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Dom João Carlos Seneme

Ele vendeu tudo para adquirir o tesouro escondido e a pérola preciosa

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Nos dois domingos anteriores, o discurso em parábolas (Mt 13) respondeu a três perguntas que a antiga comunidade cristã se faz e que continuamos a nos fazer: 1) Por que nem todos aceitam a mensagem de Jesus? (parábola do semeador); 2) O que fazer com quem não a aceita? (o trigo e o joio); 3) Esta comunidade tão comunidade tem futuro? (semente de mostarda e fermento). Vale a pena continuar a obra de Jesus?

Esta é respondida por duas parábolas muito breves, aparentemente idênticas no desenvolvimento e com grande semelhança nas imagens. Por isso são conhecidas como as parábolas do tesouro e da pérola. O protagonista descobre algo de enorme valor. Para obtê-lo, vende tudo o que tem e compra o objeto desejado.

O protagonista da primeira parábola é um homem de sorte. Enquanto caminhava pelo campo, ele encontra um tesouro. Ele deseja o tesouro e não quer que ninguém saiba. Em primeiro lugar, ele o esconde. Recuperado da surpresa, ele fica radiante e decide se apropriar do tesouro de modo correto e legal. A única solução é comprar o campo. É grande e caro. Não importa. Ele vende tudo o que tem e o compra.

O protagonista da segunda parábola é muito diferente. Ele não perde tempo andando pelo campo. Ele é um comerciante consciencioso que sai em busca de pérolas de grande valor. Ele não as encontra por acaso; ele se empenha e vai atrás delas. Como um bom comerciante, ele vende tudo o que tem para comprá-lo.

Estas parábolas se dirigem a uma comunidade que vive uma crise profunda e se pergunta se vale a pena ser cristão. A resposta tenta reviver a experiência dos primeiros cristãos, quando cada um decidiu seguir Jesus. Alguns entraram em contato com a comunidade por acaso e descobriram nela um tesouro pelo qual vale a pena desistir de tudo. Outros descobriram a comunidade depois de anos de inquietação religiosa e intensa busca, como aconteceu com muitos pagãos em contato com o judaísmo; eles também tiveram que fazer uma escolha.

As parábolas nos fazem refletir: a fé em Jesus e na comunidade cristã ainda é um tesouro inestimável para mim ou se tornou um objeto inútil e empoeirado que guardo apenas como lembrança?

Ao mesmo tempo, elas nos ensinam algo muito importante: o cristão, com a sua vida e comportamento, revela aos outros o valor supremo do Reino. Se não nos alegramos em descobri-lo, se não desistimos de tudo para obtê-lo, seu valor não será perceptível. Estas parábolas parecem nos dizer: “Quando lhe perguntarem se vale a pena ser cristão, não elabore discursos; mostre com sua vida que vale a pena”.

Mateus termina as sete parábolas do capítulo 13 comparando o anunciador do evangelho a um chefe de família. Em um sentido imediato, o escriba que compreende o Reino de Deus é Jesus. Para expor sua mensagem, ele usou coisas novas e antigas. Do baú das suas memórias tirou coisas antigas: alguma alusão ao Antigo Testamento, a pregação em parábolas e a linguagem imaginativa dos profetas. Mas a maior parte é constituída por novidades, fruto da sua experiência e da sua capacidade de observação: a vida do agricultor, da dona de casa, do pescador, do comerciante, das pessoas que o rodeiam, servem para expor com interesse a sua mensagem. Por isso, a comparação final é também um convite aos discípulos e todos os criativos para que sejam criativos, renovem a sua linguagem, comecem a implantar o Reino futuro de Deus aqui e agora.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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