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Dom João Carlos Seneme

Eu te louvo, ó Pai, porque revelaste os teus mistérios aos pequeninos

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Estamos no 14º Domingo do Tempo Comum, e a Liturgia da Palavra esclarece que os mansos e humildes acolhem e seguem Jesus. O evangelho é se São Mateus 11, 25-30. O evangelista, no início do evangelho, havia apresentado o programa de vida de Jesus através das bem-aventuranças sobre os pobres, humildes e pacificadores. Depois de mostrar Jesus sendo rejeitado pelas autoridades judaica, o evangelista retoma o tema dos pequenos mostrando que o próprio Jesus é o modelo dos humildes e pobres que confiam em Deus.

“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Jesus nos convida a imitar a sua humildade. A humildade não consiste em ser pequeno, ou sentir-se pequeno. Ela consiste em fazer-se pequeno por amor, para servir e elevar os outros. Essa é a humildade de Jesus: Ele se despojou de sua divindade e autoridade como Filho de Deus e humilhou-se assumindo a condição de servo para nos salvar. Por isso afirma: aprendei de mim que sou manso e humilde.

Deus é humilde, porque se encontra no mais alto céu e se abaixa. O que Ele faz todo o tempo: criando o mundo, se abaixa; inspirando a Bíblia, age como um pai que fala a linguagem balbuciante do filho para ensiná-lo a falar; na encarnação desce; na Eucaristia desce. A história da salvação é a história das descidas e das humilhações de Deus.
A contraposição entre sábios e inteligentes de um lado e pessoas mansas e humildes do outro é escandalosa aos olhos humanos. Pequenos e simples no evangelho é o contrário de soberbo. O evangelho não condena a sabedoria, mas o orgulho. Com sua mensagem, Jesus a todas as pessoas em todos os tempos.

No tempo de Jesus os sábios e entendidos eram considerados todos aqueles que eram especialistas na Lei, conhecendo suas particularidades e nuances. Graças a este conhecimento podiam cumpri-la exemplarmente. Porém havia um outro perigo: o conhecimento podia conduzi-los a uma excessiva segurança e ao desprezo por aqueles que ignoravam a Lei: curtidores de pele de animais, os que trocavam dinheiro, os publicanos, pastores, agricultores, entre outros.

Do outro lado Jesus coloca os humildes; o termo faz referência à criança frágil e sem defesa e aos simples, que, aos olhos do mundo, não têm prestígio.

Na Bíblia a revelação de Deus não está ligada aos valores e capacidades humanas, mas à gratuidade de Deus. Deus escolhe o segundo filho, Jacó, e não o primogênito, Esaú; coloca o seu olhar sobre Sara, Rebeca (…) mulheres estéreis e não sobre as mulheres fecundas de Israel; prefere a estrangeira Rute (…). Nos Salmos, os simples se tornam os destinatários da revelação divina e estão sob a proteção divina. A eles Deus concede sabedoria e a luz de sua revelação: Deus os faz sábios, os defende e protege.

Todo esse pano de fundo, portanto, mostra como a revelação de Deus aos humildes é uma herança do Antigo Testamento. E chegamos finalmente a Jesus, o Messias, o Filho revelador do Pai, que conhece profundamente o mistério de Deus e se define como manso e humilde de coração. Jesus se torna modelo para todos os que projetam sua vida não a partir da presunção humana, mas a partir do plano divino, que é sempre um projeto de mansidão, bondade e misericórdia. Jesus está sempre pronto para tirar o jugo do pecado que pesa sobre nós e nos conceder a paz.

Ser cristão é viver como Jesus viveu, ser manso e humilde de coração à maneira de nosso Pai Celeste, como Jesus nos mostrou.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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