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Dom João Carlos Seneme

Onde há caridade e amor, Deus aí está

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No capítulo 18 do evangelho de São Mateus Jesus se concentra na formação de seus discípulos. Não somente através de discurso, mas também através dos diversos acontecimentos que se apresentam. Diversos temas vão aparecer durante a caminhada para Jerusalém, como por exemplo, os perigos que os discípulos deverão enfrentar: ambição, escândalo, falta de atenção aos pequenos; a vida em comunidade: correção fraterna, perdão; o desconcerto do discípulo: diante do matrimônio, das crianças, da riqueza, da recompensa.

O evangelho deste domingo (10/09) trata do tema da vida em comunidade em relação à correção e perdão (Mt 18,15-20).

A comunidade de Jesus é uma comunidade normal, onde há tensões entre os diversos grupos e problemas de convivência: há irmãos que se julgam superiores aos outros e que querem ocupar os primeiros lugares; há irmãos que tomam atitudes prepotentes e que escandalizam os pobres e os simples; há irmãos que magoam e ofendem outros membros da comunidade; há irmãos que têm dificuldade em perdoar as falhas e os erros dos outros. O texto nos apresenta um “modelo” de comunidade para os cristãos de todos os tempos: a comunidade de Jesus deve ser um exemplo de comunidade onde se procura viver a fraternidade e harmonia em vista da missão a partir do amor que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Neste ambiente comunitário, Jesus exorta seus discípulos à prática da correção fraterna que deve ser associada à caridade. A comunidade se destaca por estar reunida ao redor de Jesus, por isso é uma comunidade movida pela fé: “Pois onde há dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. A correção fraterna nunca será fácil de ser exercida e a sua prática exige que as pessoas vivam uma verdadeira dimensão fraterna, feita de estima, confiança, respeito, afeto sincero e amizade, buscando o mesmo ideal: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos”.

Reunir-se em nome de Cristo é criar um espaço para viver a vida inteira em torno d’Ele e a partir do seu horizonte. Um espaço espiritual bem definido, não por doutrinas, costumes ou práticas, mas pelo Espírito de Jesus que nos faz viver como ele viveu. Nossas fraquezas e debilidades não devem ser empecilhos para caminhar juntos na direção do amadurecimento de nossa fé. Quando assumimos nossas diferenças como riqueza, unidos pelo mesmo ideal, nos sentimos mais fortes e tolerantes uns com os outros. O amadurecimento da fé é associado ao crescimento humano. A renovação da Igreja começa no coração de dois ou três que se reúnem em nome de Jesus.

Na comunidade cristã somos responsáveis uns pelos outros. Amar alguém é não ficar indiferente quando ele faz mal a si próprio. Por isso, amar significa, muitas vezes, corrigir, admoestar, questionar, discordar, interpelar. A atitude de correção fraterna não seja guiada pelo ódio, pela vingança, pelo ciúme, pela inveja, mas seja guiada pelo amor. A lógica de Deus não é a condenação do pecador, mas a sua conversão; e essa lógica devia estar sempre presente, principalmente quando é necessária a correção fraterna.
“Ama e faze o que queres. Seja que cales, cala por amor, seja que fales, fala por amor; seja que corrijas, corrige por amor; seja que perdoes, perdoa por amor. Esteja em ti a raiz do amor, porque desta raiz não pode nascer outra coisa a não ser o bem” (Santo Agostinho).

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

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