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Mantovani chega a galope

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Oponentes faziam piada da candidatura até o criador de cavalos obter a chancela da alta cúpula do MDB para disputar a prefeitura; empresário de perfil outsider na política precisou de apenas uma década e meia para se tornar o rei do loteamento

Edson Souza, Anibelli Neto (presidente do MDB/PR), Batatinha, Mantovani e Orlando Pessuti: cúpula da sigla no PR recebe o “cavaleiro da esperança” no “Manda Brasa”

A vida de Luiz Fernando Mantovani é um áudio na velocidade 2 no WhatsApp. É tudo muito intenso. Desconfia-se que um dia médio de expediente dele consuma até 18 horas. Rápido e precoce. Aos 10 anos de idade vendeu seu primeiro imóvel.

Agora, na última década, surgiu inserido no top 3 dos maiores vendedores de terrenos de Cascavel. Não há um ranking oficial. Se houvesse possivelmente os quatro primeiros seriam Mascor (da Celinha), Padovani, Bella Casa & Okada e Mantovani, não necessariamente nesta ordem.

Fernando Mantovani acelerou mesmo de 2008 para cá. Em uma década e meia ele adquiriu área, edificou infraestrutura e entregou 18 loteamentos em oito cidades do Paraná e Santa Catarina.

Sempre com pressa e grudado em seu Iphone (onde investe horas em ligações de vídeo para comprar e vender), Mantovani é criador de cavalos quarto de milha para competição. O haras está entre Terra Roxa e Guaíra. É uma fábrica de campeões.

POTRO MILIONÁRIO

Há quem perca dinheiro e há quem ganhe com cavalos. Mantovani é ganhador. Seu plantel hoje é inigualável no Sul do Brasil em genética campeã. Seus potros podem valer quase meio milhão de reais.

Porém, mesmo seus melhores puro-sangue não entregam a velocidade que o empresário precisa para tocar seus negócios. Então ele usava SUVs potentes em seus deslocamentos, sempre com o pé no fundo. Também não atendeu.

Foi quando Mantovani passou a voar: aquiriu um helicóptero em 2016. A máquina não parava nunca. Acumulou milhares de horas-vôos em curto espaço de tempo. Até que caiu em Boa Vista da Aparecida com o empresário a bordo, em fevereiro de 2017.

DE SOLDADO RASO A GENERAL

Cair de bicicleta, cavalo ou helicóptero não é suficiente para parar o homem. Com o “avião de rosca” fora de combate, ele decolou para um avião. O mesmo que o levou como “soldado” do Avante para Curitiba essa semana, e o trouxe de volta como candidato a prefeito pelo MDB.

Aqui uma curiosidade: quando criança, Fernando olhava para os dois únicos hangares no modesto aeroporto de Cascavel (Camagril e Eucatur) e dizia: “Ainda vou ter um hangar aqui”. Esse dia chegou, e assim que pronto, veio uma proposta para alugar ao governo do Paraná por R$ 25 mil, uma boa grana.

“A minha condição era manter o nome Mantovani ali. Eles disseram que não seria possível. Então recusei. É meu sonho de menino. Preciso respeitar o menino que eu fui”, relata o sonhador.

Olha a cobra, Fernando!

Valer alertar: serpente para derrubar iniciantes na política do cavalo é o que não falta nos melhores potreiros políticos de Cascavel…

Mantovani com um de seus puro-sangue campeões: pique e recursos não lhe faltam, mas…

Mantovani, o puro sangue, vinha cogitando estreiar nas urnas. Virou chacota de alguns supostamente mais votados já que não havia recebido a benção dos donos dos partidos.
Chegaram a taxá-lo de “pangaré” – curiosamente, o mesmo apelido que Paranhos levava em outros tempos, antes de virar campeão de votos.

A foto que circulou nas redes sociais na última terça-feira (2), com os caciques do MDB avalizando sua pré-candidatura à Prefeitura de Cascavel, mudaram o ritmo do galope. Mantovani passou a enxergar ali o cavalo encilhado. Sabe-se que ele vai bem na cancha reta. Mas urna não tem crina. Cabe ao empresário agora provar que conhece a doma de um bicho bem mais arisco e assustado, sua excelência, o eleitor.

Em tempo 1: Era muita gente tentando falar com Mantovani desde que o MDB lhe garantiu a sigla. Então ele escalou – com seu jeito mandão – ninguém menos que o Batatinha para atender as ligações, o deputado estadual mais votado de Cascavel.

Oziel, o “ponta de corda”, popular na periferia de Cascavel, presidente do MDB local, garante que Mantovani será o candidato da sigla e que os equinos premiados de Brasília e Curitiba estão acomodados em suas baias.

Sabe-se, no entanto, que mesmo os cavalos campeões derrubam cavaleiros quando se deparam com serpentes. E serpente, Batatinha e Mantovani, é o que não falta nos melhores potreiros políticos de Cascavel…

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Ademir, o gari multicampeão

Cascavelense vence maratona internacional em Santa Catarina; treino diário dele começa às 5h da manhã, correndo atrás do caminhão da Ambiental

Homens em alvoroço vestindo laranja subindo e descendo freneticamente do caminhão coletor de lixo nas ruas de Cascavel. Quem nunca presenciou essa cena? Eles até parecem se divertir. Mas o trabalho diuturno é duro. Garis coletam mais de 400 toneladas de lixo por dia. Sem esse ofício, habitar a cidade seria impensável. “Lixeiro”, coletor, gari… cada um chama de um jeito. O biotipo físico de cada um deles não deixa dúvida: é preciso ser esguio para driblar o trânsito, flexível para centenas de agachamentos na coleta do saquinho de supermercado com detritos, e muito pulmão para correr atrás do caminhão.

Seria possível extrair um lutador de sumô dali? Não, mas um maratonista campeão sim. É o caso do coletor Ademir Ramos, “peso pena”, 53 quilos. Pouca gente que o aplaudiu no último domingo em Blumenau (SC), poderia imaginar a profissão dele.

Ademir, o gari da Ambiental, morador no bairro Consolata, periferia Norte da cidade, levou Cascavel para o lugar mais alto do pódium na concorrida 26ª Maratona Internacional de Blumenau. Embora campeão múltiplas vezes, o coletor foi às lágrimas ao ultrapassar a linha de chegada em 1º lugar.

Afinal, não era uma prova qualquer. “A 26ª Maratona Internacional de Blumenau é voltada para pessoas de todas as idades e classes sociais. Possui uma das melhores altimetrias entre todas as provas do Brasil, consolida-se entre uma das maiores em número de concluintes e também uma das melhores provas do Brasil para busca de melhores marcas pessoais”. Assim a prova estava apresentada no portal da maratona.

E havia outro ingrediente que a tornava muito especial. A 26ª edição celebrava os 200 anos de imigração alemã para o Brasil. As ruas estavam enfeitadas com adereços nas cores da bandeira germânica. E o vencedor foi um brasileiro de Cascavel de sobrenome lusitano, percorrendo 42 quilômetros em 2 horas e 26 minutos. Como a prova circunda o rio Itajaí-Açu, emoldurando um belíssimo cenário, é possível dizer que o circuito serpenteava pelo centro de Blumenau. Ali consagrou-se um “cobra” de Cascavel. Dado o itinerário ofídico, Ademir sentiu-se em casa. É como dizer: morar no banhado e perder para o sapo?

O prêmio do vencedor é relativamente modesto, R$ 5 mil, só que não, olhando na perspectiva dele. O valor que o atleta gari recebeu “trabalhando” duas horas e meia em Blumenau, levaria quase dois meses para aferir correndo atrás do caminhão em Cascavel.

32 KM, TODO DIA

O “treino” deste atleta admirável começa cedo. Exatamente às 5 da manhã ele parte atrás do caminhão da Ambiental, empresa que deu todo o suporte para a carreira de Ademir no atletismo. Ali, no expediente, corre 20 km em média por dia. Encerrada a correria da coleta, o atleta parte para um treino de mais 12 km. “Ele é uma inspiração para toda nossa equipe, trabalhador dedicado, humilde, um exemplo a ser seguido”, diz Olides Berticelli, da Ambiental, incentivador do campeão.

Nenhum frase, no entanto, parece fazer mais sentido para Ademir Ramos, o gari campeão, que um texto extraído do portal da Maratona de Blumenau: “Somos o que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um ato, mas um hábito”.

De fato, ganhar a vida correndo repetidamente, é o hábito do campeão cascavelense para para levar o pão à família, e também para levantar taças improváveis em grandes maratonas país afora. Ademir é cobra de Cascavel!

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De volta ao PSDB, Edgar mira o tetra

Ex-prefeito organizou ato para marcar retorno ao ninho; ação é vista como rompimento de um cerco

Ex-deputado André Bueno e Edgar no ato de filiação ao PSDB: marcação alta não freou o ímpeto do ex-prefeito

Eleição começa muito antes da campanha eleitoral. E faz lembrar a “marcação alta” estabelecida no futebol moderno, quando os atacantes pressionam a saída de bola lá na área do adversário.

Reduzir o espaço para movimentação do adversário é regra de ouro na política desde sempre. Algozes de Edgar Bueno fizeram pressão nos caciques das principais siglas, para isolá-lo no processo.

O furo ao cerco se deu quando o ex-governador Beto Richa assegurou um quinhão no ninho tucano para receber o ex-prefeito.

O PSDB não é mais nem sombra do que foi no passado, quando rivalizava com o PT nas disputas presidenciais e ostentava vistosa bancada no Congresso.

Mas ainda é uma sigla de porte médio capaz de assegurar uma estrutura mínima para seus candidatos. A filiação de Edgar ao PSDB, no último dia 22, além da presença de Richa, trouxe até o parque que sedia a Expovel o presidente nacional da sigla, Marconi Perillo.

É como dizer: “Nem tentem subtrair a sigla, temos a chancela de quem manda na tucanada”.

BICADA NO TETRA

A ordem foi invertida e Perillo, ex-governador de Goiás, discursou primeiro. Ele tinha um casório para comparecer em São Paulo e precisava partir. “Vamos vencer em Cascavel no 1º turno”, disse entusiasmado.

Já a fala de Edgar foi mais cautelosa. Evitou críticas a Paranhos (as cutucadas ficaram por conta do ex-vice prefeito, Maurício Theodoro).

“Não vou para igreja pedir mais nada, vou só para agradecer”, disse o prefeito em três mandatos, agora dotado de um bico comprido e penagens coloridas mobilizados na tentativa de bicar o tetra.

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“Não sou bonzinho”

Em entrevista a Olga Bongiovanni, homem da fábrica de prédios oferece fortuna para voltar aos 35 anos de idade

Simeão ri à toa no estúdio com Olga: “Sou bem humorado, nunca fui dormir triste na vida”

Os números povoam a mente do cara da fábrica de prédios. Alguns surgem aleatórios, em cálculos que vêm à cabeça de forma intuitiva, dispensando a chancela de artigo científico publicado em universidade norte-americana. É o caso destes aqui:

“Em cada mil pessoas, nasce uma com o espírito animal do capitalismo. É pouca gente. Ainda bem. O planeta agradece. Se houvesse mais empresários dotados desse espírito, já estaríamos na 6ª guerra mundial”, disse Francisco Simeão na ante-sala do estúdio da CBN Cascavel, no último dia 16 de março.

Ele próprio se admite imbuído do “animal spirits”. E alerta para os riscos. “Nós, empresários, somos predadores. Precisamos ser contidos em nossos instintos, e a melhor forma é assumir compromissos com a sociedade, aprendendo a pensar nos outros, em especial nas crianças”.

Ainda na prosa informal, Simeão disse que visa o lucro, “por ser uma obrigação do empresário gerar”, e que remunera seus colaboradores por produtividade. “Não sou bonzinho”, enfatiza sempre.

CHICO RICO

Já dentro do estúdio para a entrevista com a apresentadora Olga Bongiovanni, ele foi questionado sobre o termo “Chico Rico”, com o qual era nominado pelo então governador Roberto Requião. O empresário limitou-se a rir e desconversar. A propósito, a piada tá pronta: rico ri à toa. E Chico Rico ri muito.

“Tenho 76 anos. Sou bem humorado, nunca dormi triste na minha vida, nunca tive depressão, quero mais 30 anos de vida, preciso ter mais 30 anos, estou planejado para isso. Eu daria 90% da minha fortuna para voltar aos 35 anos de idade”, disse.

Glossário
“ESPÍRITO ANIMAL”
O termo “animal spirits”, cuja tradução livre para o português é “espíritos animais”, foi inaugurado pelo economista inglês John Maynard Keynes, durante a Grande Depressão, no final da década de 1920. Os “espíritos animais” são na verdade estados de ânimo dos investidores, o que os índices de confiança dos empresários justamente tentam mensurar.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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