Silvana Nardello Nasihgil
Que sementes escolhemos plantar?
Hora mais do que necessária de refletirmos o ano que passou. Sem falar de pandemia, de vírus, de vacina e de confinamento, foi um ano que mais do que nunca nos deu a condição de refletirmos a vida. Estivemos tão próximos dos nossos familiares como jamais estivemos.
O que a gente fez com isso?
Quanto buscamos compreender as nossas diferenças? Quanto aprendemos a respeitar o outro? Quanto usamos do tempo para traçarmos projetos comuns?
Muita gente aproveitou esses momentos tão preciosos para esparramar tudo sem responsabilidade, brincando de vida, preservando o individualismo, as manias, deixando a vida fazer as escolhas menos favoráveis… e reclamando.
Muita gente resolveu brincar de casinha, mas a brincadeira só levou em conta seus desejos, do tipo: quando cansou, esparramou as panelinhas, enfiou as bonecas numa caixa, os carrinhos e se deu por cansado(a) da brincadeira. Nisso entraram parceiros(as), filhos, família, amigos e todos e tudo ao seu entorno.
O desgaste do momento emburreceu muitas pessoas, trouxe a sensação de que o mundo está acabando e então… salve-se quem puder!
Foi um ano que trouxe muito desgaste, muita desunião. Os pares e muitas famílias se fixaram em procurar o pior uns dos outros; poucos buscaram reeditar a vida e alinhar as dificuldades.
Por mais que queiramos acreditar que foi diferente, não foi! Temos um saldo muito negativo de um ano que deveria ser de união e crescimento e na intimidade trouxe uma realidade de desconstrução.
Então, precisamos rever os nossos comportamentos, os nossos sentimentos e o foco do nosso futuro.
Quem pensa que na casa dos outros mora a felicidade não está entendendo nada. A felicidade está dentro de cada um de nós e no comprometimento que temos com quem amamos.
Daqui uns dias, quando o mundo abrir as portas, para onde você pensa que vai? Onde você pensa em ancorar o seu barco?
Vamos juntar os brinquedos e enfiar numa caixa, sair por aí visitando novas lojas para comprar brinquedos novos?
A nossa vida é feita das nossas histórias. É disso que somos feitos. Não é das novidades que podem nos suprir por alguns dias ou horas, é das sementes que plantamos que nascerão os frutos e será deles que iremos nos alimentar.
Que sementes escolhemos plantar?
Você pode escolher fazer um strike com a vida, mas precisará lembrar que ganhos você terá. Muitos poderão decidir brincar sozinhos, e você que preteriu os que te amam, muito provável ficará igualmente sozinho para continuar.
Não dá para esquecer que a base da vida se faz com comprometimento, seriedade, responsabilidade, conversas, escuta, partilha, e que a vida vai muito além de satisfazer futilidades e vaidade.
A vida só vale de verdade quando temos perto de nós os que nos amam e com quem podemos nos comprometer na mesma medida e sonhos.
Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com