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Dom João Carlos Seneme

O Reino dos Céus é como um tesouro escondido

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As parábolas de Jesus ajudam o leitor a pensar de um modo diferente, olhar a realidade de um jeito novo, ultrapassando limites e despertando uma atitude mais comprometedora com a vida e os acontecimentos bons e ruins. Tudo isso em vista do Reino de Deus.

Neste domingo (26) o texto evangélico nos apresenta três breves parábolas: o tesouro escondido, a pérola preciosa e a rede lançada ao mar. As duas primeiras explicam não a aparência do Reino, mas sua natureza oculta, e a atração irresistível que exerce naqueles que querem descobri-lo. O destaque é colocado sobre a reação de quem encontra o tesouro ou naquele que, ansiosamente, estava procurando a pérola. Jesus quer deixar claro que o reino de Deus não está facilmente ao alcance de todos, mas todos podem encontrá-lo, é preciso buscar.

Quando alguém sabe onde está o tesouro, ele estará pronto a vender tudo para obtê-lo. Ele vai se desfazer de tudo que tem para possuí-lo. A renúncia radical é necessária – é o preço que deve ser pago para atingir o Reino. Quem não tem esta capacidade ou não quer arriscar, não está em condições de descobrir o Reino de Deus, porque precisa se libertar de muitas coisas e investir naquilo que é necessário para encontrar a felicidade plena. A exigência que Jesus apresenta aos seus discípulos ainda é válida hoje. A renúncia provoca alegria no homem porque ele sabe que está adquirindo algo muito valioso. Quando se descobre o bem supremo, tudo se torna supérfluo diante dele. O mesmo se dá diante da pérola preciosa. Vale a pena investir tudo para adquiri-la. A descoberta do Reino muda a vida de quem o descobre: o sinal é a alegria e a paz porque tem certeza que encontrou o essencial para viver a verdadeira felicidade.

Pois bem, se o Reino dá origem a esse tipo de reação em quem o descobre e se Deus pede este tipo de renúncia a quem o encontra, o que está acontecendo conosco? Por que continuamos a nos apegar às coisas que temos, grandes e pequenas? Por que temos tanto medo de perder o pouco que temos? Por que Deus e o seu reino não conseguem despertar em nós a reação que é normal quando se descobre um tesouro ou uma pérola de grande valor? Tudo deve ser avaliado com a sabedoria que é dom de Deus.

A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus. Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”, no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele.

Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados. Por isso precisamos estar atentos, abertos à manifestação de Deus. Tais decisões exigem rapidez e prontidão. São situações que não se repetem todos os dias e por isso não podemos deixá-las passar.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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