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Silvana Nardello Nasihgil

Dramas não resolvidos respingam nos filhos

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Feriados e fins de semana me colocam para pensar. Passeio nas redes sociais, leio, observo a vida acontecendo, além de dormir.

As perguntas que me fiz e as que faço a vocês para que juntos reflitamos sobre como estamos conduzindo o nosso viver, no quesito criação/amor dos nossos filhos, são essas: os seus filhos se orgulhariam se soubessem tudo o que você tem feito?

Partindo dessa pergunta, para onde e para quem temos canalizado os nossos sentimentos?

Quando deixo os meus filhos sozinhos ou a cuidado de outras pessoas para me divertir, sem critério algum, estou mesmo dando amor de qualidade a eles?

Tenho acolhido e ouvido as angústias dos meus filhos ou estou sempre ocupado(a) com detalhes nem sempre necessários, tipo o celular?

Quanto do meu tempo tenho dedicado na construção, no auxílio da construção da vida dos meus filhos como seres humanos saudáveis psicologicamente e emocionalmente?

Tenho usado favores financeiros para suprir o amor que tenho desviado dos meus filhos?

Para onde e para quem tenho canalizado as minhas carências emocionais e sexuais? Isso está consumindo de mim mais tempo do que deveria?

Eu poderia lançar milhares de questionamentos, mas penso que o mais válido é parar um tempo e olharmos para dentro de nós. Lá no fundo deve ter um quarto escuro que, muitas vezes, temos medo de abrir a porta, porque sabemos que lá estão as nossas angústias que teimamos em não resolver.

Quer no emocional, sexual, psicológico, físico ou de qualquer outra natureza, nossos dramas não resolvidos respingam e respingarão em nossos filhos de um jeito até perverso, porque vamos deixando como herança aquilo que existe em nós de mais confuso e que não fazemos nenhum esforço para mudar.

Muitas pessoas usam seus filhos como matéria de barganha. Entre pais separados/divorciados observa-se muito esse comportamento terrível. Na convivência com pais/mães solteiras o interesse por parceiros em muitas ocasiões subtrai dos filhos o direito de serem amados.

Quando a sexualidade é exacerbada, os adultos canalizam muito dessa pulsão para a busca de parceiros, incluindo em suas vidas, sem muitos critérios, pessoas que vêm para usar e diminuir, aproveitando das suas carências e fragilidades, vivendo então de mentiras e fantasias. Mais uma vez os filhos ficam em segundo, terceiro plano. Mais uma vez os filhos são considerados um apêndice que pode viver em uma bolha até que haja disponibilidade de enxergá-los.

Nossos filhos não devem ser pessoas que venham ao mundo para continuar a sofrer as nossas dores. São seres humanos inteiros com todo o potencial de ter uma vida saudável e feliz. Nossos filhos precisam, sim, aprender conosco o amor em sua plenitude, a ultrapassar obstáculos, a resolver conflitos e a receber e a dar amor.

Somos, como pais/mães, o porto mais seguro que um filho tem para ancorar. Do nascimento até a morte seremos um referencial. Que a gente reflita que tipo de referencial estamos sendo para os nossos filhos, alguém que eles se orgulharão ou alguém de quem eles dirão: teve todo o tempo do mundo para me ensinar sobre o amor, mas preferiu me ensinar sobre indiferença.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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