Fale com a gente

Silvana Nardello Nasihgil

Receitinha simples e básica

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Viver em pares seria tão simples se as pessoas não complicassem, mas, para algumas, parece que ter paz deixa tudo sem graça. Por essa razão, “infernizar” a vida do outro se torna corriqueiro.

Muita gente, na dificuldade de administrar a sua própria vida e lidar com os seus “fantasmas”, vive arrumando um jeito de fugir dos seus medos e de encarar a sua pequenez. Então, inventa mimimi o tempo todo, como se fosse um bônus com emoção extra: exige, cobra e “martela” todos os dias acontecimentos passados; julga, se acha dono(a) da relação; faz as suas regras como se fossem a única verdade, e por aí vai… Vive cada dia buscando agregar mais sofrimento para si e para quem convive.

Assim vão se tornando chatos(as) insuportáveis, esquecendo por completo que a vida não precisa seguir o seu próprio padrão, pelo contrário, uma vez escolhido viver em pares, é preciso ir além de si para encontrar o equilíbrio, a serenidade e a tão almejada felicidade.

Seria tão simples se a vida fosse levada com mais leveza, se ao invés de ter como perfeito o padrão pessoal de relação cada um se dispusesse a compreender, respeitar e se estender para o mundo do outro.

Somos feitos da nossa história de vida, e cada ser humano tem a sua, cheia dos detalhes que o construiu. Nesse crescer, amadurecer e viver, cada pessoa carrega, além de momentos felizes, dores sobre as quais sequer tem real consciência.

E a vida vai acontecendo, cheia de vazios, de faltas. Nesse emaranhado, ao invés de buscarmos nos conhecer para compreendermos a vida e o nosso papel nas vidas que tocamos, elegemos o outro como alguém que precisa dar conta disso, suprir as nossas necessidades e obrigatoriamente nos fazer feliz.

O outro(a) é só alguém que decidiu seguir a vida lado a lado. Essa decisão de continuidade dependerá muito mais de nós do que do outro(a) sabe por quê? Porque a felicidade para existir precisa de uma vida leve e suave, de um terreno preparado com cuidado, de gente com maturidade, que se compromete, que tenha consciência da construção que deseja fazer, de confiança, perdão verdadeiro, escuta, amizade, acolhimento, serenidade para observar detalhes, de elogios, críticas construtivas, parceria, semear, cultivar, adubar a vida com palavras, de gente com atitudes positivas que verdadeiramente demonstrem estar em uma relação para ficar.

Uma hora será preciso ter maturidade, encontrando-a de alguma maneira, para dizer: basta de vitimismo e de acreditar que o mundo e todo mundo precisa nos satisfazer, que só o que pensamos tem valor, que somos perfeitos, que no peso da vida os erros dos outros são graves e nós pouco erramos.

Basta de olhar a vida a partir das fantasias individuais, das crenças criadas e desenvolvidas unilateralmente. Basta de ser o dono(a) da verdade e da vida. Basta de acreditar que o mundo precisa girar a nosso favor.

Sob esse mesmo céu existem diferenças entre todas as pessoas e elas precisam ser respeitadas. É preciso muita maturidade para compreender isso, porque é preciso primeiro se compreender para só depois escolher viver em pares. Quem não conseguir compreender esse básico do básico, faz um favor para si e para os outros: viva sozinho(a)!

Não devemos esquecer que são as atitudes que fazem alguém desejar ficar ao nosso lado e serão igualmente por atitudes que elas poderão se cansar e ir embora.

Para pensar!

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

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