cristã é a comunidade dos filhos e filhas de Deus, lugar onde se experimenta a paternidade de Deus.

Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, depois vai levar a tua oferta. Que esta palavra nos acompanhe e que a comunhão com o Corpo de Cristo nos dê a força necessária para começar a praticá-la.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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