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Dom João Carlos Seneme

A salvação é oferecida a todos

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A comunidade de São Mateus era formada por cristãos do judaísmo e do mundo pagão, pregava-se que Deus iria recompensar alguns igualmente. O judeu se sentia superior em nível religioso: o seu compromisso com Deus remontava há séculos. Eles carregavam na própria carne o sinal da aliança, a circuncisão. Eram cumpridores dos mandamentos e decretos do Senhor. Todos os sábados estavam presentes na sinagoga.

Como Deus poderia retribuir o mesmo a esses pagãos recém-convertidos, que passaram grande parte de suas vidas sem se importar com Deus ou com o próximo?

Usando algumas palavras do profeta Daniel, diziam: como eles iriam brilhar no futuro firmamento exatamente como eles?

No final podemos perceber a censura que o proprietário (Deus) lhes faz: “o problema de vocês não é a justiça, mas a inveja. Vocês se incomodam porque estou sendo bom?

A parábola dos operários chamados em horas diversas a trabalhar no campo do empregador e que, no final da tarde, recebem o mesmo valor (Mt 20,1-16), revela a diferença entre o nosso modo de avaliar e o modo de Cristo. A aliança de Deus com o ser humano se fundamente exclusivamente na absoluta liberdade de Deus, em sua gratuidade, em sua bondade. Não tem nada a ver com o nosso modo de agir.

Jesus narra esta parábola, provavelmente, para responder às críticas dos adversários que o acusavam de estar demasiado próximo dos pecadores (os trabalhadores da última hora). Através dela, Jesus mostra que o amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos e filhas, sem exceção e por igual. Para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do Reino. Para Deus, não há tratamento “especial” para aqueles que estão há mais tempo no processo de seguimento.

Muitos nasceram em família de tradição religiosa e católica, outros se converterem em idade adulta e há aqueles que se deram conta da importância de Deus ao final de suas vidas. Para Deus sempre é possível assumir um caminho novo de salvação. Ele chama o tempo todo e se alguém ouvir e responder sim, este merece o seu amor e a sua salvação.

De nossa parte deveríamos ficar felizes e não resmungar que temos mais direito. É difícil entender o modo de agir de Deus, por isso nos cabe somente adorá-lo e nos convencer que Ele diferente de nós, tem seu modo de agir e de pensar. Deveríamos ser-lhe gratos por isso.

A sentença final: “Assim, os últimos serão primeiros; e os primeiros serão últimos” permanece aberta. Aplica-se à relação dos judeus e pagãos em relação ao Reino, aplica-se dentro da Igreja em diversas circunstâncias. Os primeiros se refugiam em suas prestações de serviço, os últimos confiam na generosidade de Deus.

Ser discípulo missionário é o caminho para a verdadeira vida. Quem segue o caminho de Jesus e vive em comunidade é feliz, encontra a paz e a serenidade e colhe, logo aí, uma parte de sua recompensa que será definitiva no Reino de Deus.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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