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Elio Migliorança

Voltei da terra da magia

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Em setembro de 2024, despedi-me dos leitores dos meus artigos publicados neste jornal para empreender mais uma viagem, cujo destino inicial foi o Marrocos, um país notável que, além de muita história, tem uma riqueza cultural ímpar.

O aprendizado superou todas as minhas expectativas. Foi um mergulho nas profundezas da alma do povo marroquino, um país com milhares de anos de história, tendo passado por muitas guerras, por longos períodos dominados por outros povos, mas que souberam tirar proveito do que aprenderam com os dominadores.

O último período de dominação iniciou em 1912, quando a França invadiu o país e os obrigou a submeterem-se às suas ordens e à sua administração. Foram 44 anos de colonialismo francês. Quando perguntei ao Abdel, nosso guia no Marrocos, sua opinião sobre este período, citando pontos positivos e negativos, achei a resposta muito interessante. Se olharmos as tradições e a nossa cultura árabe, diria que perdemos parte da identidade da nossa raça, porque hoje a língua mais falada é o francês, inclusive fala-se mais francês que árabe em nosso país, disse ele. Contudo, se olharmos do ponto de vista econômico e social, avançamos muito, pois os franceses nos inseriram no comércio mundial, e a infraestrutura aqui implantada gerou um desenvolvimento significativo para o país, trazendo conforto e desenvolvimento para nosso povo.

Aproximadamente 60% do fosfato do mundo está no Marrocos, o que o coloca como o maior exportador mundial deste produto e torna a economia do país muito sólida.

De maioria muçulmana, o país nunca enfrentou maiores contratempos como em outros países árabes, porque no Marrocos esta inserção no mercado mundial facilitou a flexibilização religiosa, tornando-os tolerantes com todas as outras religiões. Há pessoas de todas as religiões morando no Marrocos e todos são respeitados, inclusive há muito respeito e tolerância para o jeito ocidental de se vestir. Claro que há lugares sagrados para os muçulmanos, onde se deve respeitar as determinações para neles entrar, afinal são lugares sagrados e determinadas vestimentas não são permitidas.

Há muito investimento em educação, óbvio que estamos falando de um povo e de um país que possui quatro mil anos de história, portanto conhecem o valor da educação para continuar conquistando novos espaços no contexto mundial.

Também pudemos saborear muitas comidas típicas árabes, com muito cuidado, afinal, para o paladar deles a pimenta é um ingrediente importante e são generosos ao adicioná-la. Para nós, que não temos este hábito, é preciso “pegar leve”, pois a reação do organismo ao excesso de pimenta quase levou alguns dos nossos ao hospital.

Foi coincidência que cinco dias antes da nossa partida para a viagem, a mãe natureza se manifestou e um terremoto destruiu parte de uma região a ser visitada, a região de Marraquexe, e até se pensou em cancelar a viagem, mas no final prevaleceu a vontade da maioria e lá fomos nós.

Para os marroquinos, foi um gesto de solidariedade termos viajado mesmo assim. Segundo eles, a vida devia seguir e o turismo é parte importante da arrecadação do país e assim fica mais fácil para ajudar os que foram atingidos pelo terremoto.

A grande lição que ficou foi que os diferentes podem conviver pacificamente quando há respeito, solidariedade e humanidade, unidos pelo bem comum, afinal, se Deus é Alá ou Jesus Cristo, certo é que todos nós estamos de passagem nesta terra.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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