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Silvana Nardello Nasihgil

Em comunhão com a indiferença, o que estamos construindo?

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Quero fazer uma reflexão com vocês. São tantos fatos repetitivos no meu dia a dia que senti que é hora de falarmos sobre isso.

Muitas vezes, a correria diária atrás dos nossos afazeres nos anulam nas nossas relações e vamos seguindo a vida automaticamente, sem olhar muito nosso entorno.

Nessa aceleração toda a gente passa a não enxergar mais ninguém. As pessoas vão se tornando invisíveis e só são percebidas dentro da sua utilidade. Passamos a nos alimentar das coisas práticas e o emocional, aquilo que move a vida, vai ficando para trás.

Quanto sofrimento emocional faz com que padeçam aqueles que se sentem à margem da vida. Quanta dor por não se sentirem amados, acolhidos ou sequer percebidos.

Uma infindável gama de dor vem dos comportamentos egoístas de quem só pensa em si e nada além!

Vamos às queixas que me levam à essa reflexão:

– Minha mãe não me ama porque ela reclama o tempo todo de tudo o que eu falo e faço. Ela não tem nenhuma palavra de carinho.

– Meus filhos não me enxergam.

– Meu pai nunca me abraçou. Ele só fica no celular, não enxerga ninguém em casa.

– Meu marido vive numa bolha particular.

– Minha esposa só tem tempo para si.

– Meus netos fazem de conta que eu não existo. Não me visitam e só criticam.

– Ninguém jamais disse algo positivo a meu respeito.

– Minha patroa nunca elogiou meu trabalho. Ela só sabe que eu existo para me xingar.

E assim vão acontecendo as relações tóxicas, excludentes e perversas, com a indiferença descolorindo os dias.

Em comunhão com a indiferença, o que estamos construindo?

Estamos nos aprimorando em comportamentos pontuais que têm como resposta: acabar com pessoas, como destruir sonhos, escravizar almas, sentimentos e atitudes, impedir crescimento, auxiliar na baixa autoestima, acelerar a ansiedade, a depressão e como viés colaborador da ideação suicida.

Precisamos saber que pessoas que não são valorizadas, que não são respeitadas e que não são enxergadas desenvolvem uma sensação de abandono, que gera sofrimentos imensuráveis, tornando-as desesperançosas. Pessoas que vivem e são alimentadas pela indiferença deixam de acreditar que existe um futuro.

Pensa um pouco: quando foi a última vez que você disse:

– Vai ficar tudo bem porque eu estou aqui para te ajudar!

– Eu me orgulho de você!

– Você está muito elegante!

– Você é muito especial.

– Eu amo você!

– Se arrisca que você consegue!

– Obrigado pelo que você faz por e para mim.

Com que frequência você tem dito frases assim?

Essas e tantas outras frases dessa natureza dão valor e legitimidade a quem está se esforçando para dar o seu melhor. Não podemos esquecer isso.

Diante das nossas atitudes egoístas, precisamos buscar compreender que poderemos estar sendo pontes de destruição, de anulação de vidas que poderiam ser maravilhosas. E então, nesse navegar sem rumo, é preciso parar e pensar: a hora de mudar a direção das velas é agora… de focar na direção de portos verdadeiramente seguros, abandonando o egoísmo e se permitindo ser disponível em auxiliar na construção de vidas incríveis.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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