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Silvana Nardello Nasihgil

Época de corações sem rumo

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Pensava com meus botões (do pijama) que está tão difícil a vida e que muitas pessoas, ao invés de se apegarem aos sentimentos bons, fazem o sentido inverso. Vivendo no egoísmo, aquele bem puro, bem raiz, muita gente tem se voltado somente pra si, vivendo um individualismo que faz perceber somente o seu próprio umbigo.

Esse “novo” viver, que pelas contingências precisou afastar fisicamente as pessoas, nos dá a falsa sensação de que podemos viver cada um por si.

Muita gente está deixando os relacionamentos se deteriorarem, deixando de viver o amor, de falar de amor, vivendo como se o outro tivesse bola de cristal, como se o amor pudesse sobreviver sem ser alimentado e cultivado com dedicação.

Muita gente tem colocado a vida no botão do automático e acreditado que está tudo bem, que de agora em diante será no modo “salve-se quem puder”.

Mas isso não é verdade! Creio que nunca tivemos uma época de corações tão sem rumo, tão vazios e angustiados. A vida muda muita coisa dentro de nós. Mudou o rumo das coisas físicas, mudou o nosso jeito de olhar o mundo e nisso incluímos as pessoas e os sentimentos.

A impressão que temos é que hoje todo mundo representa um perigo. Essa nova realidade fez com que nos afastássemos uns dos outros. E isso não está só nosso físico; muitos levaram junto o coração.

Mas a verdade é que todos esses acontecimentos catastróficos não precisam nos afastar de quem amamos. Hoje existem inúmeras possibilidades de continuarmos perto mesmo estando longe. Por mais que o momento exige cuidados, nada justifica endurecermos e permitirmos que se descaracterize os nossos sentimentos e as nossas emoções.

Já aprendemos muito sobre coisas inimagináveis até pouco tempo atrás, agora precisamos lembrar que isso vai passar, mais dia ou menos dia vai passar, e aí, como serão os reencontros? Como faremos com as pessoas que deixamos no vácuo, sem atenção, sem cuidados? Como iremos lidar conosco quando no nosso caminhar fomos deixando as pessoas pelo caminho?

A vida é muito breve. Precisamos não esquecer que as pessoas que amamos e que nos amam não caíram na nossa vida por mero acaso, como que por mágica. Os sentimentos, quando existentes, de alguma forma precisaram ser construídos e conquistados, então eles têm valor. Creio que a maioria de nós sabe o valor das coisas, e o valor das pessoas?

Então, é preciso parar um pouco para avaliar como estamos alimentando os nossos sentimentos e os sentimentos que temos pelos outros, como estamos cultivando as nossas relações.

Estamos verbalizando ao outro o quanto ele faz a diferença na nossa vida, o quanto ele é especial e importante? Quando foi a última vez que dissemos eu amo você para quem é eleito pelo nosso coração?

Quanto estamos perdendo do amor que não partilhamos? Quanto estamos perdendo por não falar de amor?  Estamos procurando as pessoas para saber como estão? Estamos sendo acolhedores, solidários, empáticos?

Quem não souber reconhecer e dar valor a quem realmente importa constituirá um débito o qual não creio ser agradável ter que pagar por ele. O preço pode ser muito alto e, mesmo sem termos tido a intenção, poderemos perder quem amamos. Poderemos, diante disso, retomar a vida e voltar a um “novo normal” totalmente desacompanhados, vazios e sem rumo.

Precisamos pensar sobre isso com urgência e tomar as atitudes necessárias.

Precisamos fazer agora aquilo que nos permitirá continuar na vida de quem amamos. Isso serve para pares, família, amigos e todas as relações que tiverem amor.

Se permita fazer a sua parte: se declare, procure, elogie, fale de amor, dê a importância que o outro merece, reconheça o bem que ele/ela lhe faz. Faça planos com o outro (além dos seus individuais), inclua ele/ela na sua vida onde couber, desenvolva projetos, partilhe a vida, conte as suas experiências, peça opinião, peça ajuda se precisar, crie possibilidades futuras e sonhe…

Alguém já disse um dia: “um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”. E eu acredito!

E diga sem medo: eu te amo! As pessoas precisam, além de sentir, ouvir que são amadas.

 

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 

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