Silvana Nardello Nasihgil
Não seja vítima do próprio existir
E lá vamos nós. Caminhamos nessa vida sem entender que somos responsáveis pela grande maioria dos tombos que tomamos. Na grande maioria das vezes, esses tombos são reflexos da falta de atenção e cuidado com a própria vida. Então, por falta de responsabilidade emocional, de coragem ou preguiça tendemos a buscar um culpado para tudo, desde que a culpa não seja nossa.
Seria tão mais fácil se nos responsabilizássemos pelas bagunças que nos permitimos viver, pelas idiotices que experimentamos, pela falta de projetos consistentes e pela falta de coragem de assumir a própria vida e as suas dificuldades.
Seria imensamente mais fácil viver em todos os sentidos se tomássemos a condução das nossas vidas, se tivéssemos a consciência que tudo o que acontece é resposta das nossas atitudes ou das atitudes que permitimos os outros tomarem por nós.
Ser vítima do próprio existir só atrasa o processo de crescimento, trava as relações com os outros e consigo, embaça o futuro e nos torna reféns de histórias angustiantes. Então, seguiremos sem ter noção para onde ir. Alguém nos guiará a seu modo e isso será uma sementeira de sentimentos inconsistentes, tornando-nos prisioneiros de uma vida infeliz.
Quem quer uma vida plena precisa saber que se faz necessário se responsabilizar por si, parar de depender dos outros, quer física ou emocionalmente, e tomar as rédeas da própria história.
Nada pode existir que justifique pessoas que ancoram a vida em seus pares, sufocando e buscando beber da sua essência para sobreviver. Isso tornará o outro alguém que viverá a sensação de precisar puxar o mundo para satisfazer as necessidades do dependente, um “escravo” exigido o tempo todo com a responsabilidade de fazer o outro feliz.
A felicidade começa dentro de cada um, da consciência de si, do autoconhecimento, dos seus projetos pessoais e da responsabilidade emocional. Enquanto isso não tem forma definida, não dá para convencer alguém a entrar numa bagunça para só depois pensar o que fazer com isso.
Diante da inconsistência da grande maioria das relações, se cada um observar a sua sem precisar olhar a dos outros conseguirá identificar atitudes que estão travando tanto a parte física como a emocional e criando mais desavenças do que equilíbrio.
Feito isso, seria prudente identificar e tomar para si os descompassos, aqueles dos quais somos protagonistas, processar as nossas falhas, buscar uma conversa franca, falar sobre expectativas, sobre os sonhos, identificar fantasias, birras, buscar compreender o outro, as suas dificuldades, o que o outro tem e pode dar, o que o outro também espera de nós. Quando fazemos isso, nos tornamos alguém que realmente quer a continuidade da relação, que com maturidade se coloca no lugar do outro.
Só assim será possível compreender que as pessoas precisam de reciprocidade para seguir lado a lado.
As pessoas precisam estar resolvidas consigo para só então se permitirem convidar alguém para caminhar ao seu lado.
Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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