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Dom João Carlos Seneme

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular

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A parábola do Evangelho deste domingo (8) é uma das mais importantes do evangelho: de certo modo, ela contém toda a história da Igreja (cf. Mt 21,33-43). É verdade que Jesus conta a parábola ao povo de Israel, de modo particular, às autoridades políticas e religiosas do seu tempo.

Os protagonistas são apresentados: o proprietário da vinha é Deus; a vinha representa os privilégios de Israel como povo escolhido; os vinhateiros são os israelitas, principalmente, os líderes: fariseus, escribas e sacerdotes; os servos enviados pelo proprietário sãos os profetas enviados por Deus para alimentar a fé nas promessas messiânicas, através de uma vida difícil e, muitas vezes, trágica; o filho unigênito e predileto do patrão da vinha é Jesus.

A parábola se une diretamente à primeira leitura (Is 5,1-7): um canto comovente onde Isaías compara Israel a uma vinha que Deus havia plantado e cuidado com carinho na esperança de que produzisse uma colheita abundante.

O canto da vinha de Isaías é somente o ponto de partida, a narrativa de Jesus vai para outra direção. O pensamento dos dois textos permanece o mesmo: a vinha é o povo de Israel que não produziu nenhum fruto e é chegada a hora do juízo de Deus. Para Jesus a vinha é o Reino de Deus: “Por isso vos digo que vos tirarão o reino de Deus e o darão a um povo que dê os frutos devidos”.

Os primeiros responsáveis pela vinha serão dispensados deste encargo e novos responsáveis serão colocados no lugar deles. O fracasso do povo da antiga aliança atingiu o seu ponto culminante no assassinato do Filho. O novo povo de Deus nascerá do sangue de Jesus. Aqui se recorda que a pedra que foi rejeitada, considerada sem valor e importância, se tornará a pedra angular de toda a construção.

A narração desta parábola tocou profundamente a Igreja da nova aliança: eles viram na história do Messias que, rejeitado por alguns, será constituído Senhor mediante a ressurreição. Assim se realiza a promessa de Deus. O plano de Deus de colher frutos da humanidade, não foi abandonado pela rejeição de muitos: surgirá um novo povo a quem será confiado o reino de Deus e que dará muitos frutos. O convite para fazer parte deste povo continua valendo para toda humanidade.

Através de Jesus, Deus cuida da sua vinha – a Igreja – porque é a vinha de Cristo. A Igreja é o corpo de Cristo. Pelo Batismo fomos inseridos neste corpo que nos conduzirá à Salvação. O desafio é produzir frutos que permaneçam e a consciência de que não somos donos da vinha, mas arrendatários. No final, Deus exigirá os frutos que produzimos, principalmente no que se refere ao cuidado com os mais fracos e com a natureza. O que podemos fazer é continuar no seguimento de Jesus e construir comunidades eclesiais missionárias. Na Eucaristia estamos unidos ao Deus da vida que nos oferece um novo vigor reavivando o nosso Batismo, nossa pertença à comunidade e uma vida nova capaz de contagiar com amor o mundo em que vivemos. O Senhor conta conosco para cuidar da sua vinha e que ela produza abundantes frutos. Amém!

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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