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Política Eleições 2022

“Tudo indica que devemos caminhar para dois turnos”, avalia Gustavo Fruet

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Deputado federal Gustavo Fruet (PDT) em visita ao Jornal O Presente (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Deputado federal do PDT analisa que este cenário deve ocorrer tanto na eleição presidencial como na escolha do próximo governador do Paraná

O Supremo Tribunal Federal (STF) referendou, na quarta-feira (09), liminar concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI). Na liminar, o ministro não viu inconstitucionalidade no modelo que permite a diferentes legendas se aglutinarem em federações, mas definiu que, no caso das eleições de 2022, o registro destas federações poderá ser feito até 31 de maio no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Antes, o prazo era 02 de abril – seis meses antes do pleito.

Em visita ao Jornal O Presente, ontem (10), o deputado federal Gustavo Fruet (PDT) relatou que seu partido tem conversado com outras siglas sobre a formação de uma federação e ressaltou que essas negociações têm um impacto nos Estados e até mesmo nos municípios, pois ainda terão vigência na campanha de 2024.

O parlamentar comentou sobre o cenário nacional e frisou que o PDT do Paraná está focado, em 2022, em formar chapas viáveis de candidatos a deputado estadual e federal. Confira.

O Presente (OP): Nesta semana houve a confirmação de que os partidos poderão formar federações. O PDT negocia algo neste sentido?
Gustavo Fruet (GF): Sim, está conversando com vários partidos. Para alguns já formalizou isso, como é o caso do Cidadania, que está em processo de discussão, e tem conversado com o PSD do Gilberto Kassab. O Ciro Gomes (pré-candidato à Presidência pelo PDT) esteve com o Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro, e amanhã (hoje, 11) se reúne com Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte. É interessante observar que, primeiro, o Congresso aprovou a federação em função do fim das coligações. A ideia da federação é estabelecer o partido único com duração de quatro anos, inclusive com impacto para as eleições municipais de 2024. Estabeleceu prazo para que as federações sejam criadas até seis meses antes da eleição, ou seja, até 02 de abril – mesmo prazo para o fim da janela partidária. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou e o Supremo referendou a federação, mas mudou a data, passando para 31 de maio. Quando forem formadas as federações não haverá mais possibilidade de mudança partidária. Isso vai ter um impacto novo neste prazo final, pois em cada Estado há uma realidade diferente, arranjos locais. O fundamental é que isso permite que alguns partidos sobrevivam, principalmente os pequenos em função da cláusula de barreira, e vai permitir uma formação de amplas alianças nacionais em torno do projeto presidencial. É o que estamos vendo com o movimento do União Brasil, entre PSL e Democratas, o PSB com o PT, verificar como se dará o movimento do PSDB, se com o Cidadania ou MDB, e, no nosso caso, como se dará o movimento do PDT. Porém, mesmo que estes partidos que têm projetos competitivos para as eleições não formem federação, poderá haver nas convenções, em agosto, coligação entre o partido e uma federação. É um cenário que mostra, saindo um pouco da eleição imediata, instabilidade do nosso modelo. É um cenário em aberto, porque a eleição indica que terá dois turnos, hoje polarizado, mas com possibilidade de crescimento de candidaturas.

OP: O PDT tem como pré-candidato Ciro Gomes. Ele abriria mão para a formação de uma federação partidária?
GF: Não. Fazendo, primeiramente, uma análise eleitoral, é claro que neste momento polarizou e está difícil romper a barreira entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). É um processo. A nove meses da última eleição, o Bolsonaro praticamente não era considerado candidato competitivo sequer no primeiro turno, mas virou presidente da República. Então há uma dinâmica que vai se estabelecer, principalmente depois de agosto. Por mais que a gente tente antecipar, a maioria da população está acompanhando, mas não tem por que definir seu voto agora. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o Ciro está em um projeto de consolidação da candidatura há muito tempo. Não só pelo fato de já ter disputado a eleição, mas tem viajado o Brasil, tem proposto temas, gostando ou não é o único candidato que tem apresentado um diagnóstico, muito dolorido às vezes da realidade brasileira, em diferentes áreas, em especial na economia, e tem apresentado alternativas, como no enfrentamento da questão da desindustrialização, crescimento econômico, relação internacional, relação com o Banco Central, do perfil do Ministério da Economia e, claro, na área social, o que fazer na educação, saúde, geração de emprego e políticas públicas de assistência e inclusão. Não se descarta um processo desse sem um custo, então isso não se cogita. Houve um ataque especulativo, e é natural, com relação à permanência da candidatura dele em função dos índices em pesquisa, mas o Ciro se constitui em uma alternativa muito importante neste momento de extremismos. E não falo nem radicalização, mas extremismos. Estamos reféns da seguinte forma: vota no candidato Lula porque tem rejeição com Bolsonaro; vota no Bolsonaro por rejeição ao Lula. Estamos deixando de discutir alternativas para o futuro do Brasil.

OP: Como o senhor acha que será essa eleição diante desta situação de extremismos?
GF: Acho que não é uma realidade só brasileira, mas a gente vê isso em vários países, como nos Estados Unidos, Chile, na Argentina. Ficaremos neste embate por um bom tempo no Brasil e lamento que chegamos neste ponto. É um sentimento de descrença com a política nacional, com políticos tradicionais, com posturas conciliadoras e há um protagonismo de confronto, de conflito, que às vezes é necessário, pois é um fator de estímulo em busca de solução, mas diminuímos demais esse conflito e chegou a temas pessoais, questões morais, que são muito da formação pessoal e não da vida política. Isso vai dividindo a sociedade, formando grupos, e as pessoas vão se afastando.

OP: Diante dos nomes que se apresentaram como pré-candidatos à Presidência, o senhor acha inevitável que um eventual segundo turno seja disputado entre Bolsonaro e Lula?
GF: Não, inevitável não é. No caso do Bolsonaro, ele tem uma base muito sólida, mas tem o bolsonarista desiludido. Para onde vai esse eleitor? Estamos falando de 30% a 40% do eleitorado. Isso, evidentemente, define o primeiro turno e pode definir uma eleição. Parte desse voto foi para o Lula, é antagonismo, o contraponto, o voto de protesto, mas parte está solto. Vários candidatos estão tentando buscar esse eleitor e aquele que votou em branco ou se absteve na última eleição. É natural entender que tanto Lula quanto Bolsonaro vão ser objeto de muito questionamento e esse enfrentamento já começou. O Ciro é um dos poucos que está fazendo isso, por vezes gera um desgaste a ele, mas está na postura correta.

OP: Nos Estados os partidos estão aguardando as decisões dos diretórios nacionais sobre as federações para saber que rumo tomar. Mesmo assim, qual deve ser o caminho do PDT no Paraná?
GF: Tradicionalmente, o PDT sempre se constituiu como uma força na Capital. Falo isso com carinho e respeito a toda organização no Estado, mas partido para ter efetivo protagonismo precisa ter força eleitoral. Conseguimos eleger deputado estadual na Capital, deputado federal, vereador, prefeitura, mas isso não se repetiu em outras regiões do Estado. O PDT tem uma bela história, tem um projeto nacional da maior importância, mas ainda não construiu efetivamente um projeto de disputa de poder no Paraná. Essa é uma questão que tenho me dedicado muito no último ano. Há um espaço a ser ocupado, porque, sem nenhuma provocação ou desrespeito à figura do governador (Ratinho Junior, PSD), mas qual a grande marca do Governo do Paraná? Qual a identidade do governador? Para quem ele trabalha? Qual o projeto de desenvolvimento que quer deixar para o futuro do Estado? É claro que queremos um governo que garanta o equilíbrio e manutenção das contas públicas, bem como a qualidade do Estado, mas qual será o legado? O pedágio? A licitação do ferry boat no litoral que virou assunto nacional? A paralisação da segurança pública por falta de efetivo? Qual a identidade? A vantagem dele é que não há nenhuma polêmica, não há nenhuma crise instalada, mas à medida que a eleição vai chegando os agentes políticos vão percebendo esse vazio e setores pensantes também começam a ver que não está ficando nada de efetivo. Tudo indica que devemos caminhar para dois turnos no Paraná também.  

OP: Mas e o PDT?
GF: O PDT tem um desafio que é básico: primeiro é ter uma chapa de deputado estadual. Hoje temos dois deputados e queremos ampliar a bancada na Assembleia Legislativa.

OP: E vai conseguir?
GF: Esse é o desafio. A bancada estadual tende a ampliar. Na bancada federal somente eu sou eleito, na última eleição por conta da coligação. Estou trabalhando para aumentar a votação, mas preciso que haja uma chapa que dispute. A prioridade que defendo no PDT hoje é candidatura a deputado estadual e deputado federal. Para majoritária, após essa eleição, vamos entrar com toda determinação, dependendo das federações e alianças possíveis, para ter protagonismo na eleição majoritária, principalmente na eleição ao Senado.

OP: Há possibilidade do senhor sair do PDT, tendo em vista a dificuldade em formar uma chapa proporcional competitiva?
GF: Quem acompanha a política do Paraná percebe esse movimento.

OP: Teremos a abertura da janela partidária mês que vem…
GF: E o movimento é assim: quem vai entrar no PDT? De que forma vai se dar isso? Como aprendi com o ex-presidente José Sarney: cada dia com sua agonia. Não estou trabalhando com esse cenário e acho possível ampliar alianças. Fato é que trata-se de uma preocupação, dependendo de como se der a aliança nacional e qual o impacto terá no Paraná.

OP: Quem o PDT deve apoiar na eleição?
GF: Não tem nome hoje e não tem definição de candidatura ao governo (estadual).

Deputado federal Gustavo Fruet (PDT): “A prioridade que defendo no PDT hoje é candidatura a deputado estadual e deputado federal” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Maria Cristina Kunzler/O Presente

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