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Marechal Perigo

Cresce presença de animais silvestres em áreas urbanas de Marechal Rondon

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(Foto: Divulgação)

A busca por melhores condições de sobrevivência tem atraído algumas espécies de animais silvestres para áreas urbanas de Marechal Cândido Rondon e região. Contudo, a presença desses animais em locais bastante povoados está resultando em uma série de incidentes, especialmente entre quatis e porcos-espinho com animais domésticos.

De acordo com o médico veterinário Paulo Giesel, nos últimos tempos está havendo maior procura por atendimentos em pets que se envolvem em confrontos com animais que vivem na natureza. Na maioria dos casos, segundo ele, quem leva a pior são os cães e os gatos. “Percebi um aumento gradativo do número de casos de ataques de quatis e brigas de cachorros com porcos-espinho”, comenta.

Giesel diz que são atendidos, em média, três animais por semana na clínica e que os ferimentos apresentados são variados. “Em algumas situações o animal ferido precisa passar por cirurgia. Normalmente esses ataques se caracterizam por muitos cortes e infelizmente alguns desses animais vêm a óbito devido à gravidade das lesões”, lamenta.

Os ferimentos causados por porcos-espinho acontecem na região da boca dos animais. “Os cachorros tentam morder o porco-espinho e geralmente são atingidos pelos espinhos, principalmente na boca”, expõe.

 


Médico veterinário Paulo Giesel: “É comum a maior presença desses animais nesta época do ano, o que, consequentemente, aumenta os acidentes com os pets” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Quatis são os maiores causadores de ferimentos nos pets (Foto: Divulgação)

 

Sossego “quebrado”

Moradora da vila Curvado, no interior rondonense, a agricultora Márcia Freitag cria muitos animais domésticos. Cachorros e gatos convivem em harmonia e raramente acontecem incidentes com os animais da propriedade.
Mas, recentemente o sossego foi quebrado depois que um de seus cães se envolveu em uma briga com um quati.

O Tody, como é chamado, sofreu vários ferimentos próximo às orelhas e precisou ser levado a uma clínica para passar por cirurgia. “Ele continua internado, mas vai ficar bom”, relata.

Segundo ela, não é comum acontecer ataques de quatis a cachorros, mas essa não foi a primeira vez que um incidente como esse ocorreu na propriedade. “O cão que é pego uma vez por um quati não vai mais atrás deles, porque já sabe as consequências”, menciona.

De acordo com a agricultora, os quatis normalmente andam em bando pela lavoura para acessar outras áreas de mata. “É comum acontecer brigas entre eles quando a roça está limpa, pois os quatis andam pela roça de um lado para outro”, explica.

Márcia acredita que o incidente com o Tody aconteceu porque ele ainda é filhote e nunca havia se aproximado dos quatis. “A relação dos quatis e demais animais silvestres com os nossos animais domésticos é boa e dificilmente ocorre esse tipo de coisas”, salienta.

 


Tody, cachorro da agricultora Márcia Freitag, se envolveu em uma briga com quati e precisou ser levado a uma clínica para passar por cirurgia (Foto: Divulgação)

 

Vizinhança animal

Arlei Vollbrecht é vizinha de uma família de quatis. A rondonense costuma receber visitantes quase todos os dias ao lado de sua casa em uma área de mata, nas imediações do Clube Aliança.

Ela conta que é comum ver muitos quatis e outros animas silvestres no local. “Sempre vemos lagartos, porco-espinho, seriemas, tucanos e várias outras espécies de aves”, comenta.

Segundo Arlei, a família sempre avistou muitas espécies de animais nas proximidades da residência, no entanto, recentemente percebeu o crescimento do número desses animais. “Sempre teve, mas de alguns meses para cá, notamos com maior expressividade”, pontua.

Ela conta que os dois pets da família costumam se aproximar dos quatis. “Os nossos nunca foram atacados pelos quatis, apesar de chegarem bem perto. Mas já tivemos relatos de pessoas próximas em que o cachorro foi atacado”, menciona.

A rondonense acredita que o aumento da quantidade de animais no local é por conta da falta de alimentos na natureza e da rápida reprodução. “Os quatis não têm predadores e a espécie se reproduz muito rápido”, sugere.

Arlei Vollbrecht, vizinha de uma família de quatis: “Percebemos que o bando está aumentando cada vez mais. Não podemos esquecer que podem ocorrer problemas com a segurança, tanto dos animais quanto das pessoas” (Foto: Divulgação)

 

A espécie

O quati é um animal mamífero carnívoro da família Procyonidae do gênero Nasua e pode ser encontrado desde o Arizona, nos Estados Unidos, até o Norte da Argentina.

O biólogo Luciano Lazzarini Wolff, que é professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), explica que os quatis são parentes dos cães e podem chegar a 80 centímetros e pesar até dez quilos na fase adulta. “Ele está próximo aos cachorros e aos gatos falando em termos de parentesco evolutivo, mas é um animal que tem uma adaptabilidade muito grande em relação ao meio ambiente e por isso consegue explorar vários tipos de recursos”, detalha.

 

Alimentação

A dieta dos quatis é bastante variada. Eles se alimentam de pequenos mamíferos, como ratos, animais invertebrados, insetos, ovos e sementes.

Conforme o biólogo, os quatis são adaptados para subir em árvores e costumam se alimentar também de frutas. “É uma espécie oportunista em relação à alimentação”, aponta.

De acordo com Lazzarini, o fato dos quatis se adaptarem facilmente a outros locais contribui para sua aproximação em áreas urbanas, onde é fácil encontrar alimentos. “Eles podem encontrar no ambiente urbano restos de alimentos orgânicos e isso pode ser um quesito que tem atraído esses animais silvestres”, entende.

 

O confronto

A busca por alimentos tanto em áreas urbanas quanto no interior muitas vezes não acaba bem. E quem normalmente leva a pior são os animais domésticos.

Geralmente os confrontos acontecem com os cachorros, que, segundo o biólogo, possuem instinto de proteção e costumam proteger a casa e seu dono. “Quando os quatis se sentem afugentados eles podem se defender usando suas garras, que são bem desenvolvidas, para atacar”, explica.

 

Causas e riscos

A estiagem hídrica, associada às inúmeras queimadas registradas na região, contribuem para a vinda de animais silvestres a espaços urbanos em busca de água e alimentos. “A diminuição da chuva reduz a oferta de alimentos a esses animais e as queimadas e desmatamentos retiram o habitat da espécie, que precisa fugir dessa situação crítica e acabam vindo para os grandes centros”, expõe.

Além dos riscos que os quatis oferecem aos animais domésticos, mesmo que de forma involuntária, assim como outros animais silvestres, eles podem transmitir doenças às pessoas. “É possível que o quati possa transmitir a raiva, da mesma maneira que os morcegos ou outros mamíferos”, alerta Lazzarini.


Biólogo e professor da Unioeste, Luciano Lazzarini Wolff: “Os quatis costumam atacar muito mais como um mecanismo de defesa do que uma ação predadora” (Foto: Divulgação)

 

Não alimente

A aparência dócil dos quatis pode ser um convite para a aproximação, mas, além do eventual risco de transmissão da raiva, o instinto competitivo dos animais na busca por comida pode causar acidentes, destaca o professor da Unioeste. “Se a pessoa eventualmente oferecer algum tipo de alimento e quiser se aproximar do animal, provavelmente ele defenderá sua comida com unhadas ou mordidas”, salienta.

Conforme Lazzarini, não é aconselhável alimentar qualquer espécie de animal silvestre a fim de evitar a aproximação deles e eventuais confrontos com animais domésticos. “Deve-se evitar deixar restos de alimentos expostos na cesta de lixo por um tempo muito prolongado para que os animais não percebam a presença destes alimentos”, ressalta.
Outro atrativo que pode aguçar a curiosidade dos quatis na busca por uma refeição é a própria ração dos pets que pode se tornar um chamariz para os quatis. “Esse pode ser um fator que promova o encontro dos quatis com os cachorros”, sugere.

Lazzarini aconselha ainda a acionar os órgão competentes para retirar animais silvestres, quando os mesmos permanecem em um mesmo local por longos períodos. “É necessário que não tenha nenhum tipo de alimento que ofereça recurso para que ele permaneça no ambiente”, completa.

 


Porco-espinho é segundo maior causador de ferimentos nos pets. A região da face, principalmente o focinho, é o local local mais atingido. Geralmente o animal precisa ser sedado para a retirada dos espinhos (Foto: Divulgação)

 

 

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