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Elio Migliorança

MERGULHO NA HISTÓRIA

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A sociedade transforma-se de forma vertiginosa e parte do conhecimento adquirido dos antepassados e passado de pai para filho por muitas gerações corre o risco de perder-se no meio da sociedade da “obsolescência programada”, em que as coisas são feitas para serem descartadas rapidamente. Há esforços de entidades e governos para resgatar este conhecimento e aplicá-lo na melhoria da qualidade de vida e na prevenção às doenças. Sabemos que os indígenas possuem conhecimentos preciosos na área da saúde, com o uso medicinal das plantas praticando tanto a medicina preventiva quanto a curativa. E, às vezes, surge uma oportunidade única de encontrar alguém que possa surpreender com suas histórias, seu conhecimento aplicado na medicina natural, bem como seu amor pela natureza.

Tive a oportunidade de mergulhar na história do Oeste do Paraná ao conhecer um homem que reúne todas estas qualidades e que é a prova da importância desta medicina natural que ele cultiva, utiliza e transmite a quem estiver interessado em aprender. Foi meio dia de aprendizado ímpar quando o senhor Joel, do Jornal “O Presente”, me apresentou ao senhor Guido Alfredo Rockenbach, que há mais de 50 anos reside em Marechal Cândido Rondon. Já ultrapassou a casa dos 80 anos e possui uma memória invejável, e conhece como poucos a realidade brasileira, fruto das leituras e noticiários que acompanha diariamente. Ouvi-lo é rever a história da região, seus colonizadores e os desafios enfrentados pelos migrantes quando vieram para construir uma nova história na região. Um sonho antigo herdado do pai, que tinha um viveiro para produzir mudas de árvores frutíferas no Rio Grande do Sul, foi realizado aqui, sendo o primeiro centro de produção de mudas registrado, de toda a região. Na sequência começou também uma produção de laranjas, mas uma guerra declarada pela máfia da produção de laranjas do Estado de São Paulo, que conseguiu convencer as autoridades através de argumentos falsos a destruir os laranjais do Paraná, para erradicar uma doença jamais comprovada, destruiu este projeto. Os laranjais foram arrancados e nunca foi indenizado, episódio que o deixou marcado pela injustiça sofrida.

Com satisfação, mostra um exemplar da antiga revista “O Cruzeiro”, onde teve uma carta publicada, contando a história. Caminhando pelo pomar existente na propriedade, cada planta tem uma história, as frutas saborosas são produzidas a partir de adubação orgânica, arte que conhece como poucos. O ponto forte, sem dúvida, é a aplicação dos diferentes tipos de plantas na prevenção às doenças. Conhece centenas de receitas naturais, algumas delas inclusive para prevenir diversos tipos de câncer. Com disposição, saúde e uma memória invejáveis, seu Guido é um daqueles arquivos preciosos cujas receitas devem ser registradas para que não se percam no túnel do tempo. E assim devemos fazer com todo o conhecimento que temos em nossas regiões, pois a sabedoria dos mais velhos pode ajudar a encontrar muitos caminhos para a cura de doenças que hoje ainda matam muitas pessoas. Além da medicina natural, nossos idosos podem nos provar que valores como família, ética, moral, honestidade, respeito ao próximo, trabalho e espiritualidade são valores que fazem bem à sociedade e contribuem para nosso equilíbrio e bem-estar.

 

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

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