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Moro no cravo e na ferradura

Em visita a Cascavel, ex-juiz da Lava Jato não poupa Lula nem Bolsonaro e faz chicote que bate em Chico bater também em Francisco

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Imprensado entre o petismo e o bolsonarismo, quando na condição de pré-candidato a presidente da República, sob fogo cerrado da trupe do Centrão e setores influentes do próprio Judiciário, Sergio Moro esteve sempre no fogo cruzado até se perceber inviabilizado pela ressureição do tal “Mecanismo”.

Sobrou pouco, quase nada, da Operação Lava Jato. Mas a língua do ex-juiz esteve mais afiada que nunca na passagem por Cascavel, entre quarta (6) e quinta-feira (7). Ele não é um estranho por essas plagas.

Deu expediente na condição de magistrado no prédio da Justiça Federal, quando o órgão funcionava na Rua Paraná, quase em frente ao Paço das Artes. Lecionou na Univel. Sorveu algumas doses do veneno da cobra e apresentou essa faceta na passagem desta semana.

Entrevistado pelo jornalista José Roberto Benjamin ao vivo na CBN, Moro procurou demonstrar moderação, mas quando surgiram os nomes de Lula e Bolsonaro, ele não se esquivou.

“É assustador ver o Lula como candidato a presidente, é uma tragédia para o país. Foi condenado em três instâncias, é um erro gigante do Judiciário”, disse.

Nem Luiz, nem Jair

Instado a dizer se votaria em Bolsonaro em um eventual segundo turno contra Lula, Moro apressou-se em corrigir o entrevistador. Disse que o União Brasil – partido ao qual está filiado – tem candidato próprio a presidente e deixou claro que não vota no Jair.
Após o chicote em Chico, veio o do Francisco. Moro disse que não podia permanecer no Ministério da Justiça mediante uma divergência no que ele considerava sua principal missão ali: o combate à corrupção.

Para Moro, o governo Bolsonaro não atuou para combater a corrupção. “Muito pelo contrário”, enfatizou o ex-juiz.

Política criminalizada

Dizem os insuspeitos do Centrão que quando pôs uma porção de mandatários em cana, Moro e a Lava Jato criminalizaram a política. É isso mesmo?

“Quem foi preso é porque pagou propina ou recebeu propina. Criminalização da política coisa nenhuma. Se pagou ou recebeu propina tem que pagar pelo crime. É assim que se faz uma grande nação, com ninguém acima da lei”, exaltou-se Moro.

Para ele, a Lava Jato foi uma “conquista institucional” capaz de “quebrar o histórico de impunidade no Brasil”.

Atuação na Justiça

Moro fez um breve relato de sua passagem – também breve – no Ministério da Justiça. Disse que pela primeira vez foram isolados em penitenciárias federais de segurança máxima os líderes de organizações criminosas. E que o número de homicídios caiu.
Instado a dizer a qual cargo irá concorrer no Paraná, tergiversou, mas deu a entender que irá disputar o Senado. Para tanto, terá que atropelar o decano Alvaro Dias. “Se for assim (disputar com Dias), será uma disputa em alto nível”, ponderou.

STF e urnas

Moro elogiou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, mas apontou erros na Corte. Disse que o STF fragilizou o combate à corrupção quando acabou com a prisão em 2ª instância, “fato que permitiu soltar inúmeros criminosos presos na Lava Jato”.

Afirmou que o STF errou novamente ao livrar Lula. “O recado desta atitude foi o seguinte: o crime compensa”, pontuou o ex-juiz. Ele fez uma ressalva às críticas, dizendo “inaceitáveis” ameaças físicas ou ofensas de baixo calão aos ministros.

Sobre as urnas eletrônicas, declarou que é legítimo debater o voto impresso, mas que arguir a ilegitimidade do sistema agora “é perigoso”. “As urnas funcionam desde 1996 sem que se tenha questionado de forma consistente e provada a legitimidade dos resultados”, ponderou.

13 ou 22?

Mediante a reducionista insistência para definir um lado entre Lula e Bolsonaro, Sergio Moro foi enfático: “estarei na oposição”.

Portanto, para o ex-magistrado, a sentença está dada, mas para implementá-la primeiro é preciso obter o mandato nas urnas.

Para tanto, enfrentará irados petistas, bolsonaristas e todo o quadrilhão do Centrão. Convenhamos, parada dura…

Jairo Eduardo é jornalista, editor do Pitoco e assina esta coluna semanalmente no Jornal O Presente
pitoco@pitoco.com.br

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