Fale com a gente

Silvana Nardello Nasihgil

Não invente mentiras para o próprio coração

Publicado

em

“Maquiagem” emocional rouba a paz

 

Hoje em dia as pessoas andam usando uma desculpa muito prática para justificar as suas faltas: tenho andado muito ocupado(a)! E ousam concluir: desculpa!

E nesse mundo tão confuso a vida vai sendo levada às custas de desculpa para justificar tudo. Usamos essa prerrogativa para justificar até o injustificável.

Fingimos que acreditamos para não ter que ouvir explicações desnecessárias e ilógicas, e vamos deixando assim porque a pessoa importa. Na importância que ela tem na nossa vida, nos negamos a imaginar seguir deixando-a pelo caminho.

Enquanto ousamos fingir que está tudo bem, alimentamos angústias e sentimentos que nos trazem sofrimentos e nos diminuem. Fugimos, assim, da realidade temendo tê-la que olhar de frente, porque, muitas vezes, a realidade dói por nos cobrar atitudes que não queremos ter.

Lá no fundo, sabemos quando alguém simplesmente nos coloca na “caixinha” do tanto faz e mesmo assim, por que ficamos?

Porque, muitas vezes, o outro se torna tão importante na nossa vida que toma todos os espaços dos nossos sentimentos e sem perceber deixamos de nos amar, deixamos de acreditar que merecemos ter na nossa vida quem queira verdadeiramente ficar e que valorize isso… e vamos ficando.

Pelo medo de nos imaginar perdendo, vamos ficando, se alimentando da esperança de um dia ser visto, ser valorizado(a).

Paralisamos e permanecemos sem questionar. Passamos a aceitar o nada ou quase nada e vivemos da “maquiagem” emocional que o outro faz na nossa vida para nos manter por perto, porque de alguma forma, para ele(ela), somos úteis ou necessários(as).

Permitimos assim que a vida siga, nos confundindo e nos roubando a paz.

De sofrimento em sofrimento vamos embalando o sonho de ver o nosso sentimento ser correspondido. Inventamos histórias para justificar tudo e, ligados a um fio de esperança, passamos a acreditar nelas.

Chega uma hora que é preciso entender que ninguém pode amar pelos outros, que cada um precisa fazer a sua parte. Se assim não for, a relação terá pouca chance de subsistir. Isso serve para todo o tipo de relação: familiares, amigos e pares.

Então, é preciso chegar uma hora que a gente consiga entender: não dá para viver fazendo curativos no coração e na alma em “machucados” produzidos com a nossa permissão por quem nos dedicamos, que nada entende de amor ou simplesmente não quer entender.

Não dá para inventar mentiras para o próprio coração, do tipo: importante é eu fazer a minha parte, desculpando o outro para garantir com isso o espaço dele na nossa vida.

Há sentimentos que não vingam. Não importa o quanto você esteja presente, o quanto você se importa, o quanto você se doa. Não adianta ser legal ao extremo, você não cabe. Não cabe porque dentro do ideal do outro você simplesmente não consegue movê-lo. Talvez você seja só necessário(a) e não interessante e de alguma maneira o outro só fique porque a sua utilidade importa.

Diante de tudo o que inventamos para o nosso coração tentando driblar a mente, o mais importante a ser lembrado é que enquanto houver dúvidas e desconforto, é muito provável que estamos em um lugar onde não cabemos. Mas, quando a gente realmente for importante para alguém, quando de alguma forma formos prioridade, quando existir reciprocidade, a falta de tempo deixará de ser desculpa, a atenção e os cuidados serão algo natural e saberemos que cabe ali.

O conforto que experimentaremos quando as vidas realmente se encaixarem nos dará a certeza de estarmos no lugar certo com a pessoa certa. Fora isso, aceitar viver onde não se cabe também é uma escolha.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente