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Pitoco

“Estou pronto”

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“Na vida empresarial e na vida pública, o líder não precisa saber tudo, até porque ninguém sabe tudo. Mas é preciso identificar quem sabe. Foi o que fiz. Me cerquei dos melhores”

Com Paranhos e Ratinho Junior, a pré-candidatura de Renato Silva (centro) ganha musculatura eleitoral

Renato Silva é Renato Silva. Não precisa ser apresentado para ninguém em suas fragilidades e suas fortalezas, pois todos as conhecem. Fala olhando nos olhos, vez ou outra ilustra pensamentos com trechos bíblicos e carrega consigo uma convicção: chegou o momento de disputar aquela cadeira estofada no 3º andar do Paço de Cascavel, local que já frequentou interinamente, sempre cercado de cautelas e liturgias do cargo.

Com esse jeitão salomônico, agregador, Silva conquistou o apoio daquele que é tido e havido como principal cabo eleitoral da cidade, Leonaldo Paranhos, eleito recentemente para a condição de prefeito mais bem avaliado do Brasil. Com o prestígio de Paranhos, Renato pode trazer mais gente do andar de cima da política, como o governador Ratinho Junior e algumas das principais lideranças de Cascavel.

É uma bela largada. Mas Renato vai mesmo para a disputa? E nos debates, estará pronto? Caso eleito, abrirá espaço para novas lideranças ou vai ambicionar um mandato de oito anos? Para todas essas questões, Renato Silva é lacônico e telefráfico. A resposta é a mesma: “Estou pronto”.

O pré-candidato pelo Republicanos, ao lado do empresário e coordenador de campanha, Rubens Beal, recebeu o editor do Pitoco na sede administrativa do Festval, para a seguinte entrevista:

Pitoco – A candidatura é pra valer?

Renato Silva – Olha, eu estou tão decidido, tão seguro dessa responsabilidade que estou assumindo, que percebo o meu entusiasmo empolgando também o entorno e a comunidade, e isso me enche de energia.

Em outra ocasião acabou abrindo mão do projeto…

Foi um gesto de desprendimento, lá no ano de 2000. Algumas pessoas, na época, não entenderam. Naquela ocasião não abri mão de uma candidatura legítima para um desqualificado. Tratava-se de um cidadão que já tinha assumido inclusive a presidência da igreja, da Acic, Sociedade Rural e outras entidades relevantes. Se fez bom governo ou não, cabe à sociedade julgar, mas tinha credenciais.

O que pesou em sua decisão?

Eu era o primeiro suplente de deputado federal. A sociedade clamava por mais representatividade de Cascavel em Brasília. Eu não poderia ser leviano e irresponsável de correr o risco de perder um mandato de deputado federal que não era meu, era da sociedade. Por isso que abri mão daquela candidatura.

Isso pode se repetir?

O momento político é outro. Jamais abrirei mão deste chamado, dessa frente que se formou sob a liderança do prefeito Paranhos. Vamos continuar o trabalho que o prefeito fez, que estamos fazendo em Cascavel. Hoje de A a Z, existe um sentimento de gratidão pelo trabalho que esse moço vem fazendo em conjunto com toda sua equipe. Então vou até o final, sim senhor, sem sombra de dúvida.

O cidadão a que você se refere é Edgar Bueno, seria o momento de ele retribuir o gesto de 24 anos atrás?

Eu tenho dito para ele, a gente tem que conversar. Nós vamos continuar vivendo em Cascavel, então eu dialogo com todos, não quero criar inimigo. Na política temos adversários eventuais, não inimigos. Eu já disse a ele, com todas as letras, que se nós fizermos uma contabilidade, ele me deve. Neste momento eu estou com crédito.

Se arrepende do gesto desprendido de 2000?

Eu quase apanhei quando dei ao garantir o mandato para ele, quando trabalhei por candidatura única. Até porque o Edgar, não quero entrar em mérito se fez governos bons ou ruins, isso cabe à população julgar, tinha uma vivência em Cascavel como empresário e nas entidades de Cascavel. Ele tinha perdido eleições em 1992 e 1996. Se não abro mão talvez perderia novamente, mas enfim, por isso que tenho crédito. Eu disse que se ele quiser retribuir, eu agradeço muito.

Raiz em Cascavel, tradição, longa jornada na cidade, são pré-requisitos a ser levados em conta pelo eleitor?

Não tenha dúvidas. Quero manifestar minha gratidão pela cidade que me acolheu quase 50 anos atrás. Plantei e colhi amizades aqui, vinculos, empreendimentos. Não faltam aqueles que não plantaram sequer um pé de cebola na sua comunidade mas querem se beneficiar da colheita, principalmente na área pública. É aquilo de chegar atrasado à rodoviária e exigir sentar-se no banco da janela no ônibus. É preciso semear primeiro…

Em outras palavras, para domar a máquina gigante da prefeitura tem que ter braço e experiência…

Experiência e raiz na cidade é fundamental. Me recordo que há 42 anos, eu fui candidato a vereador aqui. Fiz 1.749 votos. Presidi a Câmara Municipal em uma legislatura muito qualificada, que tinha o Galafassi, Toninho Trento, Aldo Parcianello, Frangão, Marlise e tantos outros políticos de personalidade forte, foi uma escola para mim. Fui secretário geral da prefeitura e prefeito em exercício. Então eu tenho vivência pública. Não sou um marinheiro de primeira viagem. Exerci mandato no Congresso Nacional. São aprendizados. Estou pronto, estou preparado. Estou pronto para dar continuidade aos mandatos excepcionais do prefeito Paranhos.

Você vê “marinheiros de primeira viagem” entre seus concorrentes?

Não quero fazer julgamento aqui, a sociedade é que deve julgar. Mas sempre houve perfis com fome de poder nas disputas, isso é perigoso. Alguns precisam se preparar melhor, obter mais experiência para assumir um desafio desta magnitude. É como se fosse na sua empresa: se você colocar a direção na mão de uma pessoa que não está pronta, por competente que possa ser, ela poderá cometer erros insanáveis. Na outra ponta, há também aqueles que já foram testados, que já tiveram a oportunidade de fazer. Cabe a sociedade julgar se merecem outra oportunidade ou já cumpriram seu papel.

Renato Silva e o coordenador da campanha, Rubens Beal: trânsito fluído no mundo empresarial

Sempre haverá analogias entre futebol e política. O mote de sua campanha será aquela do time que está ganhando?

Não tenho dúvidas, até porque hoje temos um time bem montado, entrosado, com craques em campo e ótimas opções no banco de reservas. Não necessariamente tem que mexer nesse time. Nós estamos ganhando o jogo, e os índices de aprovação da gestão comprovam isso, estamos liderando o campeonato. O técnico Paranhos soube escalar os melhores, e nós, como parte integrante deste time, saberemos dar sequência e trazer mais taças para Cascavel.

Ser o precursor do ensino universitário privado na cidade é um trunfo político?

Não sei se é, mas a Univel só faz o bem para Cascavel. A Univel somou-se a Unioeste para formar aqui um grande polo universitário, que trouxe outras instituições para a cidade e possibilitou um grande salto socio-economico e cultural. Veja como são as coisas: ninguém conseguia montar uma faculdade aqui. Havia projetos, existia só no papel, mas era algo de risco. Eu comprei a ideia, sempre fui audacioso. Não confundir audácia com gula. Não sou guloso, tenho pavor de cara faminto de poder. Eu comprei os projetos, pois ninguém conseguia abrir uma instituição de ensino. Fui alertado de que seria difícil, para alguns quase impossível. Então tive a oportunidade de provar que quando você quer fazer as coisas você faz.

Como é dirigir uma instituição privada com amigos pedindo favores?

Fundamos a instituição e blindamos com ferramentas de compliance. Me assessorei com as melhores cabeças. Na vida empresarial e na vida política, o líder não precisa saber tudo, até porque ninguém sabe tudo. Mas é preciso identificar quem sabe. Foi o que fiz. Me cerquei dos melhores. Nós não envergonhamos a sociedade, não vendi vaga. Poderia ter vendido, tava cheio de “amigo” querendo comprar. Certa vez tive que dizer a um persistente cidadão: “não me leve a mal, mas o senhor vai entrar pelas portas dos fundos na casa da senhora sua sogra, mas não aqui na Univel”. Por isso que a Univel tem esse respeito, e por isso que perdia alguns “amigos”.

Universidade é lugar efervescente, onde as ideias se chocam, e todo mundo tem opinião própria, como administrar os conflitos?

Com diálogo, respeito, capacidade de escutar e conciliar. Isso vale também no ambiente familiar e na vida pública. Gritaria não resolve nada. O perfil do bom líder é aquele que junta gente boa em torno de boas causas. O Brasil precisa reencontrar o caminho do debate respeitoso, da ponderação e da moderação. Ser um líder moderado não significa ser um líder fraco. A força verdadeira está na junção de esforços. Chegamos até aqui pela cooperação, não pela divisão.

Seus adversários e até alguns amigos da onça fazem piada de um debate em que você participou, aquele das floreiras nas marginais, como você reage?

Acredito que para reparar na oratória alheia, a pessoa teria que ser um Rui Barbosa, um Águia de Haia, né? Convenhamos, não há muitos perfis assim por aí. Levo na brincadeira essa provocação. Sempre fui mais de fazer do que de falar. Falar até papagaio fala. Falar é fácil, fazer é que são elas. Nunca fui um grande orador, mas aprendi que a teoria sem a prática não tem valor. Olhem as obras, não as palavras. Palavras sem obras são vazias.

Está definida a coordenação de campanha?

Sim, temos uma bela equipe coordenada pelo empresário Rubens Beal. Já disse antes e repito: procuro me assessorar com gente boa e qualificada. Conheci dona Lidia e seu Severino Beal 49 anos atrás. É uma família de respeito, pessoas de bem, com raízes e berço. Fui padrinho político do Carlos e do Paulo Beal quando foram eleitos vereadores em Cascavel. O Rubens por livre e espontânea vontade aceitou coordenar a campanha. É um geto de grandeza se observamos que muita gente capacitada acaba se omitindo alegando desencanto com a política.

Você sabe como é eleição para prefeito aqui, do pescoço para baixo tudo é canela…

Com toda a sinceridade, desafio é comigo mesmo. Eu já dei prova disso. Quando ninguém conseguia realizar o maior clamor de uma época que era ampliar a oferta de cursos superiores eu enfrentei a tal “missão impossível” mesmo diante de prognósticos muito pessimistas, persisti e venci. Me sinto preparado sim. Sou um homem de diálogo, mas firme na defesa dos interesses legítimos de Cascavel. Se me permite fazer nova analogia com o futebol, eu lhe digo: sei jogar no ataque, com a camisa 9, mas sei vestir a camisa 3 do zagueirão também. Entro firme, mas na bola, sem deslealdade, sem maldade. Mas se for preciso enfrentar os desleais, os maus, eu os enfrentarei.

O apoio do principal cabo eleitoral da cidade é para valer mesmo?

O prefeito Paranhos é um homem de palavra, que valoriza a lealdade e o compromisso. A lealdade que ele sempre demonstrou comigo, eu retribuí com lealdade e comprometimento. O prefeito preparou a cidade para os próximos 50 anos. Cabe agora a nós dar sequência a esse trabalho. É árduo, desafiante. Por isso mesmo o Paranhos vai ser meu principal conselheiro, caso eu seja eleito prefeito de Cascavel. Se existisse o cargo de primeiro ministro na Prefeitura, o chanceler seria o Paranhos. O prefeito é diferenciado, temos que ter a humildade de ouvir quem sabe, e a sabedoria para em paralelo e harmônico com isso, imprimir também nossa identidade própria, construída com a os aprendizados de uma vida inteira dedicada a Cascavel.

A frente que o apoia é vasta e heterogênea. Há muitos líderes ali com projeto políticos futuros. Haverá uma janela de oportunidade para eles? Caso eleito, você será candidato à reeleição?

Leio ensinamentos do do rei Salomão diariamente. No salmo 24 lemos o seguinte: “Dê um beijo nos lábios da pessoa que responde com sinceridade”. Vou responder com toda a sinceridade: estou pronto para fazer uma transição geracional de quatro anos. Pronto. E digo mais: estamos carentes de novas lideranças. Uma vez eleito e mesmo durante o processo eleitoral deste ano, já começare-mos a formar novas lideranças. O líder político tem que pensar grande, olhar para frente. Não faz sentido se eleger por vaidade, poder pelo poder ou para se vingar de alguém. Ressentimento, espírito de vingança, atrasa a cidade. Percebo que minha missão é fazer uma transição dialogada, pacífica e construtiva de quatro anos. Estou pronto!

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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