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Byd chegou, e não é a Chana

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Movida por “centelha da novidade”, maior fabricante de elétricos do planeta estaciona (sem barulho nem fumaça) no alto da Avenida Brasil

1º dia de março de 2011 – Retratada na capa do Pitoco, uma marca chinesa de automóveis, a Chana, instalava sua concessionária em Cascavel com a promessa de vender veículos padrão Honda Fit “completão” pelo preço de “Celta pelado”.

A primeira incursão chinesa não deu muito certo, como não havia dado também a iniciativa anterior, da “soviética” Lada, montadora russa de carros bem feinhos instalada na Tancredo Neves com rua Rio Grande do Sul no final dos anos 1990.

A Chana, cujo nome permite outras interpretações no vocabulário chulo, acabou contribuindo para criar um estigma sobre as marcas chinesas. 13 anos depois, os chineses estão de volta. Mas ninguém mais faz piada com suas marcas.

A maior delas chegou a Cascavel essa semana, e já mostra diferenças marcantes pelo nome: Build Your Dreams – Construa seus sonhos, em tradução literal. A chinesa BYD constroi muito. Ultrapassou a Volks na liderança do maior mercado do planeta, a China, produziu e vendeu mais elétricos que a Tesla no último trimestre do ano passado e já aparece no TOP 10 das maiores do mundo, a frente da Mercedes, Fiat e GM.

Sonhar grande ou pequeno dá o mesmo trabalho, já dizia aquele coach na palestra motivacional logo após estacionar seu GM Corsa. Então a BYD sonha grande. Pretende ser a maior do Brasil em cinco anos, impulsionada pela fábrica na Bahia.

Para tanto, precisa de parceiros sólidos. No Paraná, a marca escolheu a Servopa, rede que completa 70 anos em 2025. Empresários de Cascavel tentaram obter a marca para revenda, mas a tradição e longevidade falou mais alto. Nos anos 1950/60 a Servopa oferecia fuscas e kombis. Sete décadas depois vende também BYD Dolphin, o elétrico fenômeno do Brasil, que compete em preço com os motores fósseis, embora entregue mais tecnologia embarcada. É o elétrico mais vendido do Brasil.

Se levado a termo o plano de expansão, a Servopa terá 11 concessionárias BYD no Paraná nos próximos meses. Para efeito de comparação, na rede Servopa, o número é maior que a primeira marca representada pela concessionária no Paraná, a Volks. Cascavel entrou na lista de prospecção e recebe sua loja no alto da Avenida Brasil após Curitiba, Londrina e Maringá.

Por que aqui?

“Cruzamos algumas informações socio-econômicas para chegar a Cascavel”, disse o gestor da marca na Servopa, Danilo Maia, homem com 30 anos de “janela” no segmento. “Todas as principais marcas estão em Cascavel ou chegando. Analisamos dimensão da frota, o PIB da cidade, média de emplacamentos e incluímos a Cascavel no plano de expansão com a certeza que estamos no lugar certo”, disse Maia.

Ele próprio foi surpreendido quando a Servopa o escalou para gerir a BYD, em em 2022. “Me considero bem informado na área que atuo, mas confesso que nem eu, e quase ninguém conhecia a marca. Então fomos olhar o carro mais de perto, muito bem construído, tecnológico, marketing robusto. Um ano depois, já estamos entre a quatro marcas melhor posicionadas em participação de mercado em Curitiba”, disse. O segredo da vendagem recorde? “É a centelha da novidade”, resume Maia.

Canetada no Iguaçu

A notícia ruim para os importados chineses chegou quase em segredo no início deste ano. O Palácio Iguaçu, em uma canetada, acabou com a isenção do IPVA para elétricos. Isso que o governador Ratinho Junior havia dito, semanas antes, que manteria.

O Governo do Paraná foi convencido pela secretaria de Finanças, e talvez por algum lubrificado lobby fóssil, que a renúncia fiscal da isenção bateu em R$ 50 milhões em 2023, número que poderia triplicar esse ano. Ainda assim, segundo dados divulgado essa semana pelo Iguaçu, as vendas de elétricos cresceram 123% no Paraná neste primeiro trimestre de 2024.

O Palácio do Planalto também deu uma contribuição para esfriar o apetite chinês, taxando a importação. As barreiras tem razão de ser: montadora nenhuma no planeta consegue acompanhar em tecnologia e preço os veículos da green tech BYD.

Carrega onde ?

Como tudo no Brasil, a transição energética para os veículos elétricos virou debate político polarizado nas bolhas ideológicas idiotizantes. Os haters da indústria da fumaça e do barulho dirão: “Carrega onde o elétrico, vai passear de guincho?”.

Pois é. Quando os primeiros veículos motorizados foram produzidos, no final do século XIX, a versão da época do tiozão do zap disse assim: “vai abastecer onde esses carros a gasolina? Com cavalo a gente não se preocupa, tem capim a vontade!”.

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Arrombaram a janela da Câmara

Sete em cada 10 vereadores voantes trocam de partido; movimento foi intensificado na data fatal de transferência; Desafio do vereador indeciso é responder pergunta difícil: onde será mais fácil renovar o mandato?

De um lado, a liberdade de usar a janela de transferências para trocar de sigla, fator que pode ser colocado no campo positivo. De outro, o intenso troca-troca registrado às vésperas do prazo fatal em Cascavel é uma fotografia do que se tornaram os partidos políticos no Brasil, pelo menos em sua maioria: uma sopa de letrinhas amorfas, desideologizada, alijada de programas que possam assegurar alguma identidade ou coesão.

Algumas siglas são abertamente caça níqueis, embora essa expressão possa estar subdimensionada. As malas de dinheiro público (fundão) ou de origem duvidosa campeiam em Brasília e Curitiba, ao sabor das conveniências, pululando de gaveta em gaveta dos donos das siglas. Não é possível afirmar que as trocas na Câmara de Cascavel tenham sofrido tais influências, mas é seguro dizer que nunca os vínculos partidários foram tão frágeis também por aqui.

Dos 21 vereadores de Cascavel, apenas seis, a professora Lilian (PT), Edson Souza, Josué e Josia (MDB), Beth Leal e Xavier (Republicanos) não trocaram de sigla ao longo do mandato. Todos os demais, 70% dos eleitos, pularam de galho em galho, como em um samba do crioulo doido. Partidos que inexistiam na Câmara, como o PP, passou a ostentar uma bancada de quatro parlamentares.

O Republicanos também ganhou musculatura, com quatro vereadores. Já o Podemos, outrora maior bancada, obteve uma adesão no último minuto do segundo tempo: Cidão da Telepar, mas perdeu ao longo da legislatura nada menos que cinco vereadores. A novidade é o Novo, sigla que nunca lançou candidatos em eleições municipais, agora com um chapa completa, incluindo o empresário Rondinelle Batista e o bolsonarista raiz, Thiago Kozak.

Prefeitos

Se adesão de vereador soma voto para candidato a prefeito, Renato Silva sai na frente. As siglas que o grupo dele controla atraíram dez vereadores, esperava-se mais, já que a base de Paranhos na Câmara chegou a ter 18 parlamentares.

O PP de Pacheco atraiu quatro vereadores, um deles, Romulo Quintino, poderá ser o vice do “Xerife”. Mantovani também tem quatro, mas infiltrou pelo menos mais dois em outras siglas e sua área de abrangência pode ser ampliar.

Edgar Bueno não tem vereador com mandato na chapa do PSDB, mas poderá angariar dois, caso o União Brasil venha para a composição.

Prá onde vou?

Vereadores que trocam de partido não são vilões nem mocinhos. Eles fazem milhões de cálculos antes de escolher em qual barco pular. Antes de tudo, viceja ali uma lei que sobrepõe a todas as demais, a lei da sobrevivência política, marcada por cálculos racionais ou intuitivos, sempre na missão inglória de responder uma pergunta: “onde vai precisar menos votos? Em qual sigla será mais fácil eleger-se?

Em tempo: Esperava-se mais gente na pista, mas apenas cinco secretários deixaram a Prefeitura na data fatal: Ney Haveroth, Hudson Moreschi, Vinicius Boza, Walter Parcianello e Misael Junior, este último, pulou do barco paranhista para a barcaça do PP, prestando continência para o Xerife, que não é o candidato do Paço.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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