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Silvana Nardello Nasihgil

Caia na real e olhe ao seu redor

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Rolando a timeline do meu Instagram, outro dia, apareceu uma propaganda de jaquetas de nylon estofadas. Parei, li, reli, entrei na página, pesquisei, porque fiquei incrédula e queria me certificar de estar vendo direito. E era real!

São jaquetas de nylon estofadas, não estou falando de alta costura com detalhes complexos que podem agregar um valor difícil de se conseguir com simplicidade. São jaquetas, nada além!

Fui pesquisar sobre as tais jaquetas em outras páginas. Pesquisei por artigo e modelo e resolvi, por capricho, recortar os preços.

Eu ainda estou buscando a justificativa para uma jaqueta custar R$ 13.548 e a outra R$ 159,90. A marca? Simmm, a marca! Enquanto uma faz os mortais olharem para o vivente que usa e pensar: uauuu essa pessoa pode, ela deve ser incrível! A outra veste da mesma forma e faz pensar: comprou em alguma liquidação, e o usuário pode ser visto como alguém desqualificado.

Isso me levou a refletir como a humanidade anda vivendo no mundo do ter. São parâmetros sem lógica alguma para olhar o ser humano, pois buscam encobrir seus valores e tudo o que uma pessoa pode possuir, como inteligência, capacidade, determinação, conhecimento…

O mundo encontra-se agonizante e é lamentável observar como muitos ainda não caíram na real, usam a fantasia para poderem dar credibilidade àquilo que muitas vezes lhes falta, maquiando a sua pequenez com elementos que podem colocá-lo na vitrine da vida, aquela onde pode se passar por um mero manequim.

Posso estar indignada sem razão para muitos que leem este artigo, mas prefiro ser vista assim do que intimamente concordar com isso. Eu não conseguiria gastar essa exorbitância por mero capricho quando tanta gente passa fome, quando o mundo está focado em buscar solidariedade e humanidade, quando o valor de uma pessoa não está naquilo que veste, mas naquilo que ela é como ser humano.

Não é aceitável (a meu ver) que continuemos a esquecer que somos feitos de material nobre, que vai muito além do que aquilo que se usa para cobrir o corpo. Se não pensarmos assim estaremos subestimando a capacidade do ser humano de ser grande, de ser instrumento de mudanças positivas, de possuir emoções e sentimentos e de poder olhar além da sua casca.

A felicidade que tanto se busca está naquilo que se vive e como se vive. Somos feitos de histórias e dependendo de como as escrevermos serão as marcas que iremos adicionando aos nossos dias.

Passou da hora de sairmos do nosso individualismo e olharmos ao nosso redor. Esse movimento servirá para tirar as vendas dos nossos olhos e enxergarmos o valor que cada pessoa possui. É bom pensar sobre isso para evitar que muito do humano que existe em nós sucumba ao mundo consumista.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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