Fale com a gente

Silvana Nardello Nasihgil

Repense a vida de dentro para fora

Publicado

em

Viver é uma arte, a arte de compreender que cada dia é cheio de possibilidades de viver intensamente os detalhes do nosso existir, fazendo deles capítulos da nossa história e escolhendo a melhor maneira de contabilizar os nossos dias.

Para tanto, se faz necessário que se compreenda que cada pessoa é um ser inteiro, com todas as possibilidades de construir a vida de modo a observar como extrair o melhor de si.

Existem tantas pessoas que por não se olhar, não saber nada de si, por não observar a possibilidade de mudar caminhos, de fazer escolhas, não conseguem compreender que muito do sofrimento vivido vem da falta de atenção naquilo que vive de modo automático, enquanto esperam por milagres.

O significar da vida não pode estar entre o ser feliz por ter um par e a desgraça de estar só. Quando o sofrimento vem daquilo que permitimos que o outro faz ou deixa de fazer por nós, estamos dando a ele/ela o direito de conduzir o nosso bem-estar e a nossa felicidade. Enquanto vivemos buscando no outro(a) alimentar as borboletas do estômago que giram sem rumo causando desconforto, estamos deixando morrer de inanição as borboletas da vida, aquelas que vêm das outras centenas de coisas positivas que a vida insiste em nos presentear.

Muitos e muitas vivem presos em fantasias, num imaginário cegante, com poder de obstruir a beleza das coisas que fluem ao seu redor. Quantas mães esquecem seus filhos enquanto buscam viver a fantasia de se sentir desejadas, quantos pais abandonam seus lares em busca de aventuras, quantos filhos não enxergam mais seus pais com a desculpa de irem atrás do futuro e quantos amigos no tanto faz subestimam o direto do outro ir embora por falta de reciprocidade.

Quanta gente vive tudo isso e muito mais perdendo o melhor da vida enquanto busca alguém que lhe complete, alguém que acenda dentro de si as chamas que já estão lá e que por falta de amor próprio estão se apagando.

Quanta gente vivendo do imaginário enquanto a realidade vai escapando pelas frestas da vida deixadas na falta de interesse em se construir primeiro.

São atitudes assim que cegam a busca por si, destruindo, muitas vezes, tudo o que está ao redor, enquanto se busca nas fantasias de que só o outro pode trazer equilíbrio e completude. E assim se vai deixando pelo caminho a essência e tudo o que existe de melhor, se perdendo numa busca externa por aquilo que mora dentro de cada um.

A vida precisa ser repensada de dentro para fora, precisa ser estruturada no autoconhecimento, porque não será possível, de modo algum, encontrar o equilíbrio quando creditamos ao outro o direito de ser o centro da felicidade e de fazer escolhas por nós.

Cada um precisa aprender a se construir, se empenhar, se permitir, arriscar e buscar os caminhos que compreender mais adequados, olhando para dentro de si, e crescer… até sentir-se inteiro(a).

Porque pessoas inteiras dão conta da própria vida e só aceitam quem sabe caminhar ao seu lado. Somam com o outro e nunca se permitirão ser tratadas como alguém que lhe falta uma metade.

Pessoas inteiras sabem o que querem, sabem que quando a vida aperta precisam de ajuda e pedem sem medo, porque pessoas inteiras também têm dúvidas, angústias e medos.

Pessoas inteiras conquistam espaços e só ficam quando são bem-vindas; pessoas inteiras aprendem a ser sozinhas e se sentem confortáveis com isso; pessoas inteiras quando permitem (sim, elas permitem) que alguém faça parte da sua vida é por uma escolha consciente e não para aplacar a solidão; pessoas inteiras entendem os limites do outro e respeitam; pessoas inteiras nunca param de adicionar mais conhecimento de si; pessoas inteiras alimentam o seu interior; pessoas inteiras estarão na vida dos outros porque os amam e nunca pensarão em amar porque precisam para suprir a sua incompletude, simplesmente porque não se sentem metade de nada.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente