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Dom João Carlos Seneme

A coragem de se colocar a caminho no seguimento de Jesus

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Estamos no 26º Domingo do Tempo Comum e o Evangelho de Mateus (21,28-32), com a parábola do pai e dos dois filhos. É provocativo, mas segue a mesma tendência dos últimos domingos. Jesus se dirige aos sumos sacerdotes e anciãos do templo, autoridades religiosas e políticas do seu tempo. Relata a parábola de um pai que se aproxima dos dois filhos e lhes pede para trabalhar na vinha. O primeiro responde não, mas depois repensa, arrepende-se e vai trabalhar. O segundo reage com docilidade ao pedido do pai, responde sim, mas não cumpre a promessa.

O homem da parábola representa propriamente Deus, enquanto os dois filhos são os judeus do tempo de Jesus: de um lado os “pecadores” que já não observam a lei e as prescrições rabínicas; de outro lado, os chamados “justos”, ligados à religião oficial, isto é, os líderes do povo. O verbo “fazer” é significativo no contexto, pois é a ação que vai qualificar o comportamento das duas partes: acolher ou não a Lei.

Jesus chama a atenção dos líderes para os pecadores que antes rejeitavam Deus, mas agora, graças ao seu convite, eles se arrependem e obedecem, enquanto as pessoas piedosas no momento decisivo não fazem o mesmo.

Fazer a vontade de Deus é o fundamento da religião do Antigo Testamento e do judaísmo. A Lei era sua expressão escrita e clara. Com a vinda de Jesus, a revelação plena e perfeita da vontade de Deus se dá através d’Ele que anuncia a vinda do Reino e convida à conversão. A conversão passa pela acolhida à pessoa de Jesus. O Pai deseja que a humanidade acolha Aquele que Ele enviou. Portanto, observar a Lei e não aceitar o Cristo equivale a dizer “sim” que, depois, será desmentido pelos fatos.

A verdadeira obediência, a da fé, é a conversão. A força para passar do “não” ao “sim”, para realizar a vontade do Pai, o modelo de fidelidade é Jesus. N’Ele tudo é “sim”. Através d’Ele, também nós podemos pronunciar o nosso “amém” para a glória de Deus.

A mensagem da parábola indica que diante de Deus o importante não é “falar”, “prometer”, mas agir. Porque todo aquele que se torna discípulo a partir do contato com o Cristo Ressuscitado, consequentemente, torna-se apóstolo, enviado, missionário. Não é suficiente dizer: Senhor, Senhor!

A ênfase, portanto, é colocada sobre o arrependimento, a conversão, tendo em vista o compromisso com o Reino de Deus. Sinal da liberdade humana é justamente sua capacidade de se converter. Ou seja, ninguém está destinado ao pecado, Jesus nos garantiu a salvação com a sua morte e ressurreição.

Deus nos convoca a trabalhar na sua vinha. Não nos deixemos contaminar pela vanglória de nos considerar salvos pelos nossos méritos, mas coloquemo-nos numa atitude permanente de aprendizes, seguidores de Jesus, buscando sempre a conversão. Que Deus nos dê a graça de sermos coerentes com o nosso “sim”.

Neste domingo (1º) iniciamos o mês dedicado às Missões. “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” é o tema cuja inspiração bíblica, baseada no texto dos discípulos de Emaús, é “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,13-35). O tema deste ano ajuda a aprofundar a relação entre Igreja-local e a missão ad gentes, enquanto o lema bíblico permanece em sintonia com a realização do 3º Ano Vocacional que a Igreja do Brasil está celebrando.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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