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Dom João Carlos Seneme

A Palavra de Deus é viva e eficaz

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O Evangelho deste domingo (16) faz parte do discurso em parábolas que recolhe sete parábolas e suas explicações que tratam da realidade misteriosa do Reino de Deus. São chamadas de “parábolas do Reino” (Mt 13,1-23). O tema central da Liturgia é a Palavra de Deus e sua força transformadora que nos enche de esperança e responsabilidade.

A parábola do semeador retrata os obstáculos que o Reino de Deus encontra no seu desenvolvimento na terra. O semeador da parábola joga a semente em todos os lugares. Uma parte cai no sulco deixado pela última colheita. Uma outra parte cai entre os espinhos. O semeador não se preocupa muito porque, depois, o arado colocará tudo em ordem, eliminará os espinhos e as ervas daninhas. O terreno rochoso é coberto por uma fina camada de terra que torna difícil avaliar sua qualidade.

Com a semeadura nasce a esperança, mesmo se uma parte dela se perder. O agricultor, a despeito das dificuldades, arrisca e sabe esperar. O resultado é uma colheita com números fantásticos que descreve os tempos messiânicos revelando uma fantástica produção da terra que indica os dias do paraíso. Com esta imagem, Jesus chama a atenção não sobre a semente que se perdeu, mas sobre a grande colheita que se obtém e que supera qualquer previsão. O mesmo acontece com o Reino de Deus. Seu começo pode não ser visível, porém como se trata de uma semente divina, o resultado será uma colheita abundante.

O semeador da palavra deve enfrentar uma série de dificuldades que parece querer eliminar toda esperança humana: superficialidade dos ouvintes, aversão em relação ao Reino, inconstância diante das exigências da fé. Nada intimidada o agricultor: ele tem esperança, o Reino de Deus será estabelecido sobre a terra. Deus fará com que a esperança do semeador seja recompensada pela colheita abundante. Como? Vai depender da disponibilidade dos ouvintes da Palavra.

Os discípulos são iniciados neste mistério de Deus, ao compreender e aceitar estão entrando no reino de Deus. O clima é desafiador devido ao confronto com os judeus apresentados nos capítulos anteriores e a recusa por parte dos conterrâneos de Jesus. Os discípulos deverão se fortalecer através da fé e de uma preparação adequada, por isso Jesus lhes explica o sentido da parábola. Eles deverão ser ouvintes qualificados da Palavra de Deus e reconhecer o início da realização do Reino nos sinais que Jesus revela.

Àqueles que não conseguem perceber os sinais do Reino – olham, mas não veem, ouvem, mas não compreendem – há sempre uma esperança: a conversão. Deus oferece a sua Palavra abundante a todos, sem distinção, e espera pacientemente que a acolhamos como terra boa, adubada e produzamos frutos abundantemente.

A parábola, portanto, refere-se às diferentes reações diante da palavra de Jesus e sua missão. É bem possível que exista um contexto de crise entre os seguidores de Jesus: desânimo, desconfiança. Diante disto, Jesus diz aos discípulos desiludidos: “coragem”. Não desanimem. Pode existir um aparente fracasso, mas o resultado final será surpreendente e maravilhoso: “Outras caíram em terra boa e produziram frutos, umas cem, outra sessenta, outra trinta. Quem tem ouvidos, ouça”! É um convite a não se fechar em si mesmos, a ler os acontecimentos e sofrimentos à luz do Reino que Jesus semeou na história. É um convite a abrir os olhos para descobrir o fermento e a alegria no terreno acidentado da história.

A força transformadora da Palavra de Deus é inquestionável, porém somos responsáveis para que ela produza frutos. “Quem tem ouvidos, ouça”.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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