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Elio Migliorança

É a lei, simples assim

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Se olharmos do ponto de vista produtivo, é de encher os olhos a qualidade, o vigor e a promessa de alta produtividade do milho 2ª safra, neste momento. Mas se olharmos o mercado, o comércio mundial e as previsões para o restante do ano, bate aquela preocupação e desânimo pelo baixo preço praticado no mercado do milho nos últimos meses.

Com a promessa de boa qualidade e alta produtividade, algo que não ocorre há alguns anos, a preocupação é com o preço da saca de milho. Não adianta procurar culpados neste ou no governo passado. O resultado da equação é muito simples: é a lei da oferta e da procura. E contra esta lei, seja ela favorável ou não aos nossos interesses, não há muito que fazer; ela é soberana e regula as transações comerciais.

Num passado recente, nosso milho era vendido a R$ 100 por saco, hoje é comercializado por menos da metade deste valor e com um futuro incerto diante da conjuntura mundial.

É natural que o produtor queira um preço melhor, enquanto o consumidor busca comprar pelo menor valor possível.

A lei da oferta e da procura regula as relações comerciais desde os primórdios da história da humanidade e por mais que a modernidade tenha avançado, esta lei continua dando as cartas.

Em março de 2010 vivemos um fenômeno semelhante. Havíamos colhido uma supersafra de soja, porém os preços praticados no mercado mal cobriam os custos de produção. Neste momento, o que se vê no horizonte é um cenário semelhante. O milho que está no campo aponta para uma safra cheia, e os preços indicam déficit na hora de fechar as contas.

É bom lembrar que no momento em que a safra em andamento foi plantada, os preços praticados no mercado do milho giravam em torno de R$ 77 por saco e foi com base nesta cotação que o produtor pagou os insumos e sementes necessários para o plantio das lavouras. Há ainda um fator agravante. Diante das frustrações das últimas safras, seja por seca ou por geada, as seguradoras saíram do mercado e com isso o agricultor obrigou-se a buscar financiamento no banco para obter a cobertura de um seguro, e com isso gerou mais um custo na produção, o pagamento dos juros pelo custeio realizado.

É uma equação bem complexa e que aflige todos aqueles que têm na agricultura seu único meio de sobrevivência. Alegria de um lado, tristeza do outro. Alegram-se os consumidores porque pagam menos pelo produto, sofre o agricultor que, ao final de muito esforço e preocupação com as intempéries, corre o risco de não conseguir pagar suas contas.

O que fazer diante deste cenário? Há pouco para se fazer, pois esta é a vida de quem tem uma indústria a céu aberto, sujeita aos humores do clima. Porém, como nada na vida é definitivo, este cenário pode mudar a qualquer momento, já que vivemos numa economia global e em poucos dias o cenário, hoje adverso, pode se transformar para um cenário altamente vantajoso.

É a lei, simples assim, caro leitor, lei da oferta e da procura, uma seca ou uma enchente do outro lado do mundo pode fazer a diferença. Manter a calma, não se precipitar e esperar a colheita antes de assumir compromissos que não sejam indispensáveis. A quem sabe esperar, o tempo abre portas.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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