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Silvana Nardello Nasihgil

Não existe amor onde tudo o que se enxerga são defeitos

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O nosso olhar direcionado a quem amamos precisa estar focado na construção da relação.

Não dá para vivermos permitindo que as nossas dores respinguem no outro.

Somos construídos pela nossa história de vida, em muitos capítulos o outro não esteve presente e sequer tem noção das nossas vivências. Aquilo que trouxe mal-estar, que talvez tenha deixado marcas profundas, não pode de modo algum interferir na relação.

Para sermos um par, precisamos, acima de tudo, ter maturidade para compreendermos que ao nos juntarmos com alguém, essa pessoa já vem com a sua carga de vivências que marcou a sua própria existência, não somos os únicos a ter algo a resolver.

Um par não é um psicólogo que precisa compreender os destemperos do outro e ajudá-lo a resolver. Esses desequilíbrios podem ser partilhados e juntos o casal pode achar um jeito de fazer dar certo, ou buscar ajuda profissional.

O que é inaceitável em uma relação é usar o outro para descarregar pesos, para depositar o lixo emocional como se o outro tivesse obrigação de aceitar tudo o que vier.

Então, muitos seguem na vida a dois dando o seu pior e desejando ser compreendido. Gritar, xingar, usar palavras ofensivas, desrespeitar.. Para muitos, isso se torna “normal” e vão caminhando sem se darem conta do tanto que esses comportamentos são destrutivos. Nesse emaranhado de confusão entram os filhos e, muitas vezes, familiares e amigos que nada têm a ver, mas que sofrem imensamente sem ter como ajudar.

Não estou falando de algo incomum, raro, estou falando de comportamentos extremamente comuns e que têm se potencializado com o decorrer do tempo.

A falta de maturidade e responsabilidade emocional faz com que cada um só olhe pra si. Assim, as pessoas vão se juntando em pares e construindo famílias.

Vivemos uma época de relações líquidas, de crianças, adolescentes e jovens cheios de problemas internos, de dúvidas, incertezas e angústias. Gente que vem crescendo cheia de declarações de afetos em redes sociais, enfeitadas fisicamente, mas de coração e alma vazias. Gente que está pagando o preço de pais irresponsáveis, daqueles que vivem para se dar bem sem se importarem realmente com quem os rodeia.

Cura interior, serenidade e compreensão precisam andar juntos com o amor, caso contrário não existirá relação que perdure.

Precisamos pensar além de nós quando decidimos formar par e muito mais quando nos propusermos a ser família.

Ninguém, mas ninguém mesmo precisa se sentir responsável por demandas que competem a cada um organizar e curar.

Cada um que cure a si antes de qualquer relação. É inaceitável que em plena época de tantas soluções se continue insistindo em impor aos outros o pior, caminhando pela vida, semeando dores físicas e emocionais, tristezas e angústias.

Não adianta falar de amor quando sequer se sabe praticar.

Se faz necessário urgentemente rever os nossos comportamentos para que, ao falarmos de amor, saibamos na prática o que expusermos em palavras.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

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