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Dom João Carlos Seneme

Toma a sua cruz e caminha comigo, então será meu discípulo

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No Evangelho deste domingo (4) continuamos caminhando com Jesus em direção a Jerusalém. Esta grande viagem revelará o amor do Filho ao Pai e a toda humanidade: “Foi obediente até a morte e morte de cruz”.

O Evangelho (Lc 14,25-33) mostra que uma grande multidão acompanha Jesus, mas nem todos o seguem literalmente. A cruz assusta e intimida, por isso Jesus faz um discurso apontando as coordenadas do “caminho do discípulo”: é um caminho em que o “Reino” deve ter a primazia sobre as pessoas que amamos, nossos bens, nossos próprios interesses e esquemas pessoais.

Palavras duras que revelam que diante de Jesus as multidões, os discípulos, cada um de nós hoje deve tomar uma decisão e conhecer as facilidades e dificuldades de ser verdadeiro cristão.

Em forma de parábolas, Jesus delineia o caminho do discípulo do Reino: nada nem ninguém pode nos impedir de aderir ao Reino de Deus: laços familiares, bens e inclusive a própria vida!

Difícil, não é?

Por isso o exemplo da construção da torre que exige cálculos e projetos. Do mesmo modo, o rei que se põe em batalha. Jesus parece estar dizendo que, antes de querer segui-lo, é preciso examinar se se é capaz de ir até as últimas consequências. Ser cristão não é um privilégio, trata-se de uma responsabilidade. Não é questão de abandonar família, bens ou a própria vida, mas dar-lhes o devido valor e lugar.

Somos frágeis e finitos, a qualquer momento podemos faltar. Diante do momento definitivo somente a bondade de Deus poderá nos socorrer.

Mesmo correndo o risco de ficar sozinho, como realmente aconteceu na cruz, Jesus não ameniza as exigências do verdadeiro discípulo. Ele não está preocupado com números. Nós, ao contrário, às vezes, estamos mais interessados que as estatísticas da paróquia apresentem um grande número de batizados, de casamentos, de crismas, de comunhões, do que propor, com exigência, a radicalidade do Evangelho e dos valores de Jesus.

A leitura do Evangelho deste domingo deve ser vista à luz do que refletimos domingo passado, isto é, a parábola dos convidados ao banquete do Reino: há lugar para todos, de modo especial para aqueles que não poderão retribuir o convite.

Outra passagem que nos vem à mente é a do sal que perdeu o sabor: ela nos fala do discípulo que perdeu o encantamento pelo seguimento, deixou o fervor de lado e se tornou morno ou insípido e agora caminha sem vontade e vigor.

Podemos concluir esta reflexão com uma oração:

“Jesus, estamos um pouco apavorados por aquilo que nos disseste hoje. Nosso espírito está pronto, mas nossa carne é fraca. Nosso espírito sabe que se pedes coisas é porque queres doar-nos outras muito maiores. Sustenta a fraqueza de nossa vontade; inflama nosso desejo por aquelas coisas grandes que reservas para nós. Queremos viver voltados para os bens eternos” (Frei Raniero Cantalamessa, ofm).

Iniciamos o mês da Bíblia. O contato com a Palavra de Deus renova o desejo de seguir os passos de Jesus e se tornar verdadeiro discípulo missionário. O livro de estudo do mês da Bíblia 2022 é o livro de Josué que lidera a caminhada do povo de Israel e sua instalação na terra prometida. Deus caminha com seu povo e suscita líderes que realizem sua promessa e aliança.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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