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Dom João Carlos Seneme

Ó Senhor, vós sois bom, clemente e fiel

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No Evangelho deste 16º Domingo do Tempo Comum, Mateus nos apresenta um novo exemplo da semente divina (Mt 13,24-43). Temos várias parábolas que usam da mesma imagem para nos ensinar como Deus propõe a sua Palavra à humanidade. Na parábola do “joio e o do trigo”, em especial, o elemento característico é que junto do semeador divino há também o semeador do mal. Esta parábola ilustra o dinamismo do Reino dos Céus ameaçado pelo “joio”, perigo permanente ao longo da história.

Na primeira parábola aparece a semente do trigo (o bem) que foi semeada e junto há também o joio (erva daninha venenosa, o mal). Crescem juntos e será necessário tempo e paciência para a colheita onde um será separado do outro.

Na segunda parábola o Reino dos Céus é apresentado como uma semente (grão de mostarda) pequena e insignificante, mas que, ao crescer, se destaca tornando-se uma árvore frondosa e grande.

Na terceira comparação o Reino é apresentado como uma porção pequena de fermento que age em uma grande quantidade de trigo, transformando-se em pão. Todas elas revelam o modo de agir de Deus que é muito diferente do nosso: Ele é sobretudo paciente e misericordioso, age movido pelo amor, pelo desejo de que todos reconheçam sua presença e se empenhem para transformar o mundo em espaço de vida abundante onde todos tenham vez e lugar.

“Senhor, não semeaste a boa semente no teu campo? Donde veio então o joio”?

A pergunta dos empregados é a pergunta do homem de hoje: se o Reino de Deus está realmente presente, como explicar que o mal ainda existe? Por que o mundo não muda com a vinda de Jesus?

Esta questão, ainda mais justificada depois da Páscoa, pode por vezes atormentar e até escandalizar. O mal está sempre presente, de muitas formas e é invasivo. O mal que a fé identifica como pecado e do qual a salvação deveria ter nos libertado. A parábola responde assim: a salvação não é imposta, assim como não se impõe a acolhida do Reino de Deus. O Evangelho é anunciado à humanidade para que ela se empenhe na transformação do mundo. A parábola mostra como devemos reagir, que atitude adotar num mundo marcado por tanta ambiguidade.

“Deixai crescer um e outro até a colheita”. A vida espiritual é muito parecida com a plantação onde a mistura é inevitável. Os valores do Reino de Deus devem ser vividos em um mundo concreto onde o bem e o mal parecem misturados. Os discípulos não devem constituir uma comunidade à parte, a experiência de fé não deve ser vivida em mundo à parte. A única cizânia que eles podem arrancar é a que está dentro de cada um. Separar definitivamente o bem do mal é uma tarefa que somente Deus pode realizar no juízo final.

A parábola do joio e do trigo indica que devemos moderar todo espírito de zelo exagerado e de intolerância na construção do Reino Deus. As outras duas parábolas, da mostarda e do fermento, transmitem o mesmo ensinamento. Elas querem mostrar a desproporção que existe no início da pregação do Evangelho e o desenvolvimento extraordinário que ele apresenta. O Reino de Deus pode parecer muitas vezes imperceptível, mas possui um dinamismo interno impressionante. Quando é acolhido produz efeitos surpreendentes e inexplicáveis. A força de Reino de Deus é tão grande que transforma a vida inteira do homem.

Agora não é tempo da justiça, mas da misericórdia e do convite à conversão. Obviamente que pode parecer um discurso cheio de riscos, mas não é este o risco que corre todo aquele que aposta no amor? Deus apostou no amor!

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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