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Treinadores rondonenses avaliam prejuízos aos atletas de futebol e futsal devido à pandemia

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(Foto: Arte/OP)

A pandemia do coronavírus gerou mudanças em todos os segmentos e atingiu também o convívio, interferindo nas atividades sociais, escolares e familiares, bem como na prática esportiva, uma vez que treinamentos foram suspensos e competições adiadas. Esse distanciamento do esporte trouxe prejuízos às crianças e aos atletas em formação.

Para treinadores de equipes das escolinhas de base de Marechal Cândido Rondon, tanto de times de futsal como de futebol, os impactos da pandemia estão tendo reflexos agora, mas também serão observados no futuro. Em entrevista ao O Presente, eles alertam para o risco da falta de estímulo esportivo e da futura dependência de eletrônicos, baixo nível de aprendizado, além de irritabilidade, alterações do sono, problemas psicológicos, desenvolvimento da ansiedade, entre outros efeitos causados pela quebra de rotina e das limitações diante das restrições para conter a propagação da Covid-19.

 

DESENVOLVIMENTO

O coordenador das escolinhas de base da Associação Atlética Cultural Copagril (AACC), Ademir Biesdorf, diz que as atividades dos cinco núcleos das escolinhas de recreação e categorias de base da Copagril, desenvolvidas em parceria com a prefeitura rondonense, estão paralisadas desde o mês de março, quando entrou em vigor decreto proibindo a realização de treinamentos. Na opinião dele, a não realização de atividades esportivas pode ocasionar falta de estímulos que são necessários ao desenvolvimento das crianças. “Longe das atividades, há risco de maior exposição a eletrônicos, como televisão, celulares e tablets, menor gasto de energia, maior agitação, irritabilidade, alterações no sono, ansiedade e danos ao desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo (intelectual) e social dos alunos”, pontua.

Biesdorf enaltece que a quebra de rotina foi impactante para as crianças. “Elas eram acostumadas a jogar futebol, futsal, correr e brincar ao ar livre rodeadas de amigos e isso tudo mudou de uma hora para outra. Hoje, são obrigadas a ficar em casa trancafiadas, privadas da convivência com seus avós e parentes queridos”, expõe.

Segundo ele, pais e familiares devem dedicar atenção especial aos pequenos neste momento. “Sabemos que não é fácil esse turbilhão de emoções, por isso temos que focar em preservar as nossas crianças o máximo possível”, frisa.

 

Coordenador das escolinhas de base da AACC, Ademir Biesdorf: “Longe das atividades, há risco de maior exposição a eletrônicos e danos ao desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e social dos alunos” (Fotos: Divulgação)

 

APRENDIZADO

Na visão do técnico de futsal Carlos Dürks, os principais efeitos da falta de treinos e competições nas crianças abaixo dos 11 anos são a falta de aprendizado, do prazer de estar em quadra, de praticar a modalidade, fazer novos amigos e de ter as primeiras experiências em competições, além de concentração de jogo. “Para os meninos acima dos 11 anos há perda física, quebra do desenvolvimento muscular, perda de ritmo de jogo, de jogadas ensaiadas e até uma certa desmotivação, uma vez que as competições têm vital importância para avaliar o nível da equipe e de cada jogador. Isso faz com que, muitas vezes, após cada jogo, o atleta se motive mais a realizar seus objetivos, ser campeão ou fazer deste seu sustento”, analisa.

Ele comenta que nos primeiros anos de escolinha é cobrado apenas o gesto técnico e não o posicionamento em quadra, contudo em um segundo momento entra o futsal mais elaborado, com trocas de posições predefinidas, vantagem numérica, até chegar em uma idade mais avançada, quando se ensinam jogadas de bola parada. “Acredito que a falta de treino para os atletas mais novos pode fazer com que a prática do futsal seja substituída por um jogo no celular ou videogame. Já nas categorias maiores a espera por disputar um Campeonato Paranaense é muito grande, pois o sonho de se tornar um profissional está à flor da pele, ou seja, a falta de participação acaba sendo um balde de água fria”, lamenta.

 

Técnico de futsal Carlos Dürks: “Para os meninos acima dos 11 anos há perda física, quebra do desenvolvimento muscular, perda de ritmo de jogo e até desmotivação, uma vez que as competições têm vital importância”

 

COMPENSAÇÃO PODE PREJUDICAR

Treinador das categorias de base de futsal há mais de três décadas em Marechal Rondon, Karl Schmidt entende que os cuidados para evitar a propagação da doença devem ser respeitados, mas avalia que a interrupção dos trabalhos pode gerar danos às crianças. “Para mim, a falta de treinos e de competições pode fazer com que as crianças prefiram jogos eletrônicos, no videogame ou celular. Também pode frustrar atletas maiores, que têm o objetivo de seguir carreira profissional. Então, estar longe de treinamentos pode desestimular as crianças à prática esportiva quando tudo voltar ao normal, bem como os atletas maiores, pois não jogar no Paranaense ou outras competições pode desmotivá-los”, entende.

Para Schmidt, o melhor a ser feito no período pós-pandemia é reiniciar o processo de aprendizado, partindo do mais básico em termos de fundamento técnico e evoluindo tão logo seja observada resposta positiva dos professores. “Querer compensar a falta do esporte, do treino, pode gerar outros problemas e prejuízos nessas crianças e nesses jovens”, ressalta.

 

Treinador das categorias de base de futsal, Karl Schmidt: “Estar longe de treinamentos pode desestimular as crianças à prática esportiva, bem como os atletas maiores, pois não participar de competições pode frustrá-los”

 

DESENVOLVIMENTO E TÁTICA

Conforme o responsável pela escolinha de futsal em Iguiporã, Jean Model, em relação à iniciação esportiva a falta de treinamento para tais categorias afeta principalmente o desenvolvimento físico, bem como o lado psicológico, cognitivo e social. Já nas categorias de rendimento, aponta, afeta as partes física e tática.

Na opinião de Model, as categorias menores sofrem pelo fato de ainda estarem em processo de formação. “As ideias coordenativas, técnicas e táticas ainda não estão consolidadas, portanto essas crianças vão perder muito, vão se atrasar nesse aspecto”, destaca.

Ele também acredita que a falta de competições desestimula as categorias de rendimento. “Sempre há uma cobrança e o comprometimento em treinamentos para que os objetivos sejam alcançados nas competições. As crianças gostam de sair, viajar e competir, e não tendo isso, elas acabam se desmotivando e consequentemente usando de menos comprometimento com os treinamentos”, observa.

 

Responsável pela escolinha de futsal em Iguiporã, Jean Model: “Nas categorias menores, as ideias coordenativas, técnicas e táticas ainda não estão consolidadas, portanto as crianças vão perder muito, vão se atrasar”

 

COORDENAÇÃO E CRESCIMENTO

Profissional que trabalha com as categorias de base de futsal no Bairro Vila Gaúcha, Marcos Vila (Gauchinho) menciona que o afastamento de crianças e adolescentes das atividades esportivas fez com que eles ficassem mais grudados nas telas. “Vivenciar o esporte proporciona que as crianças se desenvolvam em pares com seus colegas. Elas aprendem a ganhar e perder, a respeitar autoridades e momentos de adversidades e passam a entender a hierarquia. Com a pandemia, tudo isso foi tirado das crianças, comprometendo o seu desenvolvimento social. Com essa pausa houve um achatamento da curva de crescimento, além de gerar prejuízos na parte motora, no ritmo e no crescimento. Vamos manter a esperança de que logo tudo volte ao normal”, salienta.

 

Treinador de categorias de base de futsal da Vila Gaúcha, Marcos Vila (Gauchinho): “No esporte, as crianças aprendem a ganhar, perder, a respeitar e entender hierarquias. Com a pandemia, isso foi tirado delas, comprometendo o seu desenvolvimento social”

 

SÓ O TEMPO DIRÁ

O treinador das escolinhas de base de futebol de campo da AACC, Rubens Dürks, entende que os prejuízos diante da falta de treinos e competições serão enormes. “No começo a gente pensava que seria um tempo curto de paralisação, mas até hoje estamos sem treinos e sem competições nas categorias de base. Os prejuízos a esses atletas em termos de falta de treinos e competições são grandes, mas só o tempo vai dizer o quanto tudo isso afetará as crianças e os jovens esportistas”, pontua.

Dürks cita a situação de atletas nascidos em 2003, que não poderão disputar competições em 2021 porque a idade deles estourou. “Quando os treinamentos forem retomados, neste ano, esperamos que os alunos voltem animados, com muita vontade de jogar e que tenham aprendido algo, mas os efeitos mesmo só saberemos quando eles voltarem”, comenta.

 

Treinador das escolinhas de base de futebol de campo da AACC, Rubens Dürks: “Os prejuízos aos atletas são grandes, mas só o tempo vai dizer o quanto tudo isso afetará as crianças e os jovens esportistas”

 

(Foto: Joni Lang/OP)

 

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