Fale com a gente

Marechal Preocupação

“Desafio Momo” pode causar danos psíquicos nas crianças, alerta psicóloga rondonense

Publicado

em

Psicóloga Katiucia de Oliveira Peres: “O grande problema social do momento é algo que a falta de tempo faz. Parecemos estar sempre atrasados, correndo, porém são crianças, e essas crianças precisam da nossa atenção, do nosso olhar e uma palavra de carinho” (Foto: O Presente)

A Momo está de volta!

Em agosto do ano passado, muita gente conheceu a aparência da temida boneca: rosto pálido, cadavérico e com traços femininos, olhos esbugalhados, sorriso assustador, cabelos pretos e corpo de pássaro. A figura surgiu em inúmeros perfis de WhatsApp com supostas previsões assustadoras. Agora, de acordo com relatos na internet, a boneca teria ressurgido em vídeos infantis populares na plataforma do YouTube, interrompendo as imagens e instruindo os pequenos a cometerem atos de automutilação e suicídio.

A psicóloga clínica Katiucia de Oliveira Peres, especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial e mestre em Educação, explica que as crianças são um público-alvo “fácil”, além de possuírem dificuldade em saber diferenciar os limites de determinados conteúdos. “Precisamos cuidar não apenas com a internet, mas qualquer tela que a criança fique muito presa, tanto televisão, tablet, computador ou celular, porque ela corre o risco de ser super estimulada pelo próprio efeito que a tela causa. Isso está se apresentando tanto nas salas de aula quanto nos consultórios”, expõe, exemplificando: “Crianças que perdem a atenção com facilidade e que não conseguem manter a concentração. Desta forma, perdemos não somente a aprendizagem das crianças, mas também o desenvolvimento”.

Ela alerta que o “Desafio Momo” pode causar danos psíquicos nas crianças. “Elas podem apresentar medo e se isso não for trabalhado corretamente tanto em casa quanto na escola, ou até mesmo com um psicólogo, pode deixar consequências gravíssimas”, enaltece, mencionando situações na hora do sono, insegurança da criança com ela mesma e o reflexo na aprendizagem.

A profissional ressalta a importância de os pais conversarem com os filhos e orientá-los. O ideal, segundo ela, é falar abertamente sobre a situação. “Se for o caso, devem até mesmo mostrar a boneca Momo para as crianças estarem espertas quando virem algo igual. Ela tem uma imagem que dá medo e aterroriza as crianças, por isso é importante orientá-las a pedirem ajuda quando a virem, além de esclarecer que a boneca não vai sair do armário para atacá-las e enaltecer que o que veem na internet nem sempre e confiável e real”, frisa.

Katiucia acredita que, além das famílias, o espaço escolar precisa oferecer constantemente ensinamentos e exemplos de como os alunos devem fazer uso da internet. “Se os pais conseguirem manter um diálogo com seus filhos e orientá-los, as crianças sempre se sentirão seguras para buscá-los, independente de qual for o assunto. Isso também serve para professores e psicólogos que atendem crianças, porque se elas sentirem confiança com esses adultos poderão conversar sobre qualquer problema e assim estaremos evoluindo, trazendo crianças com menos danos e assim, consequentemente, um adolescente e adulto”, expõe.

É importante, de acordo com a especialista, que os pais alertem seus filhos sobre possíveis interrupções nos vídeos ou jogos. “A recomendação de não falar com estranhos, não aceitar bala de desconhecidos, vale também para a internet. Os filhos têm de saber que não podem dar dados, não podem falar com quem não conhecem”, orienta, exemplificando que hoje esses estranhos estão oferecendo chantagens pela internet. “O mundo vai evoluindo, a tecnologia crescendo, porém a maldade de algumas pessoas sempre está presente”.

Ela ressalta que o acesso das crianças à tecnologia precisa ser monitorado. “Alguém fez essa conta para a criança, alguém permitiu que ela tivesse e-mail, pudesse estar na rede. Em alguns casos, a criança tem mais medo da bronca que vai levar do que daquilo que vê e não entende”, menciona.

A figura da Momo, conforme a psicóloga, pode ser danosa pois a criança não tem maturidade para distinguir o que é real do que não é. “A criança fica com certo receio e não consegue diferenciar o que é realidade e o que é algo realizado pelas pessoas com maldade, por isso que elas são tão afetadas”, enaltece. “Ela (criança) ainda não tem esse discernimento de conseguir entender o que pode ou não acontecer, então quando aparece uma imagem dessas ameaçando a sua família ou a sua própria vida ela tem que se resguardar e entender que está agindo assim para proteger a sua família e não por maldade”, complementa.

Katiucia alerta também que muitos dos que são vítimas desses “incentivos” virtuais para atentar contra a própria vida, como o Desafio Momo ou o Baleia Azul, estão, no fundo, pedindo atenção. “Podem estar acontecendo coisas à parte. Às vezes essa criança está sendo ameaçada por colegas, sofrendo bullying ou uma violência, e elas vão representar isso no próprio comportamento no dia a dia”, salienta.

 

Prevenção

Outro ponto observado pela psicóloga é o fato de novos desafios semelhantes ao da boneca Momo surgirem com o passar do tempo. “Por isso ressalto que é importante os pais conversarem com seus filhos e ficarem de olho em tudo que assistem. Deixar claro o que eles podem assistir, determinar horários e lugar onde a criança poderá ter acesso à internet, limitando também esse acesso, porque se hoje em dia não forem bloqueados alguns sites, até mesmo por vírus ou ações de hackers, aparecem imagens que as crianças não podem acessar”, enfatiza.

Katiucia chama atenção para o fato de o celular não poder suprir a ausência dos pais. “O que as crianças querem é atenção, carinho e amor. É muito importante que as crianças saibam que são importantes naquela família, escutarem que são amadas, porque isso também é uma forma de a gente proteger nossas crianças. Elas são nosso futuro e todo cuidado que tivermos é pouco. Amar, acalentar e dar atenção às vezes é muito mais importante do que dar um presente, brinquedo ou deixar a criança mexer no celular”, evidencia.

A especialista lembra que fazer alguma atividade com os pais sem ter a tecnologia junto, desde um desenho até uma volta bicicleta, vai deixar memórias para as crianças muito mais intensas do que somente estar atrás de uma tela de celular.

 

Diálogo como solução

O diálogo, mais uma vez, se impõe como uma das armas de combate aos desafios virtuais. “Com o diálogo a criança sabe a quem ela pode recorrer. Claro que o carinho e atenção são muito importantes, mas, se tiver o diálogo, a criança vai conseguir chegar para os pais e falar que não está se sentindo bem com tal situação. Vai conseguir se abrir sobre determinados assuntos, sejam eles de grande ou pequeno impacto”, ressalta a psicóloga, acrescentando que o que para os adultos às vezes pode ser uma gotinha d’água, mas para a criança pode ser um tsunami. “Se ela aprender desde pequena o diálogo, confiança e carinho ela vai conseguir sobreviver a essas situações”, amplia.

 

Problema social

O que de fato está afetando crianças e adolescentes? Para Katiucia, não é porque uma boneca falou para cortar os pulsos que uma criança vai fazer isso. “Com algumas crianças pode ser que isso aconteça, mas porque elas estão mais fragilizadas e afetadas com situações que acontecem no dia a dia, porém não são percebidas”, salienta.

Essas situações podem ser bullying, violência ou até uma simples dificuldade de aprendizagem, fazendo com que a criança alimentem uma autocrítica e um sentimento de inferioridade.

 

Medo e proteção

Especialista no atendimento infantil e adolescente, Katiucia enaltece que crianças que já fizeram algo por influência do vídeo o fizeram por medo. “Elas obedecem por medo e porque são ameaçadas pela imagem da boneca, que diz que, caso não cumpram, ela irá matar seus pais e irmãos”, aponta.

Com base em seus atendimentos, ela percebe que quando crianças obedecem algo do gênero é porque estão tentando proteger alguém que elas amam. “Nesta semana, inclusive, recebi uma mãe preocupada com a disseminação de notícias sobre a boneca Momo, principalmente pelo fato de os dois filhos afirmarem ter visto a imagem através de vídeos. Ela me procurou para saber o que fazer nesse momento”, diz.

 

Fragilidade social

A grande fragilidade do atual momento histórico e social, conforme Katiucia, é o contato físico, o estar presente na vida das crianças e adolescentes. “Eles precisam saber que têm com quem contar e para onde voltar. Acho que esse é o grande problema social do momento e é algo que a falta de tempo faz. Parecemos estar sempre atrasados, correndo, porém são crianças, e essas crianças precisam da nossa atenção, do nosso olhar e uma palavra de carinho”, conclui a psicóloga.

 

O Presente

Copyright © 2017 O Presente